Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cooperativismo

- Publicada em 01 de Julho de 2021 às 15:02

Cooperativismo gaúcho bate recordes e chega a R$ 52,1 bilhões em faturamento

Apesar da estiagem no ano passado e da pandemia, valorização das commodities, como a soja, puxou os resultados

Apesar da estiagem no ano passado e da pandemia, valorização das commodities, como a soja, puxou os resultados


WENDERSON ARAUJO/CNA/DIVULGAÇÃO/JC
Para a economia brasileira, o ano de 2020 foi marcado pelos efeitos nefastos que a pandemia de Covid-19 gerou. A necessidade de isolamento social, as restrições às atividades econômicas, o fechamento de empresas, queda do nível de emprego e renda da população, entre outros fatores, levaram o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro a sofrer um tombo de 4,1% no ano passado. Além disso, no Rio Grande do Sul, a estiagem do verão 2019/2020 gerou uma frustração na safra de grãos, com graves efeitos na economia do Estado.
Para a economia brasileira, o ano de 2020 foi marcado pelos efeitos nefastos que a pandemia de Covid-19 gerou. A necessidade de isolamento social, as restrições às atividades econômicas, o fechamento de empresas, queda do nível de emprego e renda da população, entre outros fatores, levaram o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro a sofrer um tombo de 4,1% no ano passado. Além disso, no Rio Grande do Sul, a estiagem do verão 2019/2020 gerou uma frustração na safra de grãos, com graves efeitos na economia do Estado.
No entanto, enquanto diversos segmentos econômicos registraram perdas, o sistema cooperativo não só conseguiu superar as dificuldades do ano passado como prosperou no período. Em 2020, as 445 cooperativas gaúchas registraram um faturamento recorde de R$ 52,1 bilhões, o que representa aumento de 6,4% em relação ao período anterior. Os números foram divulgados pela Ocergs - Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs).
Segundo o presidente do Sistema Ocergs-Sescoop, Vergilio Perius, o resultado excelente em um ano de dificuldades econômicas é um atestado da resiliência do modelo cooperativo, que consegue crescer mesmo com crises. Nos últimos cinco anos, enquanto o Brasil ainda vem tentando sair (em marcha lenta) da recessão de 2025/2016, as cooperativas gaúchas acumularam um crescimento de 44,25%. Essa tendência de incremento dos resultados deve se manter em 2021. "Esperamos crescer mais 6%. Projetamos fechar o ano com um faturamento de até R$ 55 bilhões", projeta Perius.
O retorno aos associados também apresentou bons resultados. No ano passado, o crescimento registrado nas sobras apuradas foi de 22,5%, atingindo o valor de R$ 2,9 bilhões, o que representa uma expansão de 121,98% nos últimos cinco anos. "Essas sobras, tirando valores que vão para fundos sociais, retornam para os sócios. É praticamente um '13º salário invisível', que contribui para as economias das comunidades onde pertencem", lembra Perius. Em 2020, o número de associados às cooperativas também aumentou, passando de 2,97 milhões para 3,06 milhões.
Além disso, o patrimônio líquido cresceu 17,9% e alcançou R$ 21,2 bilhões, o que, segundo a Ocergs, reflete as boas práticas de gestão nas cooperativas. "Isso mostra que as cooperativas são sólidas para emprestar dinheiro e fazer investimentos", destaca o presidente da entidade. Perius lembra ainda que os ativos do cooperativismo gaúcho tiveram acréscimo de 28,5%, alcançando a marca de R$ 98,2 bilhões.
A Ocergs destaca também a importância do setor para as contas públicas gaúchas. Em 2020, as cooperativas do Rio Grande do Sul geraram R$ 2,1 bilhões de tributos. Desse montante, R$ 1,1 bilhão foram em tributos estaduais, R$ 1 bilhão em federais e R$ 80 milhões em municipais.

Setor de saúde investe no combate ao coronavírus

Hospital em Novo Hamburgo recebeu aporte de R$ 250 milhões

Hospital em Novo Hamburgo recebeu aporte de R$ 250 milhões


/LUCAS WILLERS/DIVULGAÇÃO/JC
Um dos principais responsáveis pelo aumento de postos de trabalho no setor cooperativo em 2020 foi o segmento de saúde, uma área de grande relevância para o setor no Estado. Segundo a Ocergs, cerca de 1,8 milhão de beneficiários de planos de saúde no Rio Grande do Sul são provenientes de cooperativas, o que representa 46% das operadoras do Estado.
O presidente da Ocergs, Vergilio Perius, lembra que, para fazer frente às demandas do combate à pandemia de Covid-19 e ao tratamento dos infectados, as cooperativas de médicos, profissionais de saúde e seus hospitais tiveram que fazer grandes investimentos em contratação de pessoal, além de infraestrutura, equipamentos e materiais, entre outros.
Um exemplo é a Unimed Vale do Sinos. Em 2020, a cooperativa teve que aumentar os leitos de UTI em seu hospital de Novo Hamburgo, além de adquirir novos respiradores. "Transformamos salas de recuperação, salas de endoscopia, blocos cirúrgicos em leitos Covid", lembra o presidente da Unimed Vale do Sinos, Luis Carlos Melo. Para atender a essa maior demanda, também foi preciso aumentar o quadro de colaboradores especializados, inclusive, com três equipes de médicos internistas 24h por dia.
Atualmente, a Unimed Vale dos Sinos conta com 515 médicos cooperados e 1,8 mil colaboradores, que oferecem uma gama de 129 serviços para a comunidade. Segundo Melo, a pandemia também gerou uma maior procura pelos planos de saúde oferecidos pela cooperativa médica nos últimos meses. "Atualmente, contamos com 98,8 mil clientes distribuídos em 11 municípios de atuação", destaca.
Além disso, em plena pandemia, a Unimed Vale do Sinos, entregou um dos maiores investimentos do sistema cooperativo gaúcho dos últimos anos. Em 31 de maio, começou a operar o novo hospital da rede em Novo Hamburgo. O aporte total no empreendimento foi de R$ 250 milhões, incluindo a reforma do hospital atual e a construção de um edifício garagem.
Com o novo hospital, a cooperativa deve gerar 500 novas vagas de empregos. O investimento faz com que a Unimed Vale do Sinos disponibilize sete novas salas cirúrgicas e 204 leitos. "Com esta estrutura, oferecemos um serviço de extrema qualidade para os nossos clientes e acredito que este ponto seja o fator de diferenciação para o crescimento dos resultados", afirma Melo.
 

Agronegócio impulsiona os resultados

Paulo Pires diz que a safra deste ano injetou R$ 50 bilhões na economia

Paulo Pires diz que a safra deste ano injetou R$ 50 bilhões na economia


/NESTOR TIPA JÚNIOR/DIVULGAÇÃO/JC
Cerca de 70% do faturamento das cooperativas gaúchas em 2020 veio do setor agropecuário, onde foi apurada uma receita de R$ 35 bilhões, segundo a Ocergs. O valor representa um aumento de 11,8% em relação ao exercício anterior.
O ganho ocorreu mesmo com o forte impacto da estiagem na produção de grãos no Rio Grande do Sul, com uma queda de 30% na safra do ano passado. Apenas na soja, a redução foi de 43%.

"No início, por causa da seca, estávamos preocupados, achávamos que as cooperativas teriam um recuo no faturamento geral", recorda Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS). No entanto, segundo o dirigente, o aumento dos preços dos produtos agrícolas, impulsionados tanto pelas cotações internacionais como pela valorização cambial do dólar, proporcionaram um crescimento mesmo com a frustração de safra. No fim de 2020, as 31 cooperativas filiadas à FecoAgro/RS registraram um crescimento de 13,3% no faturamento, que alcançou
R$ 25 bilhões, beneficiando seus 173 mil associados.

Uma das cooperativas que registrou ótimos resultados em 2020 é a Cotribá, que teve um faturamento recorde de R$ 1,5 bilhão, 15% superior ao registrado em 2019. "Com todas as dificuldades, ainda assim conseguimos, em 2020, trazer recursos para que o produtor pudesse investir em sua lavoura e comprar seus insumos", destaca o diretor vice-presidente da Cotribá, Enio Cezar Moura do Nascimento. "Fomos a primeira cooperativa do Estado a trazer o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) para seus produtores, e isso ajuda a fortalecer e motivar os agricultores a investirem em sua lavoura", destaca.
Completando 110 anos de existência em 2021, a Cotribá, que possui atuação em 26 municípios, tem 64% de sua renda bruta baseada no recebimento, armazenagem, produção e comercialização de grãos. A capacidade de estocagem de seus armazéns é de 6 milhões de sacas. A cooperativa conta com 8 mil associados e mais de 25 mil clientes no Estado.
Neste ano, a Cotribá está realizando dois grandes investimentos. O principal deles é a nova fábrica de rações em Ibirubá, que demandará recursos superiores a R$ 100 milhões. Totalmente automatizada, a unidade terá capacidade para produzir 200 mil toneladas/ano. Além disso, a cooperativa está finalizando um investimento de R$ 23 milhões em uma nova unidade de armazenamento de grãos em Cruz Alta.
Para 2021, as expectativas de resultados são ainda maiores. A safra recorde de soja, que ultrapassou 20 milhões de toneladas no RS, aliada com os altos preços dos grãos - impulsionados tanto pelas cotações internacionais como pelo câmbio valorizado do dólar frente ao real - faz com que as cooperativas agrícolas esperem ganhos ainda maiores neste ano. "Há muito tempo não havia uma combinação de produção elevada com bons preços como em 2021. A safra deste ano conseguiu injetar R$ 50 bilhões na economia gaúcha", destaca Paulo Pires, presidente da Fecoagro.

Cooperativas de crédito aumentam competitividade

Cerutti, da Cecresul, lembra que o associado mantém relação próxima

Cerutti, da Cecresul, lembra que o associado mantém relação próxima


/LUIZA PRADO/JC

Em 2020, as cooperativas de crédito gaúchas ampliaram em 34% a captação de recursos nos depósitos a prazo, registrando
R$ 28,5 bilhões nessa modalidade. "Isso significa que, durante a crise da pandemia, os gaúchos confiaram no crédito das cooperativas locais", destaca Vergilio Perius, presidente da Ocergs.

"Fomos surpreendidos porque nossos depósitos aumentaram, melhorando nossa liquidez, enquanto a inadimplência se manteve nos mesmo níveis. Então, a pandemia não teve impacto negativo nas cooperativas de crédito", afirma Leonel Pedro Cerutti, diretor administrativo da Central das Cooperativas de Crédito Mútuo do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (Cecresul). Com cinco filiadas (Coopesa, CredCorreios, Servicoop, Credicor, Crediplan e Credisul), a central possui cerca de 20 mil cooperados, administrando R$ 500 milhões.
De acordo com Cerutti, o aumento dos depósitos ocorreu porque, diante da instabilidade gerada pela pandemia, muitos associados preferiram retirar dinheiro que tinham em outros bancos para guardar os recursos nas cooperativas. "Os grandes bancos operam muito com fundos de investimentos, que no início da pandemia tiveram uma forte desvalorização. Diante disso, os associados, que confiam nas cooperativas, têm um relacionamento mais próximo com elas, viram em nós um porto seguro", explica.
No entanto, Cerutti lembra que a tendência de crescimento das cooperativas de crédito no sistema financeiro nacional já vinha se manifestando há alguns anos. Segundo dados do Banco Central (BC), em 2016, as cooperativas representavam 5,1% dos depósitos no Brasil. Em 2020, o percentual foi para 6,21%. A fatia do total de ativos no País, que em 2016 era de 2,5%, em 2020 foi para 3,8%. Já as operações de crédito das cooperativas, que somavam 2,7% do montante nacional, avançou para 5,1% no mesmo período.
Para o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), 2020 também foi um ano de crescimento. "Chegamos em 31 de dezembro com acréscimos de 46% em operações de crédito, de 41% nos ativos e de 51% nos depósitos totais", afirma o presidente do Sicoob Central SC/RS, Rui Schneider da Silva.
O maior crescimento percentual foi em depósitos totais, que alcançaram R$ 17,2 bilhões (aumento de 51%). Os ativos totais, de R$ 23,5 bilhões, apresentaram um crescimento de 41%. As operações de crédito, no valor total de R$ 13,2 bilhões, foram de 53% em empréstimos, 23% em financiamentos, 19% em crédito rural e 5% em outros. As sobras do exercício (dinheiro que retorna para os associados) chegaram a R$ 590,7 milhões - crescimento de 29%. O patrimônio líquido alcançou R$ 3,3 bilhões, um aumento de 24%.
Na contramão dos grandes bancos, o Sicoob continua expandindo a sua rede física de atendimento aos associados. No ano passado, o número de agências da rede no Sul do Brasil alcançou 543 unidades, um crescimento de 6%."No ano de 2020 as cooperativas de crédito não apenas não pararam de trabalhar, como, inclusive abrimos portas", destaca o presidente do Sicoob SC/RS. Essa expansão das operações continua a pleno vapor. No Rio Grande do Sul, onde o Sicoob possuía 87 agências, a cooperativa prevê a abertura de mais 121 unidades nos próximos dois anos. "Nosso objetivo é estarmos presentes em todos os municípios gaúchos com mais de 20 mil habitantes", afirma.
O crescimento das cooperativas de crédito também vem gerando outras oportunidades de mercado. Para atender às necessidades específicas desse setor, a PwC Brasil lançou em junho o seu Centro de Excelência para Cooperativas de Crédito. Concentrado nas regiões Sul e Sudeste, mas com abrangência nacional, o Centro possui uma equipe de especialistas nesse segmento dedicada a atender cooperativas de todo o País, com foco em soluções de auditoria cooperativa, auditoria interna, compliance, gestão de riscos e controles internos.

Para a Ocergs, agroindústrias precisam de mais incentivos

Taxas praticadas em financiamentos de plantas industriais já foram consideradas menores

Taxas praticadas em financiamentos de plantas industriais já foram consideradas menores


/JONATHAN HECKLER/arquivo/JC
Atualmente, 63 cooperativas do Rio Grande do Sul possuem planta agroindustrial, nas quais processam a matéria-prima e agregam valor em mais de 131 produtos diferentes. Na produção total da safra de soja gaúcha, as cooperativas do setor mantêm sua participação de 50% do recebimento.
No entanto, para o presidente da Ocergs, Vergilio Perius, as cooperativas agroindustriais gaúchas poderiam ter avanços ainda maiores no mercado se os custos financeiros para investimentos em unidades do setor fossem menores. Por exemplo, no último Plano Safra, anunciado pelo governo federal em 22 de junho, ficou estabelecido que os financiamentos via cooperativas para investimento, crédito industrial e capital de giro a partir de julho de 2021 ganham taxas de juros de 8% ao ano. Para a construção de armazéns, os juros são de 7% ao ano.
"O Plano Safra não atende às nossas expectativas porque os juros oferecidos para as agroindústrias ainda são altos para investimentos em fábricas. O programa ainda é muito voltado para exportações não manufaturadas, para a produção de commodities, e não para industrialização agrícola, para a fabricação de produtos de maior valor agregado", lamenta Perius.
O presidente da Ocergs lembra que, no passado, as taxas praticada para financiamentos de plantas agroindustriais já foram bem menores, embora os juros reais da economia fossem maiores do que os estabelecidos hoje pelo Banco Central (BC)", destaca Perius. Segundo ele, o setor defende uma linha de financiamento de plantas agroindustriais com juros de 2,75% ao ano. "Temos que desenvolver mais a agroindústria, que favorece muito a geração de receita para os estados e cria mais empregos", afirma.
 

Na contramão da economia, saldo de empregos é positivo

No acumulado de 2020, o saldo de empregos com carteira assinada nas cooperativas foi de 3.683, o que aponta alta de 5,7%. A expansão de postos de trabalho no setor, que em 2020 registrou 68.303 empregos diretos, contrasta com o cenário do Rio Grande do Sul, que amargou no ano passado o segundo pior saldo no mercado formal do Brasil, com o fechamento de 20.220 vagas. "O aumento de empregados contratados, sobretudo pelas cooperativas agroindustriais, de saúde e de crédito conforta a sociedade gaúcha, pois o RS fechou o ano uma variação negativa de 0,80%", explica Vergilio Perius.