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Cooperativismo

- Publicada em 01 de Julho de 2021 às 15:05

Vergilio Perius destaca capacidade de resistência das cooperativas em momentos difíceis

Presidente do sistema Ocergs projeta chegar a R$ 54 bilhões em 2022

Presidente do sistema Ocergs projeta chegar a R$ 54 bilhões em 2022


/MARIANA ALVES/JC
Marcelo Beledeli
Enquanto a economia em geral sofreu com os impactos da pandemia de Covid-19 em 2020, as cooperativas gaúchas foram na contramão e apresentaram fortes resultados positivos. No ano passado, segundo a Ocergs, o sistema cooperativo do Rio Grande do Sul comemorou um faturamento recorde de R$ 52,1 bilhões, aumento de 6,4% em relação ao período anterior. Para o presidente da Ocergs, Vergilio Perius, esse resultado reflete a capacidade de crescimento das cooperativas durante momentos difíceis. "Somos a economia da solidariedade. Nós crescemos nas crises", destaca. Para o dirigente, o bom desempenho cooperativista também foi uma ótima notícia para os municípios gaúchos, uma vez que as sobras (lucros) geradas pelas cooperativas permanecem nas comunidades em que elas estão inseridas. "Isso transforma nosso modelo de negócios em um potencial agente de transformação e desenvolvimento econômico e social", afirma. Nesta entrevista, Perius comenta os resultados de 2020 e destaca as principais demandas para o crescimento das cooperativas brasileiras, entre outros temas.
Enquanto a economia em geral sofreu com os impactos da pandemia de Covid-19 em 2020, as cooperativas gaúchas foram na contramão e apresentaram fortes resultados positivos. No ano passado, segundo a Ocergs, o sistema cooperativo do Rio Grande do Sul comemorou um faturamento recorde de R$ 52,1 bilhões, aumento de 6,4% em relação ao período anterior. Para o presidente da Ocergs, Vergilio Perius, esse resultado reflete a capacidade de crescimento das cooperativas durante momentos difíceis. "Somos a economia da solidariedade. Nós crescemos nas crises", destaca. Para o dirigente, o bom desempenho cooperativista também foi uma ótima notícia para os municípios gaúchos, uma vez que as sobras (lucros) geradas pelas cooperativas permanecem nas comunidades em que elas estão inseridas. "Isso transforma nosso modelo de negócios em um potencial agente de transformação e desenvolvimento econômico e social", afirma. Nesta entrevista, Perius comenta os resultados de 2020 e destaca as principais demandas para o crescimento das cooperativas brasileiras, entre outros temas.
Jornal do Comércio - Em 2020 o Rio Grande do Sul enfrentou os graves efeitos econômicos da pandemia, somado a uma frustração de safra agrícola provocada pela seca. Mesmo assim, as cooperativas gaúchas tiveram bons resultados, aumentando em 6,4% seu faturamento, que alcançou R$ 52,1 bilhões. Como isso foi possível?
Vergilio Perius - Isso não é mágica, mas é a essência do cooperativismo. As cooperativas surgiram para resolver crises econômico-financeiras quando a economia, seja a de mercado ou a socialista, não resolvem. Por isso a ONU (Organização das Nações Unidas) chamou, em 2012, as cooperativas como uma terceira forma de economia, a economia da solidariedade. Nós crescemos nas crises. Na abundância, as pessoas não precisam se auto-organizar, a economia anda por si. Então as cooperativas crescem nas crises. Em 2020, a pandemia trouxe dificuldades econômicas e a exclusão de pessoas do mercado de trabalho. Aqui no Rio Grande do Sul, também sofremos os efeitos da estiagem no agronegócio. O único problema que não ocorreu foi nos preços das commodities, que estavam altos e o câmbio favorável.
JC - Esses resultados financeiros surpreendem?
Perius - Atingir R$ 50 bilhões era algo que sonhávamos há anos, e chegamos a ultrapassar isso em 2020. Outro índice que mostra o bom resultado são as sobras, a diferença entre as operações e despesas, que são nosso lucro, que tiveram aumento de 22,5%. Somente nas cooperativas de transporte, por exemplo, as sobras cresceram 63%. Vale lembrar que essas sobras, tirando a parte que é destinada para fundos sociais, retornam para os sócios. Outro fator de destaque foram os ativos, que chegaram a 98,2 bilhões, o que mostra que temos solidez para emprestarmos dinheiro e fazer investimentos. Aliás, foram realizados vários investimentos no ano da pandemia, principalmente devio à construção de hospitais próprios pelas Unimeds, e houve várias obras em agroindústrias, embora o custo financeiro para plantas agroindustriais seja caro.
JC - Ao contrário de vários setores da economia, que perderam vagas de trabalho com a pandemia, as cooperativas fecharam o ano com a contratação de mais de 3 mil pessoas. Como foi possível?
Perius - Esses empregos foram gerados, especialmente, na agroindústria, nos hospitais - que tiveram que contratar mais colaboradores por causa da pandemia - e no setor de infraestrutura, especialmente energia e internet. Também houve influência das cooperativas de crédito, que é o setor que mais cresce no Estado, e que está abrindo muitas agências. A captação de depósitos a prazo cresceu 34%. Isso significa que os gaúchos confiam no crédito das cooperativas locais. Dessa forma, o crédito alavancou novos empregos, por que toda agência que se instala demanda de 10 a 15 empregados a mais.
JC - Algum segmento poderia ter tido resultados melhores?
Perius - Lamento em dizer que o setor habitacional, sem impulso forte do governo federal, poderia ter sido um setor com grande crescimento. Poderíamos construir 1 milhão de moradias por ano desde que se liberasse R$ 30 bilhões do governo federal para habitações populares. Investimos praticamente isso em fundos sociais neste ano. Faltam 6 milhões de moradias populares. E, numa visão estratégica, não adianta o governo investir em construir prédio vertical, é um tiro no pé para absorver mão-de-obra. Um guindaste substitui 120 pessoas num canteiro de obras. Então temos que fazer casas populares, horizontais, que absorvem mão-de-obra.
JC - As cooperativas geram um grande retorno para suas comunidades?
Perius - A FEE (antiga Fundação de Economia e Estatística) fez um estudo comparativo entre os municípios que possuem cooperativas e os que não têm. Num município gaúcho onde funciona ao menos uma cooperativa, os índices educacionais são superiores aos de onde não existe. Além disso, a renda municipal também é maior. Isso porque a sobra produzida no ano é repassada aos associados. Então existe um "13º salário invisível" para cada associado todos os anos. Assim os recursos voltam para a comunidade onde se gerou a riqueza, não é um dinheiro deslocado para os grandes centros urbanos ou até para o exterior, como no sistema financeiro ou grandes empresas. A riqueza gerada em forma de sobras volta para quem produziu.
JC - Quais os principais objetivos para o desenvolvimento do sistema cooperativo?
Perius - Temos duas metas. A primeira é desenvolver mais a agroindústria. Hoje em dia o custo para plantas agroindustriais é muito caro, 6% ao ano. Já tivemos taxas muito menores do que isso em épocas quando os juros reais da economia estavam em patamares bem maiores do que os atuais. Precisamos de uma linha de financiamento de plantas agroindustriais com juros de 2,75% ao ano. Hoje, a política voltada ao agronegócio está muito focada na exportação de commodities. Isso não é ruim, especialmente num momento como o atual, em que os grãos estão com preços muito altos. Mas uma hora as cotações retornam para patamares mais baixos. O agronegócio pode crescer mais pelas agroindústrias, com agregação de valor na produção e maior uso de mão-de-obra. Um exemplo é que, nas agroindústrias cooperativas, para cada quatro sócios temos, em média, um empregado. Já nas operações que lidam só com grãos, para cada 10 sócios existe um empregado. A outra meta é um maior apoio oficial para cooperativas habitacionais. Temos um déficit habitacional de 6 milhões de residências no Brasil. O programa Casa Verde Amarela teria que pegar os recursos do FGTS e aplicá-los 100% na construção civil, pois hoje muita coisa é remetida para outras finalidades. Além disso, o governo federal deveria pensar num modelo organizado por cooperativas habitacionais como o BNH (Banco Nacional da Habitação) fez na década de 1960. Hoje o FGTS está centralizado na Caixa Federal, pelo programa Casa Verde Amarela, que tem exigência de renda de 3 a 7 salários mínimos. Mas temos que pensar na população sem renda. Tivemos uma experiência cooperativa exitosa em Porto Alegre, com apoio do Senai e Sescoop, onde pela manhã fazia-se um treinamento de profissionais no canteiro de obras e à tarde eles trabalhavam por salário mínimo, que é mais que o Bolsa Família ou auxílio emergencial. Algo assim tinha que ser feito de forma permanente.
JC - E quais as expectativas para 2021?
Perius - Financeiramente, esperamos crescer mais 6% ao menos neste ano. Ano após ano, as cooperativas apresentam faturamentos maiores. Para 2021, projetamos chegar a R$ 54 bilhões ou R$ 55 bilhões. Mas o que espero é que possamos sair da pandemia mais unidos, para trabalhar mais em conjunto, para que a riqueza gerada pelo processo coletivo seja socializada. As cooperativas podem, devem e já construíram um mundo melhor.
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