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Comércio

- Publicada em 16 de Julho de 2021 às 03:00

Falta de insumos impede uma retomada mais expressiva do setor

Paulo Siqueira pede mais atenção dos governos à questão tributária e um ambiente de negócios mais competitivo

Paulo Siqueira pede mais atenção dos governos à questão tributária e um ambiente de negócios mais competitivo


/FENABRAVE SINCODIV-RS/DIVULGAÇÃO/JC
Vinicius Ferlauto
O presidente do Sincodiv-RS/Fenabrave, Paulo Siqueira, considera o setor automotivo "um estuário natural da economia", porque nele "desaguam o sonho de consumo do veículo novo e o acesso a crédito com menor custo, incluindo a busca por socorro financeiro em um momento adverso". E o termo "momento adverso" é uma definição perfeita para a realidade da Covid-19. Nesta entrevista, Siqueira fala sobre a adequação das concessionárias às restrições e oportunidades geradas pela pandemia, comenta a escassez de semicondutores e critica a política econômico-tributária do Rio Grande do Sul para o segmento de distribuição de veículos: "os líderes executivos estaduais e municipais precisam compreender, definitivamente, que a modernização das atividades econômicas se estendem, também, para a arrecadação tributária e para o custo dos serviços públicos vinculados ao setor".

O presidente do Sincodiv-RS/Fenabrave, Paulo Siqueira, considera o setor automotivo "um estuário natural da economia", porque nele "desaguam o sonho de consumo do veículo novo e o acesso a crédito com menor custo, incluindo a busca por socorro financeiro em um momento adverso". E o termo "momento adverso" é uma definição perfeita para a realidade da Covid-19. Nesta entrevista, Siqueira fala sobre a adequação das concessionárias às restrições e oportunidades geradas pela pandemia, comenta a escassez de semicondutores e critica a política econômico-tributária do Rio Grande do Sul para o segmento de distribuição de veículos: "os líderes executivos estaduais e municipais precisam compreender, definitivamente, que a modernização das atividades econômicas se estendem, também, para a arrecadação tributária e para o custo dos serviços públicos vinculados ao setor".

Jornal do Comércio - Há mais de um ano e meio estamos convivendo com a pandemia da Covid-19 e com seus impactos sobre a saúde e a economia. O que o setor da distribuição de veículos aprendeu nesse período e quais adaptações se tornarão permanentes nas operações das concessionárias?

Paulo Siqueira - A pandemia, além da batalha sanitária, vem produzindo contínuos desafios ao setor de distribuição de veículos. Por serem a "interface" entre a indústria e o mercado, as concessionárias precisam tanto lidar com suas necessidades e limites, quanto desenvolver competências para reagir às pressões e anseios das montadoras, consumidores e da administração pública. O resultado desse doloroso processo, no entanto, não deixa de apresentar um saldo positivo, no que diz respeito à otimização de recursos humanos e operacionais, por meio da criação e aperfeiçoamento das ferramentas de gestão administrativa e de atendimento aos clientes. Aprendizados e evoluções que se incorporaram às novas rotinas do setor.

JC - Além das dificuldades óbvias geradas pela restrição nas atividades econômicas em função da Covid-19, a indústria automobilística agora está enfrentando outro efeito da pandemia: a falta de matérias-primas, em especial de semicondutores. As montadoras são as empresas que mais estão sofrendo com a escassez de chips, a ponto de interromper suas atividades produtivas. Quanto tempo o senhor acha que levará para essa situação se regularizar?

Siqueira - Esta questão da falta de insumos e componentes é o principal nó que amarra o processo de uma retomada mais consistente para a indústria automotiva. Considerando aquilo que podemos definir como pontos de gargalo, o fornecimento de semicondutores tem tido maior destaque, dado o seu grau de interdependência, em vários níveis, na cadeia produtiva. Contudo, vale lembrar que a crise mais aguda vivenciada pelas montadoras não se origina em problemas de produção, mas em um aumento exponencial da demanda em decorrência da pandemia. O problema para a indústria automotiva surge na medida em que o impacto inicial da pandemia e suas ações de isolamento levaram à paralisação das linhas de montagem. Como o setor, há décadas, trabalha no conceito "just in time", a paralisação resultou na suspensão do fornecimento. Em paralelo, o isolamento imposto implicou a adoção do home office e do ensino a distância, além de um crescimento fantástico do comércio eletrônico. Tudo isso contribuiu para que a demanda da indústria de tecnologia aumentasse muito, dada a crescente necessidade de conexão do "mundo físico" com o "mundo virtual". Dessa forma, esse setor absorveu a produção de semicondutores antes destinada às montadoras. Posteriormente, com a retomada da produção de veículos, o setor automotivo passou a não dispor de oferta suficiente para a sua demanda. A questão é saber quanto tempo e investimentos serão exigidos para que estejam disponíveis novas unidades de produção de semicondutores, capazes de equalizar a oferta com a crescente demanda. Hoje, as expectativas predominantes dão conta de que isto seja possível de ser alcançado no primeiro trimestre de 2022.

JC - Como a Fenabrave-Sincodiv está avaliando a retomada da economia no Brasil e no Rio Grande do Sul, especialmente no segmento que representa?

Paulo Siqueira - Infelizmente, o Rio Grande do Sul tem cada vez mais se dissociado da trajetória recente da economia brasileira. Consequência de uma visão ainda atrelada a padrões administrativos e fiscais que já foram deixados para trás por outros estados, os mesmos que estão dando exemplo de modernidade e adequado planejamento de políticas de desenvolvimento econômico. Os gestores públicos não perceberam que o Rio Grande do Sul não mais ocupa o centro gravitacional da economia na América do Sul. Trata-se de uma desvantagem competitiva agravada pelas limitações logísticas do Estado, tanto pelos custos do frete rodoviário, quanto pelo fato de que nosso único porto relevante está localizado na contramão do fluxo natural do comércio. Exemplificando como políticas públicas podem resultar em soluções, temos a evolução econômica da vizinha Santa Catarina. Esse estado soube, de forma especial, fazer um bom uso da sua capacidade portuária, e desenvolveu um importante programa de benefícios fiscais, atraindo indústrias e empresas de armazenagem e transportes. Nos últimos 10 anos, mesmo com uma população 35% menor, os registros de veículos em Santa Catarina superam, com folga, os do mercado gaúcho, reflexo de um crescimento consistente e da modernização da sua economia, assumindo a quinta posição no ranking de licenciamentos no Brasil. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul sofre nova queda de participação este ano, perdendo a sexta posição para a Bahia. O espetacular resultado catarinense, no segmento automotivo, está diretamente associado a políticas estadual e municipais de menores impostos e taxas para a manutenção e comercialização dos veículos.

JC - Essa posição da entidade, responsabilizando a matriz tributária do Rio Grande do Sul pela perda de competitividade do mercado de veículos regional, vem de bastante tempo. Como está sendo a discussão desse tema, atualmente, com as autoridades locais?

Siqueira - Temos, há mais de ano, continuamente, buscado o diálogo com o governo estadual para apresentar a realidade do setor e as suas perspectivas, para que possamos estabelecer, conjuntamente, um regramento do ICMS semelhante ao praticado nos demais estados do País, no sentido de incrementar o volume de negócios, para devolver ao Rio Grande do Sul uma posição mais próxima dos líderes no cenário nacional. Essa questão ganha, a cada dia, maior gravidade, na medida em que a legislação consumerista e as novas tecnologias estão revolucionando e abolindo conceitos tradicionais de territorialidade, em qualquer segmento de mercado. É um processo que evolui continuamente e que vem demolindo as barreiras geográficas comerciais, obrigando as empresas a se modernizarem e alcançarem a maior competitividade possível. Aos governos, cabe criar ambientes mais atrativos e eficientes para a atividade empresarial. Objetivamente, nossas conversas têm evoluído positivamente, revelando uma, até então, inédita sensibilidade por parte da Fazenda Estadual em atender às nossas expectativas, para que esse esperado e necessário realinhamento tributário ocorra. Prevemos que tal situação possa estar saneada ainda este ano, impulsionando, decisivamente, o mercado automotivo gaúcho.

 

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