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Especiais#Anuário de Investimentos 2020

Conjuntura

- Publicada em 07 de Dezembro de 2020 às 03:00

Incerteza ainda afeta a indústria gaúcha

Parte do recurso para investimento foi para o caixa das empresas, diz Petry

Parte do recurso para investimento foi para o caixa das empresas, diz Petry


/LUIZA PRADO/JC
Sérgio Ruck Bueno
Sérgio Ruck Bueno
Depois de despencar para 32 pontos em maio, o pior desempenho da série histórica iniciada em 2010, o Índice de Confiança do Empresário Industrial do Rio Grande do Sul (ICEI-RS) reagiu e alcançou 65,1 pontos em novembro, já próximo dos 66,9 em fevereiro, antes do impacto da pandemia. O sinal é positivo, mas há muitas dúvidas se a recuperação é sustentável e isso freia as intenções de investimentos das empresas do setor, explica Gilberto Petry, presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), responsável pelo cálculo do indicador.
Já a pesquisa Sondagem Industrial, também realizada pela entidade, apontou em outubro que 60,8% das indústrias do Estado manifestaram desejo de investir nos seis meses seguintes. O índice supera de longe os 30,2% verificados em abril, mas permanece abaixo dos 78,2% apontados pelo levantamento feito no início do ano para apurar os planos de expansão das empresas ao longo do exercício.
"A economia ficou quase dois meses parada e muitos dos recursos que seriam destinados aos investimentos foram consumidos pelas necessidades de caixa ou sofreram um replanejamento", explica Petry. "A paralisação das atividades, sejam elas industriais ou de nossos clientes, como o comércio e os serviços, trouxe muita incerteza para o setor. Sem a possibilidade de agir, muitos projetos foram postergados ou cancelados até termos um horizonte mais claro", completa.
Conforme Petry, a utilização da capacidade instalada do setor no Estado - que alcançou 78,7% conforme o Índice de Desempenho Industrial (IDI) de setembro apurado pela entidade - indicaria, "em tempos normais", a necessidade de investimentos em expansão, mas a situação não é tão simples. O problema, explica, é a dúvida sobre o "caráter dessa recuperação", pois as empresas ainda não sabem se a retomada é apenas temporária, até que a demanda reprimida ao longo do ano seja atendida e que termine o auxílio emergencial do governo federal, "ou se estamos finalmente ingressando numa nova trajetória de crescimento".
Quanto às possibilidades de intervenção do governo federal para manter a recuperação da economia, Petry entende que "a primeira coisa" a ser feita é garantir a estabilidade. "Não existe uma bala de prata", afirma, ao mesmo tempo em que defende a aprovação de medidas estruturais em 2021, como uma "boa reforma tributária" que pode ter efeitos positivos já no curto prazo.
 

Crise deixa feridas "difíceis de cicatrizar", avalia presidente da Fecomércio-RS

O presidente da Federação do Comércio de Bens de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, diz que a crise desencadeada pela pandemia e agravada pela estiagem "deixou feridas, e algumas delas são difíceis de cicatrizar". A pior delas, de acordo com ele, foi a perda de empregos formais, já que os estabelecimentos comerciais e de serviços concentraram o fechamento de postos de trabalhos no Estado de janeiro a outubro, conforme o novo Caged, do Ministério da Economia.
Impedidos de funcionar para evitar a disseminação da Covid, estabelecimentos comerciais e de serviços tiveram que transferir operações do ambiente físico para a internet, o que não é tão fácil como pode parecer. "Não se muda do dia para a noite um modelo de negócios", afirma o empresário. E mesmo no caso de quem conseguiu fazer a migração, a "grande maioria" apenas minimizou perdas, mas não reverteu o cenário negativo, explica.
É por isso que as demissões cresceram com tanta força no setor. Segundo Bohn, muitas empresas não tiveram outra opção, e se não houvesse as alternativas de suspensão de contratos de trabalho e de redução de jornada, permitidas pela medida provisória 936 depois convertida na lei 14.020, de julho deste ano, o quadro poderia ter sido mais grave.
Nos últimos meses, com a recuperação do volume de vendas detectada pelo IBGE, a situação melhorou gradativamente e o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) calculado pela Fecomércio-RS retornou a um patamar de otimismo (acima dos 100 pontos) em novembro, aos 106,3 pontos, após seis meses de pessimismo. O problema, agora, é a incerteza sobre os rumos da doença e da economia em 2021. Por isso, conforme o presidente da entidade, ainda é "muito cedo" para o setor prever quando deverá retornar aos níveis de emprego e investimento anteriores à pandemia.

Governo tenta conciliar saúde, economia e equilíbrio fiscal

Leite espera que a vacina contra Covid-19 permita retorno gradual

Leite espera que a vacina contra Covid-19 permita retorno gradual


/ITAMAR AGUIAR/PALÁCIO PIRATINI/JC
O potencial devastador da Covid-19 sobre saúde e economia impôs um enorme desafio ao Estado em 2020. Foi necessário buscar uma forma de conter o contágio por meio de limitações dos contatos entre as pessoas e das atividades empresariais sem afundar ainda mais a atividade econômica.
A saída adotada foi o chamado "distanciamento controlado", que estabelece níveis diferentes de restrições em cada região do Rio Grande do Sul, de acordo com indicadores como número de casos e ocupação dos hospitais. Conforme o governador Eduardo Leite, a estratégia teve resultados satisfatórios, pois evitou um estrago maior da doença sem "fechar tudo ou impedir o funcionamento completo das empresas".
Segundo ele, mesmo com a crise financeira, o Estado conseguiu pagar débitos e manter em dia repasses a hospitais e municípios para reforçar o combate à pandemia. Assim como as ações para amenizar os efeitos da estiagem, isso só foi possível graças a medidas de ajuste adotadas desde 2019, afirma.
Para 2021, Leite espera que a vacina contra a Covid-19 permita o relaxamento das restrições e o retorno gradual à normalidade. Isso será decisivo para as finanças do Estado, que no acumulado até outubro registraram queda de 2,5% na arrecadação bruta de ICMS frente a igual período de 2019 em valores corrigidos pelo IPCA, para R$ 28,9 bilhões. A previsão é de déficit orçamentário de R$ 8 bilhões em 2021. "Nosso desafio é seguir trabalhando pelo equilíbrio fiscal, de forma a manter a capacidade do Estado em prestar serviços como os de saúde pública", afirma.
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rodrigo Lorenzoni, acrescenta que "se não houver segurança pública, saúde e educação de qualidade, também não há um ambiente bom para negócios".
Segundo Leite, o governo leva adiante planos como concessões e privatizações e propôs à Assembleia Legislativa medidas para manter a arrecadação. O pacote inclui a prorrogação da alta das alíquotas de ICMS em 30% para combustíveis, energia e telecomunicações, a redução da alíquota básica de 18% para 17% nas aquisições internas, a lei do teto de gastos e o repasse do duodécimo aos demais Poderes do Estado com base na arrecadação realizada.