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Mercado imobiliário

- Publicada em 13 de Maio de 2022 às 15:37

Insegurança e aluguel caro esvaziam polo comercial da Protásio Alves

Ponto na esquina da rua Francisco Ferrer é um dos que estão desocupados atualmente na avenida Protásio Alves

Ponto na esquina da rua Francisco Ferrer é um dos que estão desocupados atualmente na avenida Protásio Alves


ANDRESSA PUFAL/JC
Tradicional região do comércio de rua em Porto Alegre, o trecho inicial da avenida Protásio Alves tem hoje  diversos pontos comerciais desocupados. Há pelo menos 15 imóveis vazios no início da calçada norte, do lado oposto ao Hospital de Clínicas. Como nas sete primeiras quadras da via – entre Ramiro Barcelos e Dona Leonor, logo depois do Viaduto Tiradentes – são 62 pontos comerciais, um em cada quatro está sem uso, vários com placas de Aluga-se.
Tradicional região do comércio de rua em Porto Alegre, o trecho inicial da avenida Protásio Alves tem hoje  diversos pontos comerciais desocupados. Há pelo menos 15 imóveis vazios no início da calçada norte, do lado oposto ao Hospital de Clínicas. Como nas sete primeiras quadras da via – entre Ramiro Barcelos e Dona Leonor, logo depois do Viaduto Tiradentes – são 62 pontos comerciais, um em cada quatro está sem uso, vários com placas de Aluga-se.
Na calçada da Protásio do outro lado da rua, a partir da São Manoel, são mais 32 pontos comerciais nesse trecho inicial, sendo oito desocupados. Somando os dois lados da Protásio Alves nessa área, são 94 pontos de comércio com 23 fechados, aproximadamente 25% do total.
A região é central, muito movimentada, com pontos de ônibus por onde passam dezenas de linhas, próxima do campus saúde da Ufrgs, de colégios tradicionais, do Clínicas, do Hospital de Pronto Socorro, do bairro Bom Fim e do Parque da Redenção.
Nesse contexto, segundo comerciantes ouvidos pela reportagem, duas são as principais razões para o esvaziamento do tradicional polo comercial: o preço dos aluguéis, considerado elevado, e a insegurança na região. Diversas operações já foram alvo e tiveram prejuízos.
A mais recente baixa foi a Lojas Colombo, que informou ter sofrido seguidos assaltos no local para tomar essa decisão de deixar o ponto.
Pontos comerciais de esquina, que em outros tempos seriam disputados, estão vazios. É o caso da Protásio com Francisco Ferrer, além de um dos lados da Miguel Tostes. Outra referência na região, a agência bancária Caminho do Meio, do Banco do Brasil, em frente à estação Colégio Americano, foi extinta pela instituição financeira no meio da pandemia, e segue com as portas fechadas desde então.
Sabina Canter, proprietária da Loja Kelbert’s, localizada na esquina da Protásio com a rua Ramiro Barcelos, diz que a região nunca esteve tão vazia. “Nossa família ocupa esse ponto desde 1947, e nunca vimos tantos pontos desocupados como hoje, isso é certo. Lembro da época em que os comerciantes faziam fila para ocupar esse local, pois sempre foi um trecho muito valorizado no comércio de rua da Capital”, afirma. Para a lojista, o que mais pesa para esse cenário é o alto preço dos aluguéis. “Nós somos proprietários, então, a variação do aluguel não nos afeta diretamente, mas certamente é a maior reclamação que ouvimos dos nossos vizinhos nos últimos tempos”, acrescenta.
Esse também é o entendimento do presidente do Sindilojas, Arcione Piva, que destaca ainda o impacto causado pela crise da Covid-19. “O comércio de rua foi muito atingido na pandemia, porque muitas lojas precisaram fechar por um longo período, e quem não tinha um bom volume de reserva em caixa, ou que não conseguiu transferir parte de sua operação para os meios digitais, sentiu ainda mais. Esse foi um dos motivos que fizeram muitos comerciantes abandonarem os seus pontos já em 2020, naquela região e em outras da cidade”, ressalta.
Andressa Rodrigues, gerente da loja Cacau Show trabalha no local desde 2019. Além de se preocupar com a questão da segurança na região, ela também aponta a atual crise econômica como uma das principais razões do baixo índice de ocupação dos pontos comerciais na região. “A gente se assusta com os assaltos, claro, mas outra dificuldade que todos aqui enfrentam é o valor dos aluguéis. As pessoas estão com menos poder de compra, o que diminui o faturamento das lojas, mas os custos dos lojistas, entre os quais o de locação é um dos principais, continuam em alta, e infelizmente essa conta não fecha no fim do mês para muitos dos empreendedores”, reforça.
Até empresas nacionais e internacionais deixaram a Protásio Alves nos últimos anos. A CVC, por exemplo, encerrou as atividades de uma agência que mantinha na avenida. Há outros casos circunstanciais, como o fechamento do supermercado Dia, que encerrou as atividades no Rio Grande do Sul.
Sobre a questão da segurança, o 9º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na região, informa que realiza patrulhamento diário no local, sem redução de efetivo nem nos finais de semana, e também reforça, aos comerciantes, a necessidade de registrar devidamente todas as ocorrências.

Valor dos aluguéis deve continuar em alta em 2022

Apesar das queixas referentes à falta de segurança, para o Sindilojas POA, o alto número de pontos comerciais desocupados na região é resultado da crise econômica. “Pelo o que chega até nós, a crise econômica, com a alta da inflação e de índices que afetam diretamente os valores dos aluguéis, é o que mais tem afastado os comerciantes de rua. Por isso, muitos têm optado por apostar exclusivamente no e-commerce, tentando minimizar gastos e também os próprios riscos de segurança”, destaca Arcione Piva.
Os preços dos aluguéis já haviam subido de forma atípica em 2021 em razão da alta da inflação, dificultando as renovações de aluguel já no último ano. Segundo Moacyr Schukster, presidente do Secovi-RS, esse cenário deve se repetir em 2022.
“Pelas previsões que recebemos, a inflação deve continuar alta no Brasil neste ano, em razão da instabilidade da economia nacional, dos problemas de fornecimento no exterior causados pela guerra, e pelas eleições presidenciais. Essa alta da inflação, que no mínimo deve se manter no alto padrão do ano passado, influencia nos índices em que são baseados os valores de aluguel, como o IGP-M”, relata.
Uma possível solução para esse problema, segundo Schukster, é a renegociação direta do acordo entre locador e locatário. “O que nós orientamos é propor uma renegociação dos valores de cobrança caso haja dificuldades de pagamento, pois normalmente nem o lojista quer abandonar o ponto nem o proprietário quer perder o cliente. Essa mudança pode ser feita através da escolha de um outro índice para o aluguel, como o IPCA, ou mesmo através de um desconto direto”, complementa.
Na tentativa de facilitar a situação dos lojistas e propiciar maior facilidade na administração de seus negócios, a prefeitura de Porto Alegre tem buscado realizar ações específicas, conforme informa a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico e Turismo. “Dentro desse cenário, estamos criando incentivos para que comerciantes possam retomar atividades, como o cancelamento do aumento do IPTU, a diminuição de ISS para alguns setores, e a desburocratização de processos com a Lei da Liberdade Econômica e o Tudo Fácil Empresas, por exemplo, assim como medidas de mediação e compliance tributário. Também temos um diálogo aberto com o Sindilojas para pensarmos campanhas em conjunto ou realizarmos ações pontuais em parceria”, afirma o secretário Vicente Perrone.