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Juros

- Publicada em 04 de Maio de 2022 às 19:35

Copom eleva Selic para 12,75%, maior patamar em mais de 5 anos

Alta sacramentou o mais longo ciclo de aperto monetário ininterrupto da história do comitê monetário

Alta sacramentou o mais longo ciclo de aperto monetário ininterrupto da história do comitê monetário


Leonardo Sá/Agência Senado/JC
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic (a taxa básica de juros) de 11,75% para 12,75% ao ano e sacramentou o mais longo ciclo de aperto monetário ininterrupto da história do comitê, após 10 aumentos seguidos.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic (a taxa básica de juros) de 11,75% para 12,75% ao ano e sacramentou o mais longo ciclo de aperto monetário ininterrupto da história do comitê, após 10 aumentos seguidos.
Com o aumento a 12,75%, a Selic alcançou o maior patamar desde fevereiro de 2017 (13%), para tentar debelar um processo inflacionário que não para de surpreender. O choque de juros neste ciclo, iniciado em março de 2021, já é o mais forte desde 1999, quando o BC elevou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só.
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
A decisão desta quarta-feira, 4, era esperada pelo mercado financeiro, após o BC sinalizar no Copom de março vontade de repetir a dose de um ponto porcentual no encontro seguinte. Todas as 54 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast previam alta da Selic de um ponto porcentual, para 12,75% ao ano.
A alta de juros ocorre no mesmo dia em que o Federal Reserve, o banco central americano, também decidiu elevar a taxa básica do país em 0,5 ponto porcentual, para uma faixa entre 0,75% a 1% ao ano. Foi o maior aumento de juros feitos nos EUA desde o ano 2000. Apesar de baixa em comparação com a Selic, a taxa americana tende a subir este ano, uma vez que o Fed ainda está no início do ciclo de aperto monetário.
Os EUA, assim como o Brasil, enfrentam uma inflação elevada e o BC americano busca frear a alta de preços elevando os juros. É uma forma de esfriar a demanda na economia, uma vez que a alta de juros torna o crédito mais caros. Com taxas mais elevadas, consumidores tendem a consumir menos e as empresas podem postergar investimentos.
Maior juro real do mundo
Com o novo aumento da Selic, o Brasil voltou a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 6,69% ao ano.
Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece a Colômbia (3,86%), seguida de México (3,59%). A média dos 40 países avaliados é de -1,73%.

Entidades empresariais criticam elevação

O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou em um ponto percentual a taxa Selic, para 12,75%, nessa quarta-feira (4). A decisão, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), leva em conta a persistência da inflação, que segue alta, mas a entidade entende que a elevação não poderia ultrapassar 0,75 ponto. “Com a continuidade do conflito do Leste Europeu e os efeitos da política ‘Zero Covid’ na China, vemos um cenário desafiador para as cadeias industriais, ainda em recuperação”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Petry, ressaltando que o crescimento da inflação ocorre não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
 
Além disso, de acordo com Petry, os juros no exterior começaram a subir muito tempo depois do que os juros brasileiros. “A taxa Selic saiu de 2% para 12,75% em pouco mais de 12 meses, um espaço de tempo muito curto. Os impactos desse aperto monetário ainda não se manifestaram completamente sobre a economia e a atividade começa a dar sinais de enfraquecimento. Esse quadro sugere uma postura mais cautelosa do Banco Central daqui para a frente”, diz.
 
Segundo o presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) Luiz Carlos Bohn, a nova elevação dos juros “confirma o ajuste esperado na dose do amargo remédio para combater a inflação, que segue elevada e persistente, tirando poder de compra das famílias e pressionando custos nas empresas”.
 
Bohn destaca que juros em alta significam crédito mais caro, com as dívidas atreladas à Selic crescendo muito rapidamente (como é o caso do Pronampe), exigindo um esforço de adaptação ainda maior do empresário em um momento em que seguimos somando esforços para continuar a recuperação da crise provocada pela Covid-19. “Estamos diante de tempos desafiadores em que as incertezas e condições do cenário internacional – guerra na Ucrânia, lockdowns na China, juros crescentes no mundo todo (sobretudo nos EUA) – deixam espaço aberto não apenas para ajustes adicionais na Selic, mas para a possibilidade de ficarmos com a taxa de juros básica da economia mais alta por mais tempo", afirma o presidente da Fecomércio-RS.
 
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também considera equivocada a decisão do Copom de manter o ritmo de aumento da Selic em 1 ponto percentual. Para a CNI, a taxa anterior, de 11,75%, já era suficiente para garantir uma trajetória de queda da inflação nos próximos meses, uma vez que a alta leva tempo para restringir a atividade e, consequentemente, segurar a alta dos preços.
 
“Este novo aumento da taxa de juros deve comprometer ainda mais a atividade econômica, que já dá claros sinais de fraqueza. Para a indústria, a intensificação do ritmo de aperto da política monetária piora as expectativas para o crescimento econômico em 2022, com efeitos adversos sobre a produção, o consumo e o emprego”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
 
O índice de atividade IBC-Br, calculado pelo Banco Central, de fevereiro, de 2022 está 0,4% abaixo do índice de dezembro de 2021, apontando estagnação da economia. A CNI avalia que a expectativa de inflação cadente e a trajetória incerta de recuperação da atividade econômica demandam uma política monetária mais moderada e atenta aos desafios de crescimento do Brasil no curto prazo.