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Conjuntura

- Publicada em 08 de Dezembro de 2021 às 19:25

BC sobe novamente a Selic em 1,5 ponto, a 9,25% ao ano

Taxa anunciada pelo BC é a maior em quatro anos; economistas esperam que os juros fechem 2022 a 11,25% ao ano

Taxa anunciada pelo BC é a maior em quatro anos; economistas esperam que os juros fechem 2022 a 11,25% ao ano


Marcello Casal/Agência Brasil/JC
Conforme sinalizado na reunião anterior, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica (Selic) novamente em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano, nesta quarta-feira (8).
Conforme sinalizado na reunião anterior, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica (Selic) novamente em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano, nesta quarta-feira (8).
A taxa é a maior em quatro anos, quando atingiu 9,25% em julho de 2017, ainda no governo de Michel Temer (MDB).
Na reunião anterior, em outubro, o BC elevou a taxa também em 1,5 ponto percentual e indicou que faria nova alta da mesma magnitude em seguida.
De acordo com o relatório Focus desta semana, em que o BC divulga projeções do mercado, economistas esperam que os juros fechem 2022 a 11,25% ao ano.
Com a Selic acima de 8,5% ao ano, o cálculo do rendimento da poupança muda e passa a ser de 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial) para todas as cadernetas.
A decisão veio em linha com as projeções do mercado. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que todos os analistas consultados esperavam elevação de 1,5 ponto na Selic.
O ciclo atual de alta da taxa básica é o mais agressivo desde 2002, com elevações bruscas, e é o que terá maior diferença entre a taxa inicial e a final desde a criação do sistema de metas para inflação, em 1999.
O choque de juros é uma resposta do BC à escalada de preços observada desde o fim do ano passado e às sucessivas revisões para cima das expectativas de inflação para o próximo ano.
Para este ano, há consenso no mercado e no BC de que a inflação deve estourar a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,75% -com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo.
As estimativas crescem semana a semana.
Segundo o Focus, o indicador deve ficar em 10,18% em 2021, 4,93 pontos percentuais acima do máximo permitido. Há um mês, a projeção era de 9,33%.
No horizonte relevante -para quando o BC entende que a política monetária faz efeito- as expectativas de inflação vêm crescendo. Para 2022 e 2023 as projeções estão em 5,02% e 3,50%, respectivamente, ambas acima do centro das metas para os períodos, de 3,5% e 3,25%.
Para o próximo ano, o número já está acima do máximo permitido no intervalo de tolerância, que é de 5%.
A escalada de preços no país começou no fim do ano passado decorrente de uma série de choques, como mudança na demanda por alimentos na pandemia, problemas em safras com chuvas e geadas, elevação nos preços das commodities acompanhada de desvalorização do real, e agora a crise hídrica, que encareceu a conta de luz do brasileiro.
O cenário foi agravado pela percepção do mercado de piora no regime fiscal, quando o governo pode ser negligente com as contas públicas.
O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros.
Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.

Nova taxa de juros altera rendimento da poupança

A alta da taxa básica de juros, a Selic, que nesta quarta-feira (8) passou de 7,75% para 9,25% ao ano, vai mexer também com a correção da poupança. Investimento preferido dos brasileiros, a caderneta passará a render 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial), o que ocorre sempre que a Selic fica acima de 8,5% ao ano.
Com a taxa básica até 8,5% ao ano, a poupança rende o equivalente a 70% da Selic.
Mesmo com a mudança, a poupança manterá severa desvantagem em relação à maioria das aplicações de renda fixa e ainda perderá feio para a inflação.
Considerando os efeitos da nova Selic sobre os rendimentos médios de uma cesta de nove investimentos, o buscador de aplicações financeiras Yubb estimou que a poupança passará a entregar uma variação anual de 6,17%, acima dos 5,42% que ela estava pagando.
Isso ainda representará, porém, uma perda de 3,64% em relação à inflação de 10,18% projetada para 2021 na última pesquisa Focus, do Banco Central.
A poupança é o segundo pior investimento analisado pelo Yubb, perdendo apenas para o CDB (Crédito de Depósito Bancário) oferecido por grandes bancos, cuja variação real (descontada a inflação) estimada ficará negativa em 3,92%.
Os CDBs emitidos por bancos pequenos ficarão apenas 0,60% atrás do aumento do custo de vida.
As debêntures incentivadas ampliarão sua vantagem e seguirão como os únicos investimentos capazes de entregar ganhos (3,30%) acima da inflação, considerando as opções analisadas pela Yubb.
Debêntures regularmente apresentam ganhos em períodos de preços em alta porque são parcialmente atreladas à inflação, além de contarem com isenção do IR (Imposto de Renda). Esses ativos, porém, são emitidos por empresas privadas e podem ser considerados arriscados. A compra é indicada a investidores com capacidade de avaliar a saúde financeira do emissor.
Apesar do rendimento negativo das demais aplicações em relação à variação do custo de vida, a ampliação da Selic coloca alguns investimentos de renda fixa conservadores em patamares próximos ao da inflação.
Com rendimento real negativo de 0,06% ao ano, as LCs (Letras de Câmbio) aparecem como a melhor opção conservadora para quem busca proteção da renda fixa. Na mesma família, as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) ficarão no vermelho em 0,77% e 1,10%, respectivamente.
Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb, destaca que a alta da Selic amplia a vantagem da renda fixa sobre os investimentos em renda variável e torna o cenário especialmente desafiador para empresas que possuem ações listadas na Bolsa de Valores.
"O desconto que os investidores demandam na avaliação de uma empresa sobe quando o juro é mais alto, consequentemente, o preço da ação cai porque os investidores exigem um retorno maior", diz Pascowitch.
O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, está negativo em 9,4% em 2021.
CÁLCULO DA POUPANÇA MUDA COM NOVA SELIC
Desde maio de 2012, quando a taxa básica de juros está abaixo ou igual a 8,5% ao ano, a rentabilidade da poupança equivale a 70% da Selic, mais a TR (Taxa Referencial), que está praticamente zerada há cerca de três anos.
A regra determina, porém, que nos períodos em que a Selic supera 8,5%, o rendimento volta a ser igual ao aplicado aos depósitos realizados nas cadernetas antes de maio de 2012, apelidadas de poupança antiga, que é de 0,5% ao mês, mais a variação da TR.
Considerando a Selic de 9,25% e a TR atual, o rendimento anual da poupança corresponderia a 6,17%.
A TR é definida diariamente pelo Banco Central com base nas taxas de juros das Letras do Tesouro Nacional, que por sua vez variam segundo a Selic. É por isso que, indiretamente, a TR está atrelada à Selic.
A Taxa Referencial deverá passar a apresentar ligeira alta a partir da elevação dos juros básicos nesta quarta, segundo o economista José Dutra Vieira Sobrinho.
Dutra estima que isso elevará a correção da poupança, inicialmente, para 6,35% ao ano. O cálculo e a divulgação da TR oficial cabem, porém, ao Banco Central. "Não se pode saber o rendimento exato da caderneta sem a nova TR, que só é calculada e divulgada pelo Banco Central", afirmou Dutra.
Enquanto a TR tem variação diária, a correção da poupança é mensal e o novo rendimento, portanto, somente será percebido pelos poupadores em um mês.
O Banco Central não informou quando divulgará a nova TR.

VEJA COMO FICAM INVESTIMENTOS SOB A NOVA SELIC

POUPANÇA * **
Rendimento bruto: 6,17%
Rendimento líquido: 6,17%
Rendimento real: -3,64%

TESOURO SELIC
Rendimento bruto: 9,15%
Rendimento líquido: 7,32%
Rendimento real: -2,60%

CDB BANCO MÉDIO
Rendimento bruto: 11,90%
Rendimento líquido: 9,52%
Rendimento real: -0,60%

CDB BANCO GRANDE
Rendimento bruto: 7,32%
Rendimento líquido: 5,86%
Rendimento real: -3,92%

LC
Rendimento bruto: 12,81%
Rendimento líquido: 10,25%
Rendimento real: -0,06%

LCA *
Rendimento bruto: 8,97%
Rendimento líquido: 8,97%
Rendimento real: -1,10%

LCI *
Rendimento bruto: 9,33%
Rendimento líquido: 9,33%
Rendimento real: -0,77%

RDB
Rendimento bruto: 12,44%
Rendimento líquido: 9,96%
Rendimento real: -0,20%

DEBÊNTURE INCENTIVADA *
Rendimento bruto: 13,82%
Rendimento líquido: 13,82%
Rendimento real: 3,30%

* Investimentos isentos de Imposto de Renda
** O rendimento vale para poupanças antigas (depósitos até maio de 2012) e novas

Para entidades, decisão do BC ataca inflação

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Petry, diz que o aumento de 1,5 ponto percentual na taxa Selic, para 9,25%, ocorre porque, nas últimas semanas, tem-se observado a acomodação da atividade e a persistência da inflação, corroendo o poder de compra das famílias e as margens das empresas. “Além disso, com as maiores incertezas sobre o Teto de Gastos, a possível antecipação do aperto monetário nos Estados Unidos, e a nova variante Ômicron, o cenário se torna mais desafiador para o crescimento e para a inflação de 2022”, afirma.
Petry observa que, dessa forma, o Banco Central age de maneira responsável no combate à pressão sobre os preços, especialmente para aliviar a elevação dos custos da indústria, que são hoje o principal inimigo da economia brasileira.
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, essa decisão do Banco Central vem em linha com o que já havia sido antecipado no último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom). "Um choque de 1,5 p.p. não é um choque desprezível e com a atividade já mostrando perda de tração, a alta dos juros básicos da economia deve representar impactos relevantes nos próximos meses", afirma. Para Bohn, o problema, porém, continua sendo a desancoragem das expectativas, especialmente motivada pela dinâmica das finanças públicas. "O abandono da âncora fiscal do Teto de Gastos com as mudanças recentemente aprovadas pelo Legislativo foi certamente um elemento relevante na composição das expectativas nas últimas semanas. Como temos reiterado, a Fecomércio-RS sempre defendeu uma política fiscal responsável por que sabe que esse é o caminho para taxas de juros estruturalmente mais baixas – algo fundamental para a dinâmica saudável da atividade econômica", destaca o dirigente. 

BC antevê outra elevação de 1,5 ponto porcentual em fevereiro

Após manter o "plano de voo" e elevar a Selic mais uma vez em 1,5 ponto porcentual - para 9,25% ao ano - o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou uma nova elevação de mesma magnitude na próxima reunião, em fevereiro, para 10,75% ao ano. Ainda assim, o colegiado deixou a porta aberta para uma ação ainda mais forte na taxa básica de juros e prometeu perseverar até que as projeções de inflação voltem a estar ancoradas nas metas para os próximos anos.

"O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária", repetiu o BC.

Se na reunião anterior o colegiado considerou apropriado que o ciclo de aperto seguisse em território "ainda mais" contracionista, agora o Copom avalia ser necessário avançar "significativamente" nesse território. O BC chamou a atenção para o risco de perder a ancoragem das expectativas de inflação em prazos mais longos, a partir de 2023.

"O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", enfatizou o comunicado.