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Economia

- Publicada em 09 de Setembro de 2021 às 17:17

Caminhoneiros encerram bloqueios, mas 13 estados seguem com manifestações

Os caminhoneiros dizem que a manifestação continua até a meia noite de hoje

Os caminhoneiros dizem que a manifestação continua até a meia noite de hoje


Miguel Schincariol/AFP/JC
Os caminhoneiros encerraram bloqueios nesta quinta-feira (9) em rodovias, mas 13 estados seguem com pontos de concentração, segundo o Ministério da Infraestrutura. Pela manhã, eram ao menos 15 estados com bloqueios.
Os caminhoneiros encerraram bloqueios nesta quinta-feira (9) em rodovias, mas 13 estados seguem com pontos de concentração, segundo o Ministério da Infraestrutura. Pela manhã, eram ao menos 15 estados com bloqueios.
A região Sul é a que concentra mais da metade das ocorrências registradas no início da tarde, segundo a Polícia Rodoviária Federal. As aglomerações, sem interdição da pista, também seguem na Bahia, Mato Grosso, Pará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás, Maranhã, Rio de Janeiro e Tocantins.
A PRF também diz que todos os pontos sensíveis com algum impedimento da saída ou entrada de caminhões foram liberados, em especial, Paulínia e São José dos Campos, em São Paulo.
Entre 8h e 11h, foram liberados corredores logísticos essenciais na BR-116 e BR-101 na Bahia, BR-101 em Sergipe, BR-101 em Pernambuco e a BR-116 e BR-392 no Rio Grande do Sul.
Em São Paulo, segundo a Secretaria de Segurança Pública, até as 12h, 18 manifestações foram encerradas e não há mais bloqueios ou interrupção total na malha viária estadual. Pontos com fluxo parcial de veículos continuam nos de Bebedouro, Caraguatatuba, Franca e Teodoro Sampaio. O governo paulista determinou que qualquer paralisação que não seja desfeita por meio de negociações em estradas estaduais seja retirada à força pela Polícia Militar Rodoviária.
Um teste ocorreu na manhã desta quinta, quando a PM conseguiu desbloquear a Anhanguera na altura de Limeira (SP). Na noite de quarta, um grupo chegou a interditar o quilômetro 148 da rodovia.
Os protestos tiveram início um dia após os atos convocados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Não há apoio formal de entidades da categoria, e os motoristas mobilizados são alinhados politicamente ao governo ou ligados ao agronegócio. Os caminhoneiros dizem que a manifestação continua até a meia noite de hoje.
Em Santa Catarina, a PRF afirmou que, até as 6h30, havia bloqueio em 18 pontos, comprometendo praticamente todas as regiões do estado. O número caiu para dez por volta das 13h30. Caminhoneiros bloqueavam o acesso a três distribuidoras de combustíveis no estado, em Biguaçu, Guaramirim e Itajaí, até a tarde desta quinta. Por volta das 16h, liberaram a entrada e saída de caminhões dos locais. Com a população temendo desabastecimento, as principais cidades catarinenses registraram filas nos postos desde a noite de quarta. A distribuição de combustíveis deve se normalizar em até 48 horas, segundo o Sindipetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina).
No Porto de Itapoá (SC), mais de 2.000 caminhões deixaram de transitar entre os dias 8 e 9 de setembro, segundo a assessoria do local. "O impacto nas operações foi sentido a partir de quarta-feira (8) e se estende no dia de hoje [9] de forma contundente nas operações de Gate do Terminal. Internamente, as operações de navios operam normalmente", diz a assessoria, em nota.
Em Minas Gerais, a principal paralisação ocorreu na BR-381, no trecho que liga Belo Horizonte a São Paulo, no município de Igarapé. As pistas foram completamente fechadas pelos caminhoneiros às 8h20, conforme comunicado da PRF. Às 11h, a PRF informou que o trânsito no local começava a ser liberado. A concessionária da rodovia informou que a fila de veículos no sentido Belo Horizonte/São Paulo chegou a 5 quilômetros. No trajeto contrário, houve engarrafamento de 7 quilômetros.
Na BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Brasília, passando por Minas Gerais, havia bloqueio total dos caminhoneiros no município de João Pinheiro, no sentido Distrito Federal, segundo a concessionária da via. A fila de veículos chegava a 1 quilômetro.
A PRF informou ainda que havia bloqueio na BR-262, que liga a capital ao Triângulo Mineiro. A interrupção do tráfego ocorria em Juatuba, também na Grande Belo Horizonte.
Às 8h30, corredores logísticos que são considerados essenciais para o escoamento de cargas, como BR-040 em Minas Gerais, BR-116 e BR-040 no Rio de Janeiro, BR-101 no Espírito Santo, BR-376 no Paraná e BR-153 em Goiás foram liberadas pela Polícia Rodoviária Federal.
O ministério ainda afirma que não há mais pontos de interdição de pistas na malha rodoviária federal, salvo protesto de grupos indígenas na BR-174 em Roraima.
O governador de Roraima, Antonio Denarium, chegou a fazer um vídeo de apelo aos caminhoneiros nesta quinta, pedindo o desbloqueio da BR-174, estrada que é a única ligação do estado com o resto do país. "Olá amigos caminhoneiros, empresários e toda a população do estado de Roraima, houve um grande movimento no dia 7 de setembro em prol do presidente Bolsonaro, da democracia, e também um trabalho pela harmonia entre os Poderes, e agora temos que continuar a vida normal", disse Denarium, que é aliado de Bolsonaro e participou do ato de 7 de setembro em Boa Vista.
"Fechar estradas não vai melhorar em nada o estado de Roraima, nós estamos aqui na ponta, se fechar a rodovia lá no Amazonas, eles não perder nada, quem perde é só Roraima. Então, vamos liberar as estradas...Se vier a fechar a rodovia, aqui em Roraima vai faltar alimentos, vai faltar óleo diesel, energia elétrica e vai tumultuar a vida das pessoas."
Caminhoneiros interditaram as duas vias da BR-174 por volta de 16h do dia 8 de setembro, na altura do quilômetro 482, e a polícia rodoviária federal informou à reportagem que foi ao local para monitorar a manifestação.
Segundo o jornal Folha de Boa Vista, os caminhoneiros afirmam que o bloqueio foi organizado em apoio ao presidente Bolsonaro e contra o aumento nos preços dos combustíveis, e que manteriam a estrada fechada enquanto "o povo" quisesse. Em entrevista ao jornal na quinta-feira, caminhoneiros afirmaram que só iriam desbloquear a estrada após decisão nacional.
Em São Paulo, havia registro de bloqueios nas rodovias Dutra e Régis Bittencourt.
No Paraná, a movimentação era baixa no porto de Paranaguá, mas por um movimento de mercado não relacionado à paralisação dos caminhoneiros, segundo informou a Portos do Paraná, empresa pública responsável pela administração portuária. O pátio tinha movimento baixo na manhã desta quinta, sem bloqueios, com 599 caminhões em viagem ao porto. Na quarta-feira, 337 caminhões passaram pelo pátio.
Na noite de quarta (8), Bolsonaro pediu a aliados que dialoguem com a categoria para liberar as rodovias. Em áudio, o presidente pediu a desmobilização, afirmando que o movimento prejudica a economia. "Fala para os caminhoneiros aí que [eles] são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então, dá um toque nos caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade", diz Bolsonaro.
Aliados do presidente temem que as manifestações prejudiquem o governo caso os efeitos econômicos da paralisação se espalhem.
MOTIVAÇÃO
As principais reinvindicações dos caminhoneiros atualmente são a redução preço do combustível e a fixação de um piso mínimo para o valor do frete. No entanto, a organização dos protesto, na avaliação do governo, é aleatória e não conta com lideranças ou agenda definidas.
"Não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas", afirmou o Ministério da Infraestrutura. Entidades de caminhoneiros corroboram essa posição.
Grupos que representam a categoria fazem a mesma afirmação. "Não tem pauta caminhoneira na mobilização, é movimento ideológico", diz Joelmis Correia, do Movimento GBN (Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro). Segundo ele, há "neutralidade da categoria", para que cada motorista decida se quer protestar em apoio ao governo ou não.
Desde a véspera dos atos bolsonaristas, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que está foragido, convoca as pessoas a irem às ruas. Acusado de promover incitação a atos violentos contra o Congresso e o STF, Zé Trovão tem poder de mobilização na ala bolsonarista dos caminhoneiros.
O ministro do STF Alexandre de Moraes, principal alvo de ataque de Bolsonaro, decretou a prisão do caminhoneiro na sexta (3). Em vídeos publicados nesta quinta, Zé Trovão pediu que motoqueiros se unissem a caminhoneiros nas estradas. Disse que estava no México, que em breve poderia ser preso, e pediu impeachment dos ministros do Supremo. "Para quem não sabe, eu estou no México e a Embaixada brasileira acaba de entrar em contato com o hotel onde estou. Em alguns momentos, provavelmente, a polícia vem aqui me recolher", diz no vídeo.
Outro alvo recente do STF foi a Aprosoja Brasil (Associação Brasileira de Produtores de Soja), que reúne 16 associações estaduais independentes e representa 240 mil produtores. Alexandre de Moraes determinou o bloqueio das contas bancárias da entidade nacional e da mato-grossense para evitar apoio financeiro aos atos do governo. A entidade, apoiadora aberta de Bolsonaro e em pautas de flexibilização fundiária, afirma que "não concorda e não apoia manifestações que preguem trancamento de rodovias, ações desordeiras e outras quaisquer que prejudiquem o abastecimento de alimentos". Também diz que não financiou atos violentos contra STF ou contra qualquer autoridade, e que defende a democracia e o equilíbrio entre os Poderes.
Um grande sojicultor de Sorriso, cidade produtora de Mato Grosso, que pediu para não ter o nome divulgado, afirma que as empresas da região apoiam em massa a posição do presidente contra o Supremo e que muitos empresários foram de caminhão até Brasília, com previsão de retorno para esta quinta.
Segundo ele, muitos reagiram mal à fala de Bolsonaro, que pediu para que as vias fossem desobstruídas, embora ele considere que o presidente esteja certo. Ele afirma que caminhoneiros que aderiram à paralisação são contrários ao STF e ao que chamou de censura a apoiadores do governo. Preço de combustível, segundo ele, não foi a motivação.
Marcelo Paz, caminhoneiro e um dos diretores do sindicato dos transportadores autônomos da Baixada Santista, afirma que a mobilização é essencialmente do agronegócio, com alguns motoristas autônomos que foram parando nas vias à medida que viam os bloqueios. "O agro, pessoal de soja, milho e algodão, colocou seu funcionários em caminhões, mas o autônomo mesmo não aderiu, só alguns, porque a pauta virou política", diz.
A Abrava, entidade comandada por Wallace Landim, o Chorão, um dos líderes da greve de 2018, não apoiou a manifestação. A CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas) também são contrários.
Folhapress
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