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Economia

- Publicada em 21 de Julho de 2021 às 15:02

'Vamos tentar reverter falência na Justiça', afirma sócio da Martau

Segundo Milton Martins, assembleia de credores que recusou o plano de recuperação judicial foi atípica

Segundo Milton Martins, assembleia de credores que recusou o plano de recuperação judicial foi atípica


MARCELO G. RIBEIRO/arquivo/JC
Vitorya Paulo
“Nós nos atrapalhamos. Hoje, analisamos que aceleramos demais”. É assim que reconhece o empresário à frente da Martau, marca gaúcha de eletroportáteis, Milton Martins, sobre a derrocada nas finanças da empresa que levou à decretação de falência na última semana. Após 60 anos de trajetória, a companhia, famosa pelos seus ventiladores, acumula dívidas na casa dos R$ 20 milhões com questões trabalhistas, instituições financeiras e alguns fornecedores. Segundo Martins, a assembleia de credores, que recusou o plano de recuperação judicial apresentado, foi atípica. Conforme justifica o empresário, o Badesul, um dos credores, possuía excesso de garantias de quitação de dívidas, visto que um dos ativos da empresa cobriria com sobra o valor devido. “Vamos buscar o direito ao contraditório. Vamos buscar que a Justiça determine uma nova assembleia, nos dê essa oportunidade para novamente o plano ser aprovado”, afirma.
“Nós nos atrapalhamos. Hoje, analisamos que aceleramos demais”. É assim que reconhece o empresário à frente da Martau, marca gaúcha de eletroportáteis, Milton Martins, sobre a derrocada nas finanças da empresa que levou à decretação de falência na última semana. Após 60 anos de trajetória, a companhia, famosa pelos seus ventiladores, acumula dívidas na casa dos R$ 20 milhões com questões trabalhistas, instituições financeiras e alguns fornecedores. Segundo Martins, a assembleia de credores, que recusou o plano de recuperação judicial apresentado, foi atípica. Conforme justifica o empresário, o Badesul, um dos credores, possuía excesso de garantias de quitação de dívidas, visto que um dos ativos da empresa cobriria com sobra o valor devido. “Vamos buscar o direito ao contraditório. Vamos buscar que a Justiça determine uma nova assembleia, nos dê essa oportunidade para novamente o plano ser aprovado”, afirma.
Jornal do Comércio - O que levou a Martau a começar a se endividar?
Milton Martins - Começou em torno de 2015. Mesmo que a nossa marca seja reconhecida nacionalmente, o nosso grande mercado sempre foi o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina. Convencidos por uma empresa de consultoria, fizemos um plano audacioso de conquistar todo o mercado brasileiro, principalmente no segmento de ventilação. O projeto contemplava mudar radicalmente o conceito da empresa de indústria horizontalizada para verticalizada. Dentro do plano, compramos e pagamos uma área de 36 mil metros quadrados no distrito industrial de Alvorada. Fizemos um projeto de uma indústria de 5 mil metros quadrados de pavilhão, mais estacionamento, logística, para produção inicial de 100 mil unidades por estação. Contratamos financiamento no Badesul, recebemos R$ 5 milhões. Sangramos o caixa da empresa com mais ou menos de R$ 1,5 milhão de recursos próprios para o aterramento, terraplanagem. Aceleramos contratos comerciais. Fomos muito bem recebidos, mesmo fora do Estado. Fizemos contratos com grandes redes. E, como um passe de mágica, teu produto está em mais de 400 pontos de venda espalhados pelo País. Todavia, os contratos com grandes redes são muito perigosos. Longos prazos para pagar, 120, 150 dias. Enfim, claro que a gente colocava tudo isso no preço. Mas uma indústria tem que colocar dinheiro na frente muito, muito tempo antes. Nós nos atrapalhamos. Hoje, analisamos que aceleramos demais. Tínhamos que ter desacelerado em algum momento. Mas ser empreendedor é correr risco. Acho que chegou um momento que tínhamos que dar uma freada, mas já tínhamos aberto tantas frentes que era difícil recuar. Mas foi fruto de um projeto ambicioso de expansão que, em função do contexto que vivíamos na oportunidade, começou a não dar certo e a empresa terminou se endividando. Razão pela qual ela fez um plano de recuperação judicial, reduzimos nosso efetivo, freamos e voltamos a horizontalizar a empresa. Fizemos economia de guerra, voltamos a focar nosso mercado para o sul, apesar que há muitos pedidos para fora do estado. Tanto é que, em índices muito pequenos ainda, desde abril estamos tendo resultado positivo, mas ainda em valores muito aquém do necessário.
JC - Como foi o período da pandemia em 2020?
Martins - O ano de 2020 não existiu para a nossa empresa. Em dezembro de 2019, foi deferida a nossa recuperação judicial. A partir daí, começamos a focar para quando chegasse o momento da assembleia. Em janeiro e fevereiro já começaram as informações da pandemia. Em março, minha empresa foi fechada até 17 de abril. Fizemos acordos de suspensão do contrato de trabalho. Em 2020, praticamente, eu trabalhei com um ou dois empregados. Mas para o nosso tamanho, foi quase zero o faturamento. Imagina se alguém, em 2020, ia comprar um ventilador de teto e deixar um técnico ir instalar?
JC - No que consistia o plano de retomada da Martau?
Martins - Originalmente, o plano previa para classe 1, trabalhista, um deságio de 10%, com pagamento em prazo curto, 12 vezes. Para a classe 2, um deságio maior, e assim sucessivamente. Para a classe dos bancos seria um deságio de 60% a 80%, carência de três anos, e seriam pago juros e correção. Basicamente, padrão para um plano de recuperação judicial. Depois, a empresa fez vários aditivos e na assembleia, que reprovou o plano, já estava consignado o último aditivo onde a empresa propunha: se o plano fosse aprovado, pagar 100% da classe 1 à vista e a todos os credores de até R$ 3 mil, igualmente, à vista. E ambos os casos, sem deságios. O ano de 2020, se por um lado não existiu em termos de operação, por outro, permitiu que a gente trabalhasse nas modificações da operação. Ou seja, nós voltamos a horizontalizar a empresa.
JC - O que aconteceu na Assembleia de credores e por que ela foi atípica?
Martins - Antes de uma assembleia geral de credores, a empresa tenta elaborar um plano mais honesto possível. Em todo momento, tomamos muito cuidado para não apresentar um plano somente para aprovar sabendo antecipadamente que não se poderia cumprir. Fizemos um plano bem pensado e tentamos alinhar com os credores antes. Fomos para a assembleia com a convicção de que teríamos êxito, mas tivemos algumas surpresas. A classe 1, que é trabalhista, aprovou. A classe 2 não aprovou, que tinha dois credores: o Badesul, que tem excesso de garantias, e um credor chamado Cerras & Cerras que, de um lado, nós somos devedores e de outro, eles também são os nossos devedores. Quando se protocola um plano, a gente informa para quem a gente deve, não de quem a gente tem que receber. Como eles são nossos credores e devedores, e a dívida que eles têm conosco é maior que o crédito, nós propusemos o plano, alinhamos com eles que além de quitar o crédito, aportariam na empresa, à vista, mais R$ 540 mil. Surpreendentemente, durante a assembleia, o credor votou contra o plano. Mas encerrada a votação, ainda durante a assembleia, ele disse que queria mudar o voto. Ao que o administrador judicial, cumprindo os ritos legais, informou que depois de encerrada a assembleia, os votos não poderiam ser mudados. Esse voto era fundamental porque, como eram dois credores, sabíamos que o Badesul ia votar contra e nós tínhamos argumento para arguir como voto abusivo, porque tinha excesso de garantias. Mas precisávamos do voto do Cerras. A classe 3 eram bancos. A Caixa pediu a possibilidade de a assembleia ser suspensa por mais uma semana porque eles tinham dúvidas, queriam analisar melhor o plano. Mas a assembleia, por pressão de um credor, terminou não aprovando a suspensão de uma semana. Então, a Caixa não votou contra nem a favor. Se absteve do voto. 
JC - Como a Martau vai tentar reverter a decisão da Justiça?
Martins - Estamos tentando ver a possibilidade dessa assembleia ser reestabelecida, para que o Cerras possa votar a favor, para que a Caixa possa se manifestar se aprova ou não. Para que a gente tenha tempo de conversar com esses bancos para perguntar por que eles não aprovaram o plano se eles estão me oferecendo extraplano. E eu não posso fazer nenhum acordo extraplano por uma questão legal.
JC - Caso consiga ser revertida a decisão, quais serão os próximos passos da empresa?
Martins - Eu não acredito que o Tribunal de Justiça vá reverter a decisão. Então, vamos buscar o direito ao contraditório. Vamos buscar, pelos argumentos que relatei, que a Justiça determine uma nova assembleia, nos dê essa oportunidade para novamente o plano ser aprovado. E enquanto isso não aconteça, pediremos que a empresa volte a operar porque, se ficar muito tempo sem operar, vai ficar difícil. Temos parcerias em andamento, pedidos em carteira. Então, se for revertido, vamos dar andamento aos projetos que fizemos, buscando atingir o faturamento mínimo de R$ 1 milhão ao mês até o final do ano.
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