Apesar do polo naval gaúcho estar longe da imponência que apresentou no passado, quando chegou a gerar milhares de empregos e implementar mais de uma plataforma de petróleo ao mesmo tempo, o Estaleiro Rio Grande apresenta no momento um maior otimismo com o reaquecimento do mercado de óleo e gás no Brasil.
No entanto, o diretor operacional da Ecovix (empresa que administra o complexo rio-grandino), Ricardo Ávila, frisa que a perspectiva da estrutura não é capitanear o desenvolvimento de encomendas, como ocorreu no passado, mas sim prestar serviços para as empresas internacionais que vencerem as licitações da Petrobras e que precisarão atender à exigência de um mínimo de conteúdo local nesses projetos.
“A gente não acredita que a Petrobras vai contratar direto (com estaleiros brasileiros), isso é uma coisa muito difícil, porque ela está contratando com estaleiros internacionais há bastante tempo e não deve mudar”, argumenta o executivo. O dirigente admite que é muito complicado para os empreendimentos nacionais competirem com os preços praticados pelas companhias de fora do País. Um exemplo disso foram as concorrências pelas plataformas P-78 e P-79 vencidas, respectivamente, pelos grupos estrangeiros Keppel Shipyard e consórcio Saipem e DSME. No entanto, Ávila destaca que essas encomendas também terão que atender a um percentual de 25% de conteúdo local, ou seja, as empresas ganhadoras terão que contratar alguns serviços no Brasil.
Para evitar a ociosidade do estaleiro gaúcho que, como toda a indústria naval brasileira, foi fortemente impactado pelo redirecionamento das demandas da Petrobras para o exterior e pelos reflexos da operação Lava Jato, a Ecovix buscou diversificar atividades. Dentro dessa estratégia, o complexo chegou a entrar na disputa pela construção de um navio antártico, solicitado pela Marinha brasileira, porém acabou desistindo da concorrência.
Ávila explica que, ao longo do processo, o estaleiro gaúcho percebeu algumas dificuldades técnicas para ir adiante com a iniciativa, pois não tinha experiência em projetos dessa natureza. “Ficou muito evidente que não seríamos competitivos”, revela o executivo. Ele acrescenta que o estaleiro ainda se encontra envolvido em um procedimento de recuperação judicial e não poderia insistir e desembolsar vultosos recursos em uma proposta, que provavelmente não teria êxito. Na ação envolvendo a embarcação antártica, o grupo contava com a parceria da companhia chilena Asmar, que tem mais know-how nesse tipo de atividade.
Enquanto busca novas oportunidades na área de óleo e gás, o Estaleiro Rio Grande continua seu acerto com o porto rio-grandino para a movimentação de cargas que o cais público não consegue operar devido a obstáculos como, por exemplo, falta de profundidade do calado. Um dos itens trabalhados mais frequentemente pelo complexo são as toras de madeira. Atualmente, entre colaboradores diretos e indiretos, o estaleiro emprega cerca de 120 pessoas.