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Infraestrutura

- Publicada em 20 de Junho de 2021 às 18:58

Matriz energética abre espaço para outras fontes

Geração eólica tem crescido no País; Rio Grande do Sul tem projetos importantes no Litoral Norte

Geração eólica tem crescido no País; Rio Grande do Sul tem projetos importantes no Litoral Norte


/LEE CELANO/AFP/JC
O Brasil vive a segunda grande crise energética em 20 anos e a pergunta que fica é: existe solução para esse círculo vicioso? Uma das saídas para o problema é a diversificação da matriz energética, que já começou e vai ganhar velocidade a partir dos próximos anos. Entre os destaques estão a energia solar e a eólica, em crescimento.
O Brasil vive a segunda grande crise energética em 20 anos e a pergunta que fica é: existe solução para esse círculo vicioso? Uma das saídas para o problema é a diversificação da matriz energética, que já começou e vai ganhar velocidade a partir dos próximos anos. Entre os destaques estão a energia solar e a eólica, em crescimento.
Segundo Cláudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B, o risco para a energia hidrelétrica aumentou bastante nos anos recentes, com as mudanças climáticas e o desmatamento na Amazônia. "O desmatamento tem efeito enorme no regime hidrológico", diz Frischtak.
Se a questão do desmatamento não está resolvida, a matriz energética brasileira vai ficar bem mais diversa nas próximas décadas. Em 2050, segundo estudo da consultoria Bloomberg New Energy Finance, cerca de 32% da energia nacional viria do sol, enquanto a hidrelétrica cairia para 30%. A eólica, por sua vez, subiria para 14,2%.
Para os próximos anos, o governo estima que será necessário incrementar a matriz energética em 6 gigawatts por ano. Boa parte desse número deve vir da energia solar. Somente em 2021, a Associação Brasileira da Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) estima que os investimentos serão de R$ 22,6 bilhões, o que geraria um crescimento de 4,9 gigawatts.
"O Brasil tem boa incidência solar de Norte a Sul, então dá para gerar energia elétrica com competitividade", informa Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar.
Algo que pode potencializar esses ganhos e aumentar a escala da geração distribuída, que é a modalidade de gerar luz para consumo próprio com placas solares. Tramita no Congresso o projeto de lei 5829/19, que é o marco legal da geração distribuída e traria mais segurança jurídica para investidores.
Atualmente, há instabilidade jurídica no segmento, já que toda a regulamentação ocorre por resoluções da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Nas contas da Absolar, o marco legal ajudaria a acelerar R$ 139 bilhões em novos investimentos até 2050.
Porém, há resistência de distribuidoras e também de instituições ligadas à defesa do consumidor. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), por exemplo, diz que há incentivos atuais para o setor que estão pesando o bolso dos mais pobres, que pagam contas de energia mais caras, enquanto os mais ricos conseguem se utilizar dos benefícios. A Aneel calcula que subsídios deverão ser de R$ 55 bilhões até 2035.

Fontes eólicas crescem no País

O Brasil atingiu a marca de 19 gigawatts de capacidade instalada em energia eólica, informou a associação do setor, Abeeólica, com 726 parques instalados e confirmando a fonte como segunda maior do País, atrás apenas da geração hidrelétrica, posição conquistada em 2019. No ano passado, foram gerados 57 Terawatts de energia elétrica pelo vento, o suficiente para abastecer 28,8 milhões de residências, ou 86,4 milhões de pessoas.
"Temos uma capacidade acumulada de 24,2 gigawatts até 2024, resultante dos contratos já realizados, tanto no ambiente livre como regulado, sendo que 8,8 GW são referentes ao mercado livre", afirmou a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum, na semana passada.
Em 2020, o Brasil manteve a sétima posição no ranking mundial do Global Energy Council (GWEC) e foi o terceiro país que mais instalou sistemas eólicos. No território nacional, o Rio Grande do Sul é um dos líderes na geração eólica e deve crescer ainda mais.
 

Alertas do TCU sobre sistema elétrico foram ignorados desde 2010

Sucessivos governos desde 2010 ignoraram alertas do TCU (Tribunal de Contas União) sobre falhas no sistema elétrico. Problemas estruturais que pesam no atual desequilíbrio do setor, em grande maioria, não foram sanados.
Com a crise atual, que se agrava mês a mês diante das previsões de menos chuva, a SeinfraElétrica (Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica) da corte montou um plano de monitoramento.
A intenção é cobrar soluções do governo Jair Bolsonaro e de órgãos vinculados, como a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Os problemas são antigos e se arrastaram também pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
O MME (Ministério de Minas e Energia) disse que sempre responde às recomendações do TCU. O ONS afirmou que busca melhorar a operação com base nos recursos disponíveis.
Foram identificados, desde 2010, por exemplo, dez problemas com potenciais de dano aos consumidores.
Somente um deles custa ainda cerca de R$ 3,5 bilhões por ano a mais nas contas de luz. Trata-se de um descompasso entre as chamadas garantias físicas das hidrelétricas (energia assegurada, ou prometida, para a venda) e a energia que elas efetivamente injetam no sistema.
Em 2014, o TCU recomendou ao MME que fizesse a revisão das garantias físicas. Segundo o tribunal, as hidrelétricas "têm gerado menos do que a energia assegurada".
Para contornar o problema, o governo criou um mecanismo de compensação entre as usinas. As que produzem menos que o prometido são cobertas pelas que produzem mais que o compromissado.
Na avaliação de técnicos, nos últimos anos o saldo de geração sempre foi aquém do esperado. Segundo o TCU, "não há um mínimo assegurado".
O problema não foi corrigido devidamente. Em 2018, o TCU constatou que as usinas entregaram 1,3 GW médio a menos do que o prometido. À época, o governo, porém, contratou 4,9 GW médios para cobrir o déficit de fornecimento das geradoras de energia.
Para isso, foram autorizados nove leilões, chamados de leilão de energia reserva, a um custo estimado de R$ 116 bilhões. Esse montante foi parar na conta dos consumidores.
O assunto virou alvo de um monitoramento específico. Segundo o TCU, o MME já deu início à revisão dessas garantias, mas ainda está incompleta por tratar "apenas variáveis econômicas".
Para o tribunal, faltaram estudos sobre consumo da água e produtividade das usinas. De acordo com a corte, sem essa revisão, não é possível ter o correto planejamento da expansão da capacidade de geração da energia elétrica e os consumidores se tornam reféns da pressão dos preços, sempre que as empresas precisam ir a mercado adquirir energia -mecanismo, em geral, mais caro.
Outra auditoria viu falhas nos modelos de cálculo de projeção de oferta e procura. Eles não consideravam o atraso de obras de geração, distribuição e transmissão.
Durante o monitoramento, os técnicos do TCU verificaram que metade de uma amostra de 137 obras em janeiro de 2015 atrasou por causa de dificuldades na obtenção de licenças ambientais por órgãos estaduais.
Essas licenças deveriam ter sido obtidas previamente. Com os atrasos, que chegaram a um ano no caso das transmissoras, a energia só entra efetivamente no sistema muito depois, tornando-se fator de risco no planejamento.