A Central Térmica Uruguaiana (CTU), que tinha previsão de gerar energia a partir de fevereiro para a rede elétrica brasileira, segue sem atender a esse objetivo. De acordo com informações do Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no sistema interligado do Brasil, a usina ainda não forneceu energia para essa rede neste ano, pelo menos até a última terça-feira (23).
A usina gaúcha a gás natural, que anteriormente pertencia ao grupo AES, foi adquirida pela argentina Saesa em setembro de 2020. A reportagem do Jornal do Comércio (JC) procurou a empresa para obter informações sobre a perspectiva de operação da térmica, mas não teve retorno. Anteriormente, o presidente de Saesa, Juan Bosch, havia comentado que a planta tinha iniciado as ações para comissionamento (processo que tem como finalidade verificar o funcionamento adequado da unidade) em 14 de fevereiro. Como a unidade estava há cerca de cinco anos inativa, alguns protocolos de segurança precisavam ser cumpridos.
Conforme Bosch, durante os testes, foi observada a necessidade de atualização de questões operacionais em uma subestação de energia e a meta era trabalhar para retomar as medidas de comissionamento o mais rapidamente possível. O dirigente não chegou a confirmar ou negar rumores que apontavam que os problemas do empreendimento poderiam estar também vinculados à falta de suprimento de gás natural.
A usina de Uruguaiana não produz energia de forma contínua desde 2009, justamente devido a dificuldades de oferta de gás natural proveniente da Argentina. A geração da térmica foi retomada, em caráter emergencial, em 2013, 2014 e 2015, por períodos temporários. O complexo foi o primeiro a operar com gás natural no Brasil. A geradora iniciou suas atividades em 2000 e tem capacidade instalada de 639,9 MW (o que corresponde a cerca de 15% da demanda média de energia elétrica do Rio Grande do Sul). Nessa atual volta à atividade, a tendência era que a unidade atuasse com em torno de um terço dessa potência.
O coordenador do Grupo Temático de Energia e Telecomunicações da Fiergs, Edilson Deitos, ressalta que a usina é uma importante fonte de geração de energia firme (que não oscila com as condições climáticas, como a eólica e a solar) para o País e, em particular, para o território gaúcho. No entanto, ele acrescenta que um dos pontos mais relevantes quanto à operação da termelétrica é que o empreendimento pode servir de "âncora" para justificar o aumento da oferta de gás natural no Estado. "O Rio Grande do Sul, com a térmica funcionando, vislumbra a viabilidade da conclusão do gasoduto de Uruguaiana até o polo petroquímico de Triunfo", argumenta o dirigente.
Deitos ressalta que, se a ligação entre a Fronteira Oeste e a região Metropolitana se transformar em realidade, o Rio Grande do Sul passaria a contar com duas fontes de entrada de gás natural (a outra é através do Gasoduto Bolívia-Brasil - Gasbol). Ainda sobre o combustível, o empresário adianta que na próxima terça-feira (31) está sendo agendada uma videoconferência de integrantes da Fiergs (entre os quais o presidente da entidade, Gilberto Petry) e o governador Eduardo Leite para discutir como tornar o gás natural um insumo mais competitivo no Estado.
Uma das sugestões defendidas pela classe empresarial é a diminuição das taxas aplicadas pela Sulgás (a estatal gaúcha responsável pela distribuição do gás natural) e a consequente redução da tarifa. Deitos alerta que as modificações propostas precisam ser praticadas antes do processo de privatização da estatal (previsto para ocorrer ainda neste ano), porque o comprador do grupo precisa ter o conhecimento de quais serão as "regras do jogo" para precificar a empresa.