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Economia

- Publicada em 21 de Dezembro de 2020 às 21:17

'É preciso saber a hora de deixar o comando', diz Clovis Tramontina

Executivo irá sair da presidência até 2022 e se dedicar ao conselho de administração

Executivo irá sair da presidência até 2022 e se dedicar ao conselho de administração


DÉBORA ZANDONAI/DIVULGAÇÃO/JC
Cristiano Vieira
Aos 65 anos, o empresário Clovis Tramontina não desanima quando fala de negócios, mesmo em um ano em que a pandemia de Covid-19 virou o mundo de cabeça para baixo. Tramontina explica que a doença obrigou as pessoas a repensarem suas vidas - e, nas empresas, não foi diferente. Apesar do susto inicial com os impactos da pandemia em março, a Tramontina irá fechar 2020 com crescimento de 36% sobre o faturamento do ano anterior, um "resultado surpreendente", confessa ele. Deste modo, a receita deve chegar a R$ 8,2 bilhões. A empresa também deve inaugurar, em maio de 2021, uma gigantesca e moderna fábrica de porcelanas, em Pernambuco, na qual investe R$ 300 milhões.
Aos 65 anos, o empresário Clovis Tramontina não desanima quando fala de negócios, mesmo em um ano em que a pandemia de Covid-19 virou o mundo de cabeça para baixo. Tramontina explica que a doença obrigou as pessoas a repensarem suas vidas - e, nas empresas, não foi diferente. Apesar do susto inicial com os impactos da pandemia em março, a Tramontina irá fechar 2020 com crescimento de 36% sobre o faturamento do ano anterior, um "resultado surpreendente", confessa ele. Deste modo, a receita deve chegar a R$ 8,2 bilhões. A empresa também deve inaugurar, em maio de 2021, uma gigantesca e moderna fábrica de porcelanas, em Pernambuco, na qual investe R$ 300 milhões.
Se a Tramontina segue acelerando, o empresário Clovis, por outro lado, decidiu pisar um pouco no freio - na prática, isto significa deixar a presidência da empresa até 2022. A ideia é manter a função no conselho de administração e se dedicar a um sonho antigo: um curso de formação de lideranças. Um assunto importante, segundo Clovis, quando se discute a competividade do Estado. Tramontina diz ainda é que "preciso dar um voto de confiança ao governador Leite, para que o Rio Grande do Sul siga em frente", citando as alterações do ICMS que o governo gaúcho tenta aprovar hoje na Assembleia Legislativa.
Jornal do Comércio - Como foi o ano de 2020, de pandemia, para a Tramontina?
Clovis Tramontina - Do ponto de vista pessoal, foi um ano em que as pessoas tiveram muito tempo para repensar sua vida. Divido em três pontos tudo que aconteceu neste 2020. Primeiro, as pessoas nunca valorizaram tanto a vida. Perdemos muitas vidas com a pandemia, e isso é muito triste. Perdemos mais pessoas nessa Covid-19 do que em muitas guerras, e para um inimigo invisível. O segundo ponto é que aprendemos a valorizar o tempo. Ele é muito precioso, e estamos vendo-o passar sem fazer tudo que fazíamos antes. E quanta gente desperdiçava seu tempo antes da pandemia? E o terceiro ponto foi a perda da liberdade, com o isolamento social. Muita gente ainda está em casa e quem está saindo é porque não aguenta mais. Então esses três pontos levaram a muita reflexão em 2020.
JC - Isso levou a mudanças de ordem pessoal?
Tramontina - Particularmente, essa reflexão chegou também à minha vida profissional. Vimos que não somos onipotentes, tem a hora de saber sair da empresa. Eu pensei bastante, e então durante o próximo ano, até 2022, devo deixar a presidência, ficando apenas no conselho de administração da Tramontina. E com a tecnologia percebemos que, mesmo em casa, podemos trabalhar. Vamos ter menos reuniões presenciais e seremos mais objetivos. Eu sou um sujeito que gosto muito de gente, então sinto muito essa mudança, me deixou chateado. Mas tenho que entender que essa é a nova realidade.
JC - Esse plano de desacelerar veio com a pandemia?
Tramontina - Sim, surgiu neste ano. Quero mais tempo para me dedicar à área de educação. Eu tenho um sonho que é montar um curso para formação de lideranças. Estou vendo parceria com universidade para levar adiante esse projeto. Não estou falando apenas de liderança empresarial, mas também de liderança política.
JC - E como foi 2020 para a Tramontina?
Tramontina - Quanto à empresa, a Tramontina vai fechar 2020 com crescimento de 36% em relação ao ano passado. Com as pessoas passando mais tempo em casa, elas cuidaram melhor da sua casa. Trocaram utensílios, compraram panelas novas, renovaram móveis. Brincando, muitas pessoas se descobriram chefs amadores, e esses chefs perceberam que precisavam de uma faca melhor, uma panela melhor. Isso foi o que melhorou nosso faturamento, um dos aspectos. É um resultado surpreendente, acima das nossas expectativas. E a venda on-line cresceu muito.
JC - Para 2021, a expectativa é manter esse crescimento?
Tramontina - Sem dúvida, queremos seguir crescendo dois dígitos. Tanto que devemos inaugurar uma nova planta para fabricar porcelanas em Moreno, no estado de Pernambuco. Um investimento de R$ 300 milhões, para levar porcelana da Tramontina para o mundo. É um projeto enorme, muito moderno, que vamos inaugurar em maio de 2021. Vou dar um exemplo: hoje, as alças das xícaras de cafezinho são coladas depois. A nossa será injetada em uma única peça. Mesmo com a pandemia, nós não paramos, seguimos investindo.
JC - Nas exportações, como foi 2020?
Tramontina - Vamos repetir praticamente o mesmo resultado de 2019, mas com uma rentabilidade maior devido à desvalorização do real frente ao dólar neste ano. Hoje os produtos Tramontina chegam a 120 países. Temos 16 estruturas comerciais nos cinco continentes, entre escritórios e centros de distribuição. Atendemos ao mundo todo. E são clientes com perfis diferentes. Se você pegar, por exemplo, a Papua Nova Guiné, um país da Oceania, o produto que mais vendemos lá é facão. Agora, imagina que precisamos mandar esse facão produzido aqui em Carlos Barbosa para o outro lado do mundo. E precisamos ser competitivos, pois eles estão perto da China.
JC - Nos últimos anos, a Tramontina investiu em lojas próprias. Essa expansão irá continuar?
Tramontina - Sim, nossa ideia é abrir de três a quatro lojas por ano, tanto em shoppings quanto lojas de rua. Este ano elas sentiram bastante com a pandemia, pois muitas ficaram fechadas devido aos protocolos. Elas são importantes porque permitem levar diretamente ao consumidor toda a linha Tramontina. Em Farroupilha e Carlos Barbosa, temos duas lojas de fábrica, as T-Factory Store.
JC - Quanto à pandemia, como foi na empresa a adaptação?
Tramontina - Atuamos com muita rapidez no sentido de adotar todos os protocolos necessários. Não perdemos nenhuma vida na Tramontina, isso nos orgulha muito - é fantástico, em um total de quase 9 mil pessoas trabalhando na empresa. Tivemos sim afastamentos, casos, mas isso faz parte.
JC - Houve alguma medida nova com o aumento de casos hoje?
Tramontina - Estamos preocupados com as férias dos funcionários, devido ao aumento dos casos. Então estamos conscientizando, pedindo para as pessoas manterem os cuidados. Antes das férias, distribuímos panfletos e fizemos vídeos explicando tudo. Não adianta proibir as pessoas de irem à praia. Tem é que conscientizar, pois não tem como botar um policial do lado de cada um para controlar tudo.
JC - Agora estamos no aguardo da vacinação no Brasil...
Tramontina - Logo teremos as vacinas, se são eficazes mesmo, apenas o tempo dirá. Se vier a vacina, vou fazer, porque é importante. Eu acredito na vacina. Entendo também que a medicina evoluiu, que se sabe mais sobre a doença desde o início da pandemia. Então acredito no retorno de um 'quase normal' em 2021 após a vacinação. Ainda morre gente, não deveria morrer ninguém dessa doença. Eu acho a morte uma coisa muito chata, não quero morrer.
JC - A Tramontina é sinônimo de qualidade para o consumidor. Qual a importância de investir na marca?
Tramontina - Nosso slogan é o prazer de fazer bonito. Mas o que o que significa isso? Que queremos produtos de qualidade para que nosso consumidor possa fazer bonito. Que ele fique feliz com nosso produto. É importante também continuar investindo em propaganda, por mais que se tenha uma marca consagrada como a Tramontina. É mais ou menos como ouvi em uma palestra: tu precisas colocar combustível no avião para ele sair do chão e voar, depois reduz um pouco o consumo, mas segue colocando combustível, senão o avião cai. Com uma empresa é o mesmo pensamento. A propaganda ajuda a manter o patamar que a empresa ocupa hoje.
JC - Tem como traçar um paralelo entre a competitividade uma empresa e o Estado?
Tramontina - Para sermos competitivos como empresa, precisamos também de um Estado competitivo. Eu gostaria muito que o Rio Grande do Sul voltasse a ser competitivo. Hoje é um Estado burocrático que não consegue pagar salários. O que quero dizer é o seguinte: (o ex-governador) Sartori já tentou fazer mudanças, e agora o governador Leite também quer fazer mudanças. Acho que está na hora de apoiarmos o governador, porque ele tem implementado medidas para reduzir o tamanho do Estado, como privatizações. Então devemos apoiar essas medidas do ICMS que ele propõe. Claro que, como empresário, eu quero reduzir ICMS, mas neste momento não dá. Precisamos dar um voto de confiança ao governador, para que o Rio Grande do Sul siga em frente.
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