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Consumo

- Publicada em 18 de Outubro de 2020 às 21:53

Sem fluxo de clientes, caem as vendas no Mercado Público de Porto Alegre

Atuais compradores não permanecem muito tempo no local

Atuais compradores não permanecem muito tempo no local


/JOYCE ROCHA
Reaberto no início de agosto, o Mercado Público de Porto Alegre tem dificuldades para recuperar o movimento do público perdido em razão da pandemia. Com a restrição de acesso aos clientes e a necessidade de medição da temperatura nas entradas, medidas necessárias para conter o avanço do novo coronavírus, representantes de estabelecimentos do local acreditam que o centro de compras se tornou menos convidativo para as pessoas que circulam no Centro da Capital. O movimento caiu já que muitos dos tradicionais frequentadores estão em casa, em home office.
Reaberto no início de agosto, o Mercado Público de Porto Alegre tem dificuldades para recuperar o movimento do público perdido em razão da pandemia. Com a restrição de acesso aos clientes e a necessidade de medição da temperatura nas entradas, medidas necessárias para conter o avanço do novo coronavírus, representantes de estabelecimentos do local acreditam que o centro de compras se tornou menos convidativo para as pessoas que circulam no Centro da Capital. O movimento caiu já que muitos dos tradicionais frequentadores estão em casa, em home office.
A gerente do Café do Mercado, Gabriela Giurno, apesar de reconhecer que é preciso estabelecer protocolos de segurança, percebe que o controle da entrada faz com que as pessoas percam muito tempo na fila esperando para entrar no centro comercial e, depois, são objetivas nas suas compras, passando menos tempo no Mercado. "Elas pegam duas, três senhas para poder comprar o quanto antes. A pessoa não espera, ela já ficou demais lá fora", relata Gabriela. Atualmente, só há permissão de acesso em dois pontos: no Largo Glênio Peres e na avenida Borges de Medeiros.
Ela comenta, também, que, desde a reabertura, o público que costumava frequentar o seu estabelecimento mudou. Antes da pandemia, a maioria dos clientes eram funcionários públicos. Agora, com a continuidade do home office, mantido por muitos escritórios e empresas, as pessoas deixaram de ir até o Centro. "Era um público que fazia uma diferença nas nossas vendas. Agora está bem diferenciado. Não é sempre o mesmo cliente semanal ou diário".
A migração de servidores públicos do Centro da Capital para o home office tem sido um dos grandes problemas para os comerciantes do local. Por representarem uma parcela significativa dos trabalhadores do entorno do Mercado Público, a categoria também constituía uma grande parcela dos consumidores, que passavam por ali diariamente antes ou depois do serviço.
A Banca 40, conhecida pelos seus sorvetes e saladas de frutas, é outro estabelecimento que sentiu a ausência deste público. Segundo o seu gerente, João Bonnel Júnior, o movimento de funcionários públicos, assim como o de bancários e o de pessoas idosas já aposentadas, diminuiu muito, o que acabou refletindo no desempenho do estabelecimento.
Em setembro, por exemplo, a Banca 40 vendeu o equivalente a 30% do que foi comercializado no mesmo período de 2019. "Está tudo fechado. Estão limitando as pessoas a entrar no Mercado. Em outras épocas, aqui, por exemplo, já tinha fila. Eu tinha umas 50 mesas. Hoje, tenho 25 e isso lota rapidinho", afirma Bonnel Júnior. "Esperamos que a situação melhore. Como o nosso produto é de verão, a tendência é que venda mais nos próximos meses", acredita.
No início do mês, o Mercado Público de Porto Alegre ampliou em 1h30min o horário de atendimento no local, que estava reduzido desde agosto. Agora, ele está aberto de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 19h30min, e aos sábados, das 7h30min às 18h30min. De acordo com o gerente da Banca 40, no entanto, esta alteração não faz muita diferença. "Olha, 18h30min, 19h, no Centro, já não tem mais aquele movimento. Com várias empresas fechadas no Centro de Porto Alegre, ainda vai demorar para voltar novamente", completa Bonnel Júnior. 
Quem discorda é o proprietário do Restaurante Gambrinus e presidente do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), João Alberto Cruz de Melo. Para ele, a ampliação do horário de atendimento do Mercado Público pode significar uma melhora na situação dos estabelecimentos, garantindo, também, a segurança dos colaboradores e clientes. "Quanto mais opções de horário as pessoas têm, mais fácil fica para realizarem as suas compras, e menor é o risco. Elas vêm em horários mais espaçados", afirma.
No tradicional restaurante do mercado, o público se mantém fiel. Apesar de estarem em menor número, os clientes do Gambrinus, de acordo com Melo, são os mesmos que costumavam frequentar o estabelecimento antes da pandemia. "Aquela turma mais antiga que gosta de vir no Centro passear ou fazer compras também está voltando devagarinho à vida", conta.
É o caso de César Fagundes Medeiros, frequentador assíduo do restaurante. Com a reabertura do Mercado Público, ele se faz presente constantemente no restaurante, considerado a sua segunda casa no Centro de Porto Alegre depois do seu trabalho. Medeiros, porém, não deixa de perceber a visível diminuição no movimento do local - onde ele lembra de, tempos atrás, ter que ficar esperando na fila para entrar. Atualmente, ele é um dos fiéis consumidores que vão ao local para almoçar ou tomar uma cerveja.

Para não perder consumidores, repasse de custos é feito de forma criteriosa

Junto à redução do movimento verificada durante a pandemia, o aumento dos custos das mercadorias aparece como outro empecilho na vida dos gestores dos estabelecimentos do Mercado Público, que precisaram encontrar maneiras de administrar a situação. No Restaurante Gambrinus, por exemplo, foi preciso reduzir o número de opções no cardápio para diminuir o serviço da cozinha e a quantidade de produtos adquiridos. 
O proprietário João Alberto Cruz de Melo conta que foi necessário, ainda, negociar com fornecedores um aumento no prazo de pagamento das mercadorias adquiridas. "Tem toda uma estratégia logística e administrativa para que se mantenha o preço. Isto é muito difícil de repassar, porque, se já tem pouco cliente, aumentar o preço complica", lamenta.
Na Casa de Carnes Santo Ângelo, o movimento hoje corresponde a 65% do que era antes da crise do coronavírus - e as despesas também subiram. Com o aumento no preço da arroba do boi verificado nos últimos meses, o açougue repassou um aumento médio de 6% na carne ao consumidor.
Pedro Albeche, um dos colaboradores da Casa de Carnes, conta que, em alguns cortes, foi preciso manter os valores para garantir a competitividade. Em outros, no entanto, essa saída não foi possível. "Nós não conseguimos manter. Temos que repassar isso ao consumidor, senão teríamos que demitir mais algum funcionário, e não podemos perder a qualidade. Se eu errar com algum cliente, ele nunca mais vai retornar ao meu balcão", afirma. Durante o período da pandemia, alguns colaboradores tiveram de ser dispensados, sendo necessário contratar freelancers.
O repasse de custos ao consumidor é feito de forma criteriosa entre os cortes. Segundo Albeche, os valores giram em torno de R$ 0,50 e R$ 0,20 por kg que, dependendo do volume adquirido, tem maior representatividade no valor final para o cliente.
Consumidor da Casa de Carnes Santo Antônio, Valdemir Diaz diz que a oscilação do preço não afetou as suas compras. "Para mim, continua o mesmo preço. Até deu uma oscilada no valor das carnes, mas tudo oscilou. Nada grande demais. Não fez muita diferença".
Na Banca 40 e no Café do Mercado, a situação não foi diferente. Gabriela Giurno, do Café, conta que, durante a pandemia, tudo ficou mais caro, ainda mais que a cafeteria trabalha com produtos importados, o que acaba pesando mais no orçamento do estabelecimento. Diante disso, a gerente explica que está sendo feito o possível para segurar os preços. Inclusive, alguns deles até baixaram na tentativa de segurar os clientes.
Bonnel Júnior, da Banca 40, diz que os custos não estão sendo repassados aos consumidores. Em consonância com outros comerciantes, ele acredita que um aumento nos preços levaria à perda de consumidores em um momento em que eles já são poucos. "Não adianta aumentarmos tudo e ficarmos esperando que o cliente venha à loja. Vamos continuar com o mesmo valor e esperar que ele volte, que as pessoas saiam para a rua de novo", completa.