Em meio à pandemia, estabelecimentos do setor gastronômico tiveram de apostar na criatividade para adequar os serviços às novas necessidades do mercado e manter as portas abertas. Nos últimos seis meses, essa não tem sido tarefa das mais fáceis, mas alguns empreendedores compreenderam as peculiaridades do momento e se reinventaram para manter a clientela e conquistar novos públicos.
Esse é o caso dos proprietários do Terra e Cor Gastronomia, no bairro Menino Deus. O restaurante, que opera há três anos na Avenida Praia de Belas, tinha o serviço de bufê de almoço como carro chefe, atendendo principalmente a servidores das repartições públicas e de escritórios localizados no entorno do Praia de Belas Shopping. Com as medidas restritivas impostas para enfrentamento da pandemia, os proprietários, Carolina Melo e Rafael Bensousan, viram de uma hora para a outra o público minguar, até a suspensão total do atendimento externo.
Rafael e Carolina, proprietários do Terra e Cor Gastronomia, readaptaram o estabelecimento à nova realidade do mercado. Crédito: Sérgio Gonzales/Divulgação/JC
Para se adaptar, tiveram de estruturar o delivery às pressas e repensar a proposta de atendimento. "Com a queda gigantesca do faturamento tivemos de diversificar e apostar na tele-entrega, investindo em embalagens e logística. Além disso, vimos que o bufê só faz sentido quando se tem um grande fluxo de pessoas. Por isso, desde que reabrimos ao público passamos a servir o que tínhamos no bufê à mesa, com a mesma variedade e qualidade", conta Carolina.
Se antes era servida uma média entre 200 e 300 refeições por dia, agora os empreendedores comemoram quando chegam a 30 refeições. Além do receio do público em voltar a comer fora de casa, o home office ainda adotado pela maioria dos antigos clientes tem dificultado a retomada. "Essa é uma peculiaridade do bairro, grande parte da clientela dos restaurantes trabalha em órgãos públicos, o que nos fez deixar de ter demanda nesse período. Mesmo com a permissão para reabrir, temos recebido uma média de apenas 15 pessoas por dia", explica ela.
Restaurante, que servia entre 200 e 300 refeições diárias, passou a atender menos de 10% de clientes no almoço. Crédito: Sérgio Gonzales/Divulgação/JC
Para tentar ganhar fôlego, o casal também passou a atender aos finais de semana e lançou há cerca de um mês o Gato Sushi, mais um braço de operações do estabelecimento, que oferece sequência de sushi presencial à noite, com adoção de todos os protocolos de segurança, além da opção por tele-entrega. Para ampliar a gama de público no jantar, há ainda opções de hambúrgueres do Terra e Cor, que já vinham sendo oferecidos tradicionalmente no restaurante. "Estamos vendo o atendimento à noite como alternativa para compensar a queda do faturamento diurno, que hoje não paga nem as despesas fixas", comenta a empreendedora, que não conseguiu reduzir o valor do aluguel da casa nesses meses de aperto, buscou um financiamento junto à Caixa e ainda equilibra dívidas acumuladas com bancos privados para manter o negócio.
Nesse período, houve apenas uma demissão entre a equipe, algumas suspensões de contratos de trabalho e concessões de férias, e os cerca de 10 funcionários também tiveram de se adaptar a novas funções, já que todos passaram a atuar de maneira mais colaborativa. "Tivemos de readequar escalas, reduzir horários de acordo com o volume de clientes e também deixamos de abrir para o café da manhã. Agora todo mundo se ajuda e faz um pouco de tudo", ressalta.
Nos planos mais a longo prazo, os proprietários planejam alternativas para o happy hour e pensam em ampliar a proposta noturna, enquanto aguardam a "volta à normalidade". "A nossa perspectiva de retomar os almoços como eram antes é para a partir de março de 2021, até lá pensamos em trabalhar novas experiências e percepções. Não podemos deixar a economia parar de girar", enfatiza a proprietária.