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Economia

- Publicada em 25 de Junho de 2020 às 00:07

'Vamos parar porque o Estado não fez seu papel', critica presidente da CIC Caxias do Sul

Gasparin, da CIC Caxias do Sul, acredita que desemprego irá aumentar

Gasparin, da CIC Caxias do Sul, acredita que desemprego irá aumentar


/JÚLIO SOARES /DIVULGAÇÃO/JC
Roberto Hunoff
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), Ivanir Gasparin, reconhece que a Covid-19 é uma doença difícil de ser controlada e que exige longos períodos de internação dos pacientes em unidades de terapia intensiva, condições para que seja tratada com muita cautela e responsabilidade. Mas tem posição crítica em relação às restrições impostas. Eduardo Leite participou de videoconferência com o setor recentemente e projetou reforma tributária. 
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), Ivanir Gasparin, reconhece que a Covid-19 é uma doença difícil de ser controlada e que exige longos períodos de internação dos pacientes em unidades de terapia intensiva, condições para que seja tratada com muita cautela e responsabilidade. Mas tem posição crítica em relação às restrições impostas. Eduardo Leite participou de videoconferência com o setor recentemente e projetou reforma tributária. 
Gasparin alega que o Estado não fez sua parte como havia prometido, em março, de equipar os hospitais, o que permitiria atender a grande demanda esperada por internações. Também cobra o fato de o Estado, na sua forma mais ampla, ter feito poucos sacrifícios quando comparado à comunidade em geral.
Jornal do Comércio - Na comparação com cidades de estruturas similares, como avalia a situação econômica e social de Caxias do Sul em função da pandemia do coronavírus?
Ivanir Gasparin - Acredito que seja muito parecido com as cidades de mesmo porte. Talvez até pior, porque paramos bem mais cedo, conseguimos achatar a curva, mas agora voltou a crescer e isto é preocupante. Já quando tomamos por base as cidades menores da região, a situação é bem pior, por causa da dependência muito forte que temos das atividades do comércio, dos serviços e da indústria. A maioria dos demais municípios da região tem economia mais voltada à agricultura, onde a repercussão do vírus é menor. Talvez estejamos melhor que as cidades dependentes do turismo, estas sim muito afetadas.
JC - Tem também a questão da indústria automotiva, muito forte na cidade, e que tem sido, nacionalmente, uma das mais afetadas?
Gasparin - Dependemos muito da indústria de autopeças, uma das mais afetadas pela crise sanitária. Só não é pior porque muitas das nossas empresas atendem o setor primário. O que preocupa muito é usar sempre a média como referência de queda. Tem se falado em 18% como média no varejo. Mas, em Caxias, as lojas ligadas ao vestuário já operam com baixas de 70% a 75%. A média esconde deformações. O mesmo ocorre com a indústria, tem empresas que praticamente fecharam, e algumas dobraram atividade. Neste momento, tem de verificar caso a caso para se ter uma visão mais real do que está acontecendo. Não dá para comparar, por exemplo, supermercados, que é atividade essencial, com os demais.
JC - Em que condições sairemos desta crise?
Gasparin - Todos irão perder. Temos muita desinformação, mesmo com o excesso de informes. Muita gente se passando por especialista, e basicamente de um lado só: do fique em casa. Concordo que o ideal seria ficar em casa, mas como fazer para pagar as contas? Tenho recomendado, dentro do possível, não buscar recursos no sistema financeiro. O capital de giro é bom para o curto prazo. Quem buscou este dinheiro e não vendeu nos últimos três meses terá um rombo enorme mais adiante. O sistema financeiro, como está sendo feito no Brasil, acaba prejudicando. São valores muito elevados para pagar. Creio que capital de giro deve ser de curto prazo e com alavancagem de venda. Mas não acredito que teremos esta alta no faturamento de forma imediata. Para recuperar a perda de agora é preciso planejar um fluxo de caixa de longo prazo. Está se vendendo uma ilusão de que buscar dinheiro para capital de giro é a saída. Na verdade, é muito perigoso.
JC - A forma do governo gaúcho atuar, na sua avaliação, está correta?
Gasparin - A doença é de difícil controle e exige muito dias de internação em UTI. No início, os governos usaram como argumento para a parada das atividades econômicas a necessidade de equipar os hospitais para atender a demanda de paciente. Mas até agora pouco foi feito. Para a Serra Gaúcha veio muito pouco. Então, precisamos continuar parando porque o Estado não fez o seu papel.
JC - E sobre a questão financeira?
Gasparin - Já de longa data o Estado tem problemas financeiros, não consegue nem pagar em dia os seus funcionários. Agora, o problema se estendeu para boa parte da iniciativa privada. Só que o Estado não abre mão de receber os tributos, exige pagamento integral do ICMS, por exemplo. Não ajuda o empreendedor sob o argumento de que está difícil para o Estado. Mas se está difícil para o Estado, imagine para o empresário.
JC - Em abril, Caxias fechou mais de 5 mil vagas formais. O desemprego seguirá em alta?
Gasparin - Acredito que deveremos repetir estes números em maio. Talvez, ao longo do ano, chegue-se a números próximos aos da última crise econômica, superior a 20 mil. Ainda tem a falta de informações mais apuradas. Ficamos limitados ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, que fornece informações somente dos que têm vínculo formal. Tem a questão da microempresa, que emprega basicamente o dono e familiares, que fecha seu negócio, por falta de condições de pagar impostos e demais despesas, mas não entra nestas estatísticas. Sequer baixa o CNPJ, porque não tem condições financeiras para arcar com este custo. Para quitar tudo isto, se conseguir, leva muitos anos. O Brasil talvez seja o único país no mundo com legislação que prejudica o empreendedor ao extremo. O devedor pessoa física que não pagar suas contas tem seu crédito restabelecido após cinco anos. Já a pessoa jurídica fica com esta dívida para sempre. Sequer conseguirá dar baixa no CNPJ. O empresário, hoje, é a corda mais fraca.
JC - Como avalia a ação dos governos frente à Covid-19?
Gasparin - Acho que faltam orientações. Se não descobrirmos logo uma vacina, creio que o que temos aí será o normal. Neste momento, as pessoas que ignoram esta situação estão mais contentes do que aqueles preocupados com o que pode vir a acontecer com o Brasil e com o mundo. O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, previu em abril que teríamos longo período de crise. Parece estar se confirmando.
JC - O setor empresarial de Caxias está empenhado na realização de campanhas para auxiliar a população e os hospitais, principalmente. Até quando será possível suportar estas iniciativas?
Gasparin - Está se encerrando, campanha precisa ser curta e intensiva. Acho que o melhor apoio do empresário, neste momento, é gerando emprego, pagando plano de saúde e impostos. Com isto, vamos conseguir chegar vivos mais à frente. O que dói é que no setor público não foi feito nada ainda, sequer campanha para arrecadar fundos para ajudar hospitais. Não é possível que estas pessoas, que não perderam emprego, não tiveram redução da renda, que têm salário garantido e bom, não estejam mobilizados para ajudar a sociedade. Quando falo em Estado, incluo todas as esferas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
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