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Sistema Financeiro

- Publicada em 24 de Junho de 2020 às 03:00

Pacote do BC pode gerar crédito de R$ 212 bi às MPEs

Parte das medidas já lançadas tiveram baixa adesão, diz Campos Neto

Parte das medidas já lançadas tiveram baixa adesão, diz Campos Neto


/JOSÉ DIAS/PR/JC
O Banco Central (BC) lançou, nesta terça-feira (23), novo pacote de medidas para ampliação da oferta de crédito em meio à pandemia do novo coronavírus. Desta vez, a autoridade monetária direciona os empréstimos às micro, pequenas e médias empresas. Juntas, as medidas têm potencial de gerar R$ 212 bilhões em novos empréstimos.
O Banco Central (BC) lançou, nesta terça-feira (23), novo pacote de medidas para ampliação da oferta de crédito em meio à pandemia do novo coronavírus. Desta vez, a autoridade monetária direciona os empréstimos às micro, pequenas e médias empresas. Juntas, as medidas têm potencial de gerar R$ 212 bilhões em novos empréstimos.
Desde o início da crise, muitas empresas reclamam que não têm acesso a crédito, mesmo com a injeção de liquidez anunciada pela autoridade monetária em março. "Todas as medidas do BC passam pelos balanços dos bancos e dependem de uma análise de mercado que levam em consideração o risco e o retorno de cada operação. Como não fazemos transferência direta, os recursos precisam ser canalizados pelo sistema financeiro", justificou o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Ele admitiu que a maior parte do crédito concedido depois do início da crise foi para grandes empresas. "Muitos recursos foram tomados pelas menores, mas a gente entende que a maior parte dos recursos foram para as grandes", reconheceu. "O objetivo claro [dessas medidas] é de direcionar para as micro, pequenas, médias empresas", disse.
Campos Neto também afirmou que parte das medidas lançadas pelo BC tiveram baixa adesão e alegou que isso ocorre em outros países. "Preferimos errar por fazer medidas demais do que fazer medidas de menos. Não temos o medo de errar fazendo medidas demais", disse.
Uma das medidas autoriza que o saldo das operações de crédito para capital de giro de empresas de faturamento anual de até R$ 50 milhões, contratadas entre 29 de junho e 31 de dezembro, seja deduzido do recolhimento compulsório sobre depósitos de poupança, pelo prazo de três anos. O Banco Central projeta que a iniciativa libere R$ 55,8 bilhões em recursos.
O recolhimento compulsório é a parcela do valor que investido pelo cliente em poupança que o banco precisa depositar no BC como forma de um seguro para diminuir a alavancagem - ou seja, que esse dinheiro seja emprestado indiscriminadamente.
Para obrigar a aderência dos bancos à medida, a autoridade monetária determinou que 30% do saldo do depósito não seja remunerado caso a instituição opte por Bancos que não possuem clientes com esse perfil ou que preferem não correr o risco poderão deduzir as aplicações em DPGE (Depósitos a Prazo com Garantia Especial) de instituições financeiras pequenas.
O DPGE é um título garantido pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) criado pelo BC no início da crise. O papel pode ser emitido pelo banco e pode ser comprado por qualquer investidor. "A fim de incentivar a aplicação, 30% do saldo da exigibilidade de depósito de poupança não será remunerada até o final do ano caso o montante total deduzido pela instituição financeira com as operações de crédito e as aplicações em DPGE não atinja 5% da exigibilidade dessas modalidades a partir de 10 de agosto e 10% a partir de 8 de setembro de 2020", disse o comunicado.
A outra iniciativa anunciada pelo BC reduz de 50% para 35% o fator de ponderação de risco dos DPGEs para participantes do FCG. Segundo o BC, a medida pode reduzir até R$ 1 bilhão de capital exigido pela operação e pode aumentar em até R$ 12,7 bilhões a capacidade de concessão de crédito.
Os bancos menores também terão requerimento de capital reduzido temporariamente. Com isso, haverá liberação de recursos de R$ 1,3 e potencial no aumento da capacidade de concessão de crédito de até R$ 16,5 bilhões.
O requerimento de capital é um instrumento de regulação bancária criado depois da crise financeira de 2008. A autoridade monetária exige que as instituições financeiras tenham um percentual mínimo de patrimônio para garantir que eles tenham recursos durante uma eventual crise. Ao diminuir essa parcela, o BC permite que os recursos fiquem livres para serem utilizados e aumenta o potencial de geração de crédito."
Além disso, a autoridade monetária lançou um sistema de otimização de capital. As instituições que quiserem emprestar em forma de capital de giro às empresas de pequeno e médio portes não terão que fazer provisionamento para os chamados "ativos decorrentes de diferenças temporárias".
Provisionamento é a quantia, proporcional ao valor do empréstimo, que os bancos devem manter em caixa para que a operação seja assegurada. Para terem o capital liberado, os bancos serão obrigados a concederem empréstimos para o segmento com prazo mínimo de três anos e carência de seis meses até o fim do ano. O potencial de geração de novos empréstimos é de R$ 127 bilhões.
Com os recursos, os bancos devem emprestar, no mínimo, 50% para empresas com faturamento anual de até R$ 100 milhões, 20% para empresas com faturamento anual entre R$ 100 e 300 milhões e 30% para programas com risco compartilhado com o governo (Pronampe, FGI e Pese).
 

Demanda de MPEs por crédito deve crescer 75% por causa de pandemia, estima FGV

 A pandemia de Covid-19 deve elevar a demanda de micro e pequenas empresas por crédito para R$ 472 bilhões neste ano, valor 75% superior aos R$ 270 bilhões concedidos em todo o ano passado.
Os dados são parte de um estudo realizado pelo FGVcemif (Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas) divulgado nesta terça-feira (23). A estimativa tem como base a receita dessas empresas por setor e a queda média de faturamento por conta da epidemia de um total de 17,3 milhões de empresas, incluídos 9,8 milhões de microempreendedores individuais, 6,6 milhões de microempresas e 900 mil empresas de pequeno porte.
Para os três primeiros meses de isolamento social e fechamento temporário de empresas por causa da pandemia, a demanda não atendida por crédito seria de R$ 57 bilhões. "O crédito é importante para essas empresas resistirem, pois elas podem se ajustar fazendo demissões, o que aumenta o desemprego num momento já de crise e recessão", afirma Lauro Gonzalez, coordenador do FGVcemif.
"Estamos falando muitas vezes de uma pessoa que vive daquela empresa e que tem um ou dois empregados. A sobrevivência dessa empresa significa a sobrevivência do próprio fluxo de renda dessa pessoa e dos seus funcionários."