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Economia

- Publicada em 15 de Junho de 2020 às 03:00

Rio Grande do Sul tem recorde em pedidos de seguro-desemprego

Ana Rosa Fischer diz que vulnerabilidade dos trabalhadores é grande

Ana Rosa Fischer diz que vulnerabilidade dos trabalhadores é grande


divulgação FGTAS
Adriana Lampert
Quarto estado brasileiro com mais solicitações de seguro-desemprego em maio deste ano, o Rio Grande do Sul registrou 66,8 mil pedidos do benefício. O índice representa um recorde na série histórica, iniciada em 2011, aponta a coordenadora do Departamento de Relações com Mercado de Trabalho da FGTAS, Ana Rosa Fischer.
Quarto estado brasileiro com mais solicitações de seguro-desemprego em maio deste ano, o Rio Grande do Sul registrou 66,8 mil pedidos do benefício. O índice representa um recorde na série histórica, iniciada em 2011, aponta a coordenadora do Departamento de Relações com Mercado de Trabalho da FGTAS, Ana Rosa Fischer.
Os recordes anteriores foram registrados em abril deste ano (53 mil) e em julho de 2014 (51,4 mil). Do total de 66.820 solicitações, 37.527 foram recebidas pela internet e 29.293, presencialmente nos postos de atendimento, sendo 97,5% nas Agências FGTAS/Sine. O número de requerimentos representa um aumento de 70,3% em comparação a maio de 2019 e de 25,9% em relação a abril de 2020. Deste contingente, 57.567 (86%) estavam habilitados a receber o seguro.
No mês passado, foram contabilizados 960.258 pedidos de seguro-desemprego no Brasil, com São Paulo (281.360), Minas Gerais (103.329) e Rio de Janeiro (82.584) liderando o ranking de solicitações. O número representa um aumento de 53% na comparação com maio de 2020 (627.779) e de 28,3% em relação a abril deste ano (748.540).
"Mas a vulnerabilidade e a precariedade entre os trabalhadores são ainda maiores do que esses números, uma vez que também é preciso considerar um universo de pessoas que teve redução de jornada com redução de salário, suspensão de contrato ou foi inserido na modalidade bolsa qualificada", explica Ana Rosa.
A coordenadora do FGTAS destaca, ainda, que a situação é pior para aqueles que migraram ou já viviam na informalidade. "Neste momento é fundamental que os governos façam ações voltadas a dar conta de prestar amparo a esta parte da população - caso do auxílio emergencial", informa ela, nesta entrevista ao JC.
Jornal do Comércio - Nota-se que o aumento de solicitações do seguro-desemprego está ligado à pandemia de Covid-19. E nos meses anteriores, como estava?
Ana Rosa Fischer - O número de solicitações foi muito grande nos últimos cinco meses, o desemprego já vinha crescendo antes da pandemia. Em janeiro, tivemos 32 mil solicitações, para se ter uma ideia. Mas há um dado relevante, que é a vulnerabilidade e a precariedade entre os trabalhadores serem bem maiores do que esses números do seguro-desemprego, porque ainda precisamos pensar no universo de pessoas que tiveram redução de jornada, com redução de salário; suspensão de contrato de trabalho e foram inseridas na modalidade bolsa qualificada (recebendo o seguro enquanto realizam um curso). E não estamos falando de pouca gente. É um número considerável de pessoas.
JC - Qual o perfil de quem está perdendo o emprego durante a pandemia?
Ana Rosa - A maioria é de homens, entre 30 e 39 anos, com Ensino Médio completo e que trabalhava na área de serviços ou na indústria, e recebia de um salário e meio a três salários-mínimos. Aliás, esse é um fato: o setor de serviços e a indústria demitiram muito nesse último mês, todos os dias recebemos solicitações de seguro-desemprego. Por outro lado, observamos, nas últimas semanas, que a indústria já vem disponibilizando novas vagas, com contratação de algumas pessoas, principalmente na Serra, em cidades como Caxias do Sul, Carlos Barbosa, Garibaldi e Farroupilha, em geral, na linha de produção. Mas a retomada é muito mais lenta que o boom de demissões.
JC - Qual a perspectiva para junho? 
Ana Rosa - Como ainda há muita incerteza em relação aos próximos meses, acho que vai levar tempo para que todos estes trabalhadores retornem ao mercado. A verdade é que ocorreram mudanças de consumo e, diante deste cenário de incerteza, mesmo que o comércio esteja aberto, acho que as pessoas estão pensando duas vezes antes de comprar, porque simplesmente não sabem o que vai acontecer no futuro. E, se a loja não vende, a indústria não precisa produzir para repor, então algumas fábricas acreditam que pode resolver só reduzindo a jornada, outras optam por demitir funcionários. Há uma depressão geral de todo consumo e produção. Tem loja aberta com meia dúzia de pessoas lá dentro. Ninguém tem uma saída para isso. Não conhecemos ainda a doença, é uma situação bem complexa.
JC - Quem são os informais no Rio Grande do Sul?
Ana Rosa - Há um universo enorme de pessoas na informalidade, basta ver o volume de gente que foi em busca do auxilio emergencial do governo federal - e nem todos conseguiram. Não há como negar que os informais - que ainda vemos no Centro da Capital, por exemplo, com imigrantes vendendo produtos nas calçadas e outras pessoas comercializando pão de queijo ou sanduíche - são uma categoria que está ainda pior que as outras. Com certeza, os informais são os mais frágeis.
JC - Como inserir esse contingente na formalidade?
Ana Rosa - Não sei se voltaremos a ter o patamar que tínhamos antes de tudo isso. E, se voltar, como vai voltar? Por exemplo, aqui, na fundação, trabalhamos com programas do governo federal, e, antigamente, todas as reuniões eram presenciais, com deslocamento para Brasília. Agora, passaram a ser on-line, e talvez nunca mais a gente viaje para lá. Se, de um lado, baixam os custos, de outro, é possível que, com menos venda de passagem, reserva de hotel e uso de táxi, se gere mais desemprego. Como essas pessoas vão se recolocar? Teremos que nos reinventar.
JC - Muito se fala no "novo normal" para vários setores. E para o emprego, o que esperar?
Ana Rosa - Ainda não temos noção da dimensão de quando tudo vai voltar ao normal. Empresas que estão com funcionários em home office descobriram que é possível que as tarefas sejam feitas de forma remota, então muitas mudanças tendem a ocorrer - não se sabe se para melhor ou para pior no que se refere aos benefícios para os trabalhadores. Também é importante lembrar que existe um número enorme de pessoas que não acessam a internet e que não podem fazer curso a distância, nem têm condições de trabalho remoto. Neste momento, é fundamental que os governos façam ações voltadas a dar conta de prestar amparo a essa parte da população. O auxílio emergencial é só um exemplo disso e que deve ser implementado.
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