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Conjuntura

- Publicada em 11 de Junho de 2020 às 21:20

Pandemia da Covid-19 reduz investimentos estrangeiros no País

Ingressos líquidos somaram US$ 234 milhões em abril, ante US$ 5,1 bilhões verificados em 2019

Ingressos líquidos somaram US$ 234 milhões em abril, ante US$ 5,1 bilhões verificados em 2019


MARCELLO CASAL JR//ABR/JC
Com a propagação global do coronavírus, a economia de todos os países foi afetada. No entanto, nações como o Brasil, que ainda dependem muito do capital que vem do exterior, têm esse impacto acentuado, pois viram esses recursos minguarem. Conforme os dados mais recentes do Banco Central, os ingressos líquidos em investimentos diretos no País (IDP) somaram US$ 234 milhões em abril deste ano, uma queda drástica ante os US$ 5,1 bilhões verificados no mesmo mês de 2019. É o menor valor de IDP para um mês de abril nos últimos 25 anos (em 1995, o resultado foi de US$ 168 milhões).
Com a propagação global do coronavírus, a economia de todos os países foi afetada. No entanto, nações como o Brasil, que ainda dependem muito do capital que vem do exterior, têm esse impacto acentuado, pois viram esses recursos minguarem. Conforme os dados mais recentes do Banco Central, os ingressos líquidos em investimentos diretos no País (IDP) somaram US$ 234 milhões em abril deste ano, uma queda drástica ante os US$ 5,1 bilhões verificados no mesmo mês de 2019. É o menor valor de IDP para um mês de abril nos últimos 25 anos (em 1995, o resultado foi de US$ 168 milhões).
No primeiro quadrimestre deste ano, os investimentos diretos no País chegaram a cerca de US$ 18 bilhões, contra US$ 23,3 bilhões registrados em janeiro a abril de 2019. A pandemia também refletiu no resultado da balança comercial brasileira. Segundo informações do governo federal, as exportações da primeira semana de junho deste ano (US$ 841,3 milhões) verificaram uma queda de 13,2% em relação ao mesmo período de 2019 (US$ 968,7 milhões). Já as importações caíram 29,4%, ficando em US$ 483,8 milhões, contra US$ 685,7 milhões apurados nos primeiros sete dias de junho do ano passado.
O professor de Ciências Econômicas da UniRitter Paulo Roberto Nunes Ferreira destaca que a redução mais acentuada das importações está relacionada também ao fator cambial. "O aumento da percepção de risco em relação aos países emergentes, que foi ainda mais forte em relação ao Brasil (devido aos problemas políticos internos), fez com que o nosso câmbio saísse da casa dos R$ 4,00 para quase R$ 6,00", destaca.
Nunes enfatiza que o País precisa do capital externo para avançar, já que não gera poupança doméstica suficiente para investir o que precisa para alavancar o seu crescimento. O economista lembra que o Brasil vinha com uma agenda de reformas que era bem-vista pelos detentores do capital, principalmente no exterior, mas, com a pandemia, gerou-se a preocupação de aumentar a chance dessas reformas não irem adiante ou seguirem de maneira mais enfraquecida. Ferreira admite que é difícil prever se os investimentos voltarão rapidamente ao País quando a situação do coronavírus for contornada. Ele defende que é essencial que o Brasil demonstre estar comprometido com uma trajetória de crescimento de longo prazo sustentável. Uma ação que pode ser tomada nesse sentido, conforme o economista, é a realização da reforma tributária.
Já o professor da Escola de Negócios da Pucrs Adroaldo Lazzarotto argumenta que o investidor, quando percebe que o risco ficou maior, acaba se retraindo em qualquer local do mundo. "Só que, como a pandemia se expandiu de forma diferente em vários lugares, o investidor se recolheu também de forma distinta", comenta. Lazzarotto aponta que a economia será mais afetada nas áreas em que o isolamento impactou fortemente o negócio em si, como transporte aéreo, turismo e hotelaria, entre outras. Por sua vez, segmentos como a tecnologia da informação e de alimentação sentirão menos os reflexos. Para o professor da Pucrs, o retorno do investimento acontecerá mais rapidamente nos setores em que ficam claras as possibilidades de crescimento de mercado (como TI e alimentação).

Interesse por privatizações deve permanecer

Ferreira diz que setor de energia elétrica é resiliente a crises

Ferreira diz que setor de energia elétrica é resiliente a crises


EMERSON MACHADO RAMOS/DIVULGAÇÃO/JC
Antes do estrago causado pelo coronavírus na saúde e na economia, dois importantes processos de privatização estavam em curso o País e envolviam o Rio Grande do Sul: parte do parque de refino da Petrobras (que abrange a refinaria Alberto Pasqualini - Refap, de Canoas) e o Grupo CEEE. Apesar dos efeitos da pandemia na economia e de possíveis atrasos na venda, a expectativa é que essas operações continuem atraindo interessados, inclusive do exterior.
De acordo com o professor de Ciências Econômicas da UniRitter Paulo Roberto Nunes Ferreira, a questão do coronavírus gera uma expectativa de receita com um negócio, em curto prazo, um pouco mais baixa. No entanto, também há muito capital estrangeiro buscando boas oportunidades de lucro e investimento. Nunes destaca que um setor como o de distribuição de energia elétrica, por exemplo, é extremamente resiliente a crises. Ele salienta, ainda, que o empreendedor que faz um aporte em um segmento como esse pensa em décadas, ou seja, a situação atual não deveria comprometer tanto os seus cálculos.
O professor da Escola de Negócios da Pucrs Adroaldo Lazzarotto também não acredita que o fator coronavírus vá afastar os empreendedores estrangeiros dessas movimentações - até pelo contrário, pode atrair mais interessados. Ele enfatiza que o investidor pesa, fundamentalmente, dois fatores: oportunidade e risco. "Em termos de oportunidade, sabemos que esse grande confinamento fez com que muitas empresas perdessem valor de mercado, resultado disso é investir menos (na aquisição dessas companhias) e ganhar mais no futuro", salienta.
Lazzarotto reforça que investimentos nas áreas de energia e petróleo são de longo prazo, o que acaba diluindo o risco. "A infraestrutura será uma área atraente, porque se tornou barata para comprar", aponta. Ele compara o cenário à oportunidade de adquirir uma casa que vale R$ 100 mil por R$ 80 mil. Em algum momento, projeta o professor, o ativo irá recuperar seu valor de mercado.

Experiência prévia no mercado local será essencial

Uma questão que será de grande relevância para a tomada de decisão sobre investimentos futuros no Brasil por parte de uma empresa estrangeira é se essa companhia já possui uma operação no País, avalia o presidente da Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul, Marcus Coester. "Os grupos que já estão estabelecidos e possuem um negócio em andamento, possivelmente esses investimentos continuam", destaca.
Ele cita o exemplo da alemã Fraport, que venceu a concessão do aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, e ficou encarregada de fazer diversas melhorias do complexo, entre as quais a ampliação da pista de pouso e decolagem. "Vai ter um impacto dramático nessa área de aviação, mas é um investimento em curso e é um empreendimento de longo prazo", salienta.

Um exemplo de manutenção de iniciativas em meio à pandemia é justamente a construção do novo Terminal de Cargas Internacional (Teca) do aeroporto da capital gaúcha, iniciada neste mês de junho. A ação absorverá em torno de
R$ 50 milhões entre fundação, infraestrutura, superestrutura, cobertura, instalações hidrossanitárias, elétricas e complementares.

Outro ponto que a pandemia atrapalha em relação aos investimentos de empresas alemãs ou de outros países, cita Coester, é o colapso da logística mundial. O dirigente recorda que a movimentação de mercadorias e equipamentos continua funcionando razoavelmente; contudo, o que depende do deslocamento de pessoas, como engenheiros para supervisionar uma obra, ficou praticamente inviabilizado neste momento. O presidente da Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul adianta que as nações vão buscar nas suas capacidades de investimento mobilizar, em um primeiro momento, a economia doméstica. Entretanto, essa ação dependerá muito do potencial da cadeia produtiva de cada nação.