Há 22 dias a prefeitura de Porto Alegre flexibilizou o funcionamento de bares e restaurantes na cidade. Desde então, 77,9% dos estabelecimentos filiados à seccional gaúcha da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reabriram as portas, e um total de 89,7% segue operando em sistema de tele-entrega e retirada no balcão, segundo levantamento feito pela entidade entre os dias 3 e 5 de junho. A pesquisa, no entanto, revela um dado preocupante e agravado pela crise causada pela pandemia da Covid-19: 50% dos estabelecimentos do setor correm risco de fechamento definitivo na Capital nos próximos 60 dias. Essa previsão, apesar de não distinguir a natureza dos negócios, atinge em cheio os bares, que tentam se adaptar às novas regras de convivência e sofrem com o impedimento de receber grupos e grandes confraternizações.
Sócio do Lagom Brewery e Pub, há uma década instalado no bairro Bom Fim, Maurício Chaulet conta que teve de adaptar a gestão para evitar fechar as portas da casa, localizada na rua Bento Figueiredo. Ao longo do período de maior restrição social, apostou no delivery de cervejas e hambúrgueres e no atendimento no sistema ‘pegue e leve’, serviços que não faziam parte das operações, para manter o atendimento à clientela fiel e garantir um mínimo de giro ao negócio. “Optamos por não parar, transformamos o atendimento interno em take away e partimos para a tele-entrega, que não fazíamos. Agora, com a reabertura a tele continua, porque nos parece um bom negócio, tivemos de nos adaptar ao momento”, conta.
As entregas, em um primeiro momento, foram feitas em parceria com um aplicativo, mas devido às altas taxas cobradas, passaram a ser executadas por motoboys terceirizados. Apesar da alternativa encontrada, o movimento caiu cerca de 60% no período e, como consequência, houve a necessidade de demitir um funcionário que atendia há sete anos no balcão do bar. Hoje, além dos dois sócios do empreendimento, que se revezam no balcão, foi mantido apenas um funcionário, na cozinha.
Com a queda de movimento, houve ainda a necessidade de redução de estoque e dos produtos oferecidos - das 12 torneiras de cervejas artesanais disponíveis, seis seguem funcionando-, além de negociação do aluguel da casa e com fornecedores. “É uma grande lição que fica, sempre fomos parceiros de nossos fornecedores, algo construído com o tempo, e isso foi essencial nesse momento de renegociarmos prazos. Se tu és um empresário que atrasa pagamentos e só chora, não tem credibilidade em um momento como esse”, comenta Chaulet.
Atualmente, o Lagom segue funcionando de segunda a sábado, mas atende a um terço da capacidade de clientes, por conta da necessidade de adaptação dos salões às regras de distanciamento exigidas – no mínimo 2 metros de distância entre as mesas. Houve ainda investimento em dispensers para álcool gel, que ficam espalhados pelo bar, além do uso de máscaras pelos atendentes. Segundo o empresário, apesar de ainda tímidos, os clientes têm começado a retornar e há público diário, geralmente casais e clientes individuais, o que, segundo ele, justifica os esforços e adaptações que vêm sendo feitos. “As pessoas ainda estão receosas em sair de casa e isso nos causa muita incerteza sobre o que virá. Não vejo outra saída até outubro, mas fechar nunca esteve nos nossos planos. Nos adaptamos ao momento e acreditamos que, aos poucos, vamos recuperar, saúde em primeiro lugar!”, diz Chaulet, comentando que em dias de casa cheia, antes da pandemia, o Lagom chegou a atender entre 60 e 80 clientes por noite.
Impacto da pandemia no setor de bares restaurantes da Capital