Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

tecnologia

- Publicada em 07 de Junho de 2020 às 20:29

Telemedicina avança e deve ficar como legado após a pandemia

Profissionais de saúde do SUS de todo o País passam a contar com um serviço de suporte psicológico remoto

Profissionais de saúde do SUS de todo o País passam a contar com um serviço de suporte psicológico remoto


National Cancer Institute/Unsplash/Divulgação/JC
Ter que lidar com medo, ansiedade e estresse já é uma realidade há algum tempo para muitos profissionais da saúde no Brasil. Com a chegada da Covid-19, quem está na linha de frente do combate à doença ficou ainda mais vulnerável.
Ter que lidar com medo, ansiedade e estresse já é uma realidade há algum tempo para muitos profissionais da saúde no Brasil. Com a chegada da Covid-19, quem está na linha de frente do combate à doença ficou ainda mais vulnerável.
Para tentar mitigar um pouco esse efeito, os profissionais de saúde do SUS de todo o País passam a contar, agora, com um serviço de suporte psicológico remoto. É o TelePSI, resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e que deve funcionar até setembro. A iniciativa conta com um investimento federal de R$ 2,3 milhões e tem Porto Alegre como sede nacional.
Em poucos dias, já foram mais de 200 ligações recebidas de profissionais da saúde do Brasil. "Os hospitais têm registrado um aumento gigantesco de afastamento dos seus profissionais em função de saúde mental. Além de estarem expostos ao risco, eles são os responsáveis por cuidar da saúde das pessoas afetadas e também sofrem estigma", comenta o coordenador-adjunto do projeto, psiquiatra do Hospital São Lucas e professor da Escola de Medicina da Pucrs, Lucas Spanemberg.
Iniciativas como essa só estão sendo possíveis em função da liberação temporária no Brasil da telemedicina. É o futuro sendo acelerado também na saúde. "Todas as áreas da medicina estão em processo de transição para o uso de novas tecnologias e para o atendimento remoto", observa.
Segundo ele, a terapia remota é uma modalidade ainda recente e são poucos os estudos sobre essa prática. Mas, aos poucos, o aprendizado vai sendo construído. Em uma teleconsulta psiquiátrica, por exemplo, questões como problemas de conexão à internet e a dificuldade do profissional avaliar a linguagem não verbal do paciente são alguns dos desafios. Bem como o fato de que o cenário do atendimento, em casa, nem sempre é o ideal, pois pode ter barulhos e falta de privacidade. Ainda assim, muitas pessoas já aderiram a esse modelo desde o início da pandemia. "Há uma diferença em relação ao atendimento presencial, mas, sem dúvida, esse tipo de atendimento só vai crescer daqui para a frente", projeta.
Outra iniciativa de terapia on-line no Brasil é da Psicologia Viva, plataforma de atendimento psicológico on-line da América Latina. Recentemente, a empresa fechou rodada de investimento no valor de R$ 6 milhões. O aporte foi liderado pelo Fundo Neuron Ventures, lançado pela Eurofarma para apoiar projetos de tecnologia com potencial de transformar o setor de saúde. Entre os investidores da startup já estão Hospital Israelita Albert Einstein, Grupo BMG e FespPart. A startup foi criada para democratizar a terapia e oferecer consultas psicológicas de qualidade. Apenas em março foram realizadas mais de 18 mil consultas na plataforma, um aumento de 200% em relação ao mês anterior.

Startups de saúde têm oportunidade de avançar com soluções

Englert é médico anestesista e um dos cofundadores da GROW+ Aceleradora de Startups

Englert é médico anestesista e um dos cofundadores da GROW+ Aceleradora de Startups


GROW+/Divulgação/JC
A oferta de serviço de telemedicina é um caminho sem volta, aponta o médico anestesista Cristiano Englert, um dos cofundadores da GROW Aceleradora de Startups e head do HealthPlus. "É um serviço que explodiu no Brasil e também é um fenômeno mundial. Mesmo nos Estados Unidos e na Europa, onde a telemedicina já era liberada, a demanda neste momento cresceu muito", analisa.
A perspectiva é de que a procura da telemedicina seguirá crescendo nos próximos meses. Isso deve acontecer, especialmente, entre os pacientes crônicos e de alto risco que precisam de um acompanhamento mais frequente, como cardiopatas e oncológicos. "A telemedicina tem funcionado muito para orientação e acompanhamento dos pacientes, e, no caso da pandemia, também tem acontecido de ser uma possibilidade para a primeira consulta, embora isso ainda seja mais raro", diz Englert.
Em alguns casos, entretanto, o modelo não se adapta bem, como no caso dos pacientes que precisam de atendimento urgente, como ao ter dor no peito ou sangramento. "Essas pessoas precisam inevitavelmente ir ao hospital", alerta.
Acostumado a conviver com o ambiente médico e também com o ecossistema das healthtechs, Englert comenta que o time da GROW já avaliou cerca de sete plataformas de telemedicina. São soluções interessantes sendo criadas com sistemas de streaming, resguardo de informações e emissão da prescrição médica. "As startups de saúde podem ajudar muito nesse embate contra a pandemia, apoiando desde a comunicação com informação de credibilidade dos casos e formas de prevenção. Há um boom, a cada dia uma nova solução surgindo, como de prontuários eletrônicos e plataformas de telemedicina", analisa.

Metacem cria assinatura digital para receitas

Uma das etapas essenciais da telemedicina é a que envolve a emissão da prescrição médica. Em tempos de isolamento social, exigir que os pacientes se desloquem para pegar uma receita com o seu médico se tornou inviável.
Isso levou a startup gaúcha Metacem a disponibilizar gratuitamente para os médicos o serviço de assinatura digital de receitas médicas. "É uma ferramenta importante para que os pacientes evitem a interrupção de seus tratamentos, especialmente aqueles que fazem uso de medicamentos que exigem retenção de receita e/ou receituário especial, como antibióticos, analgésicos, antidepressivos e alguns psicotrópicos", comenta o diretor-presidente da empresa, Daniel Freitas.
Lançada em 2012, a Metacem é uma plataforma desenvolvida exclusivamente para médicos, que conta com funcionalidades para facilitar a rotina do consultório, como prontuário eletrônico em nuvem. Para utilizar a assinatura eletrônica de receitas, o médico precisa se cadastrar em www.metacem.com, clicar em certificado digital e seguir o passo a passo.
Após a emissão da receita, o paciente receberá por SMS e por e-mail a confirmação e uma chave de acesso, que será usada pelo atendente da farmácia para, no momento da compra, baixar o arquivo PDF e confirmar autenticidade da assinatura.
"Acredito que esse padrão de assinatura deve continuar valendo mesmo depois desta pandemia, já que ela já tem sido usada no Brasil para comprovar assinatura em diversas outras demandas, como de contrato social", projeta Freitas.

TelePSI projeta realizar 10 mil atendimentos

São 36 psicólogos e psiquiatras, selecionados por edital do Ministério da Saúde para prestar serviços aos profissionais do SUS das 14 categorias da saúde que atuam nos atendimentos relacionados à Covid-19 e que sintam a necessidade de suporte, como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
A central de atendimento funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, pelo 0800 644 6543 (opção 4). A primeira ligação é para cadastro e avaliação. Um bolsista faz a triagem e encaminha para que a pessoa responda um questionário de sintomas, a partir do qual é feita uma estratificação. Se o cenário, por exemplo, apontar para risco de agressão ou suicídio, o profissional é encaminhado imediatamente para o psiquiatra. Senão, vai para um dos atendimentos psicológicos oferecidos.
A meta é atender, pelo menos, 10 mil profissionais de saúde. Essa é a primeira vez que a psicoterapia será utilizada pelo governo federal no teleatendimento em um contexto de pandemia, por isso, a ação subsidiará pesquisas sobre a eficácia de diferentes modalidades de psicoterapia.
O HCPA é o organizador do projeto, mas a iniciativa é endossada por diversas universidades, como Ufrgs, Pucrs, USP e Unifesp, pela Sociedade Brasileira de Psicologia, pela Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul e da Opas/OMS, entre outras instituições.