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energia

- Publicada em 03 de Junho de 2020 às 17:12

Pandemia continua a afetar crescimento da geração distribuída de energia

Expectativa de empreendedores é de que retomada se intensifique a partir do segundo semestre

Expectativa de empreendedores é de que retomada se intensifique a partir do segundo semestre


FREEIMAGE/DIVULGAÇÃO/JC
Tendo verificado até agora um desenvolvimento exponencial no Brasil, o setor da geração distribuída (produção de energia pelo próprio consumidor, modelo que se propagou muito no Brasil através dos painéis fotovoltaicos) sofreu e ainda enfrenta problemas com a pandemia do coronavírus. No entanto, os empreendedores estão otimistas que a demanda reprimida aquecerá o segmento já neste segundo semestre.
Tendo verificado até agora um desenvolvimento exponencial no Brasil, o setor da geração distribuída (produção de energia pelo próprio consumidor, modelo que se propagou muito no Brasil através dos painéis fotovoltaicos) sofreu e ainda enfrenta problemas com a pandemia do coronavírus. No entanto, os empreendedores estão otimistas que a demanda reprimida aquecerá o segmento já neste segundo semestre.
O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista, comenta que há dúvidas se essa retomada será suficiente para fechar o ano cumprindo a previsão de crescimento que se tinha inicialmente para 2020 ou se será um incremento abaixo do esperado. O dirigente detalha que, antes da expansão do coronavírus, a perspectiva era que se chegasse a pelo menos 4,5 mil MW em geração distribuída no País até o final do ano (o que seria suficiente para abastecer um estado como o Rio Grande do Sul). Para se ter uma ideia do rápido crescimento do setor, o Brasil fechou 2019 com 2 mil MW instalados em geração distribuída e em maio passado atingiu o patamar de 3 mil MW. Esses números consideram todas as fontes desse segmento, solar, eólica, biomassa, biogás e hídrica, porém quase a totalidade da potência desse setor deve-se à geração fotovoltaica.
Evangelista informa que pesquisa com empresas associadas da ABGD apontou que desde o início da pandemia 73,4% das companhias entrevistadas tiveram seu faturamento reduzido, 18,8% permaneceram com o desempenho inalterado e 7,8% chegaram a aumentar o resultado. Uma das medidas que o governo poderia adotar para apoiar o setor, indicadas pelos empreendedores nesse levantamento, seria a concessão de empréstimos sem juros. Segundo o dirigente, a geração distribuída deverá continuar crescendo bastante, apesar da crise. Contudo, Evangelista admite que, entre outros empecilhos para uma performance ainda melhor, está o elevado patamar do dólar (que reflete nos custos dos equipamentos). O integrante da ABGD acredita que esse fator será equilibrado pela perspectiva de aumentos nas contas de luz, que farão a geração própria ainda ser atrativa.
As projeções da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) também eram otimistas para 2020, antes da pandemia. A entidade esperava que mais 3,4 mil MW fotovoltaicos, dentro do segmento de geração distribuída, fossem acrescidos à capacidade de produção de energia somente neste ano. Isso equivaleria a cerca de R$ 16,4 bilhões em investimentos e 100 mil empregos proporcionados. Ainda não há uma estimativa revisada levando em conta o reflexo do coronavírus.
O presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, reforça que hoje existe uma demanda reprimida pela geração distribuída, até porque os consumidores, por conta da pandemia, mudaram seus hábitos de consumo para um modelo mais conservador para minimizar os gastos. “Uma vez que a gente saia dessa fase mais crítica, ainda existirá a vontade de instalar a energia solar para reduzir gastos com a eletricidade”, projeta. O dirigente argumenta que a velocidade e a extensão da retomada dependerão das ações de governo para acelerar a economia nacional.
Já o advogado especialista na área de energia da MBZ Advogados, Frederico Boschin, observa que o mercado de geração distribuída tem demonstrado uma grande capacidade de resistência. Ele também destaca que a perspectiva é que nos próximos anos ocorra um aumento na conta de luz, o que implicará uma maior atratividade quanto à prática. Além disso, a iniciativa possibilita uma maior segurança quanto ao abastecimento de energia. Contudo, Boschin salienta que inseguranças regulatórias podem ser obstáculos para um crescimento mais acentuado do setor. Ele acrescenta que o coronavírus afeta o segmento mais no sentido operacional do que na lógica do negócio.

Absolar defende atividade como essencial

Em virtude dos reflexos do coronavírus no setor elétrico, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) instituiu no dia 24 de março, com validade por 90 dias, a Resolução Normativa (REN) nº 878 que, entre outras determinações, estipulou que as distribuidoras devem preservar e priorizar o fornecimento de energia aos serviços considerados essenciais. O presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, diz que a medida continua causando impactos no setor fotovoltaico, já que alguns projetos de geração distribuída não estão sendo vistoriados por algumas concessionárias e por consequência não podem ir adiante. O dirigente sustenta que o governo federal deveria incluir, de forma clara, a geração distribuída como parte das atividades consideradas essenciais.
Ele informa que foi encaminhado um ofício à presidência da República recomendando essa ação. Como essa questão não está citada explicitamente na resolução 878, criou-se, de acordo com Sauaia, uma lacuna de interpretação. O dirigente ressalta que se entende as dificuldades que as distribuidoras possam enfrentar nesse período, contudo ele enfatiza que é essencial que se tenha a compreensão, por parte das concessionárias, para que não haja a interrupção completa das atividades de geração distribuída. O presidente executivo da Absolar reforça que o segmento pode ser uma ferramenta muito importante para a retomada da economia e de empregos.
Sobre problemas enfrentados com as vistorias que precisam ser feitas pelas distribuidoras para liberar a instalação de sistemas fotovoltaicos, o diretor da MGF energia solar Gerson Pinho afirma que percebeu essa situação em projetos implementados na área de concessão da CEEE-D. De acordo com a assessoria de imprensa da concessionária gaúcha, em atendimento à resolução da Aneel, a empresa reduziu o volume de vistorias para a energização de sistemas de mini e micro geração. Essa também foi uma das medidas de segurança tomadas pela companhia para evitar a propagação do coronavírus, já que essa atividade envolve grande interação das equipes com os clientes e seus técnicos em campo.
Ainda segundo a CEEE-D, com o acompanhamento da evolução da situação, a distribuidora adotou os devidos procedimentos de segurança e saúde recomendados e voltou a intensificar o agendamento e as vistorias para a ligação destes sistemas de produção de energia. A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) já se posicionou anteriormente que o setor elétrico passa por um momento atípico, sendo que as distribuidoras tiveram que mudar as suas estruturas de trabalho e priorizar a questão do fornecimento de energia.

Empresas mantêm confiança no setor

A geração distribuída tende a crescer, independentemente da situação atual, manifesta o diretor da MGF energia solar Gerson Pinho. Essa opinião é compartilhada por outros empresários, apesar dos impactos sentidos no começo da pandemia.
Pinho recorda que em março, quando o mercado teve o choque com o coronavírus, a companhia manteve a atuação através de vendas remanescentes de períodos anteriores. Naquele mês, a empresa montou um comitê de crise para traçar um planejamento quanto à postura que iria assumir durante o período de pandemia. Uma das ideias foi focar em clientes que estavam com atividades sólidas, como redes de supermercados, de farmácias, entre outros. Atualmente, ele afirma que já se percebe a recuperação na comercialização de sistemas fotovoltaicos.
No caso da epi Energia Projetos e Investimentos, a diretora da empresa Annelise Dessoy lembra que em março as vendas de sistemas de geração distribuída da companhia caíram praticamente a zero. A empresária detalha que o impacto foi sentido em todos os segmentos demandantes, industrial, comercial e residencial. Ela frisa que muitos consumidores estavam com receio de receber vendedores ou instaladores em suas casas. Porém, Annelise afirma que é possível notar que, lentamente, o mercado começa a perceber uma abertura. Atualmente, pelos cálculos dos engenheiros da epi Energia Projetos e Investimentos, um sistema fotovoltaico para atender a um consumo de 500 kWh ao mês custaria algo em torno de R$ 23 mil a R$ 25 mil. Lembrado que o cliente que implanta uma solução como essa pode abater da sua conta de luz créditos que ganha ao jogar a sua geração excedente na rede elétrica, diminuindo o valor que paga para a concessionária, mas ainda tendo que arcar com uma taxa destinada à distribuidora que corresponde ao custo da conexão com a rede.
O diretor-presidente do grupo Mazer, Rogério Fluzer, informa que março, abril e maio foram meses muito parecidos em termos de vendas, ou seja, com uma queda muito expressiva, relacionada à insegurança do mercado com a pandemia. Entretanto, ele destaca que se notou no final de maio um leve aquecimento e a expectativa é de que nos próximos três meses ocorra um retorno gradativo dos negócios. A Mazer abriu recentemente uma distribuidora de geradores fotovoltaicos em Porto Alegre e está migrando a maior parte da produção que mantém em Curitiba para a capital gaúcha. A empresa aproveitou o último mês para iniciar os testes de produções, aperfeiçoar treinamentos de funcionários e receber matéria-prima.