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Indústria

- Publicada em 19 de Maio de 2020 às 16:56

Rio Grande do Sul já perdeu 8,93 mil empregos no setor calçadista

Nesta semana, RR Shoes dispensou 535 funcionários em Santo Antônio da Patrulha e Caraá

Nesta semana, RR Shoes dispensou 535 funcionários em Santo Antônio da Patrulha e Caraá


PREFEITURA SANTO ANTONIO DA PATRULHA/DIVULGAÇÃO/JC
Com vendas afetadas pela pandemia - no mercado interno, mais recentemente, e nas exportações, desde fevereiro - o setor calçadista passa pelo agravamento no número de demissões no Rio Grande do Sul, que já chegam 8,93 mil pessoas. O número equivale a cerca de 10% do total de trabalhadores do segmento em dezembro de 2019, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Com vendas afetadas pela pandemia - no mercado interno, mais recentemente, e nas exportações, desde fevereiro - o setor calçadista passa pelo agravamento no número de demissões no Rio Grande do Sul, que já chegam 8,93 mil pessoas. O número equivale a cerca de 10% do total de trabalhadores do segmento em dezembro de 2019, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Nesta semana, a crise se abateu sobre a RR Shoes, que opera a marca Via Uno. A companhia demitiu, na segunda-feira (18), 420 funcionários de sua fábrica em Santo Antônio da Patrulha e outros 115 da unidade do município de Caraá - um total de 535 trabalhadores.
Segundo informações passadas pelo proprietário da empresa, Ramon Rabelo, ao prefeito de Santo Antônio da Patrulha, Daiçon Maciel da Silva, 340 pessoas seguirão trabalhando nas duas unidades, sendo 300 no pavilhão de Santo Antônio da Patrulha e 40 em Caraá. A loja da empresa, que fica no centro de Santo Antônio da Patrulha, também vai seguir vendendo direto ao consumidor.
Os desligamentos se somam a outros mais de 400 na Piccadilly em Santo Antônio da Patrulha, de acordo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Calçado e do Vestuário do Litoral Norte. O prefeito lamentou as demissões, lembrando que, além do impacto nas famílias dos famílias, as demissões também impactam fortemente as contas públicas. Somente em ICMS, a expectativa é de que os repasses para Santo Antônio da Patrulha caiam pela metade. Segundo a prefeitura municipal, apenas a fábrica da Piccadilly gerava 10% do ICMS adicionado do município.
“Do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), de R$ 1,1 milhão que receberíamos, deveremos receber somente R$ 600 mil. Porém, o grande impacto mesmo é sobre as pessoas que estão perdendo trabalho”, lamentou Silva.
As demissões de empresas calçadistas também já ocorreram em outras cidades, como Dois Irmãos, Picada Café e Osório. Em Igrejinha, por exemplo, a Piccadilly havia demitido 148 funcionários em abril, segundo a Federação dos Sapateiros. Em Teutônia, no fim de março, a RR Shoes já tinha dispensado 400 pessoas, encerrando as atividades da planta industrial.
A situação atual do setor calçadista será tema de encontro estadual da federação que reúne os trabalhadores do setor, onde a entidade fará um levantamento das demissões em 23 sindicatos, na próxima sexta-feira. Além dos empregos diretos, se avolumam também as demissões e fechamento de ateliers que atendem essas indústrias.
O problema, destaca o presidente do sindicato do Litoral Norte, Celso Inácio da Silva, vem se agravando em todo o Estado, dia a dia. “Santo Antônio tem cerca de 2,5 mil trabalhadores ligados ao setor, e em torno de 1,5 mil estão agora sem trabalho. Com toda essa pandemia, quem está comprando sapato? As encomendas, das lojas no Brasil e para os Estados Unidos e Argentina, estão paradas”, lamenta Silva.
A expectativa do sindicato é que até ao final dos cinco meses de auxílio-desemprego a situação esteja melhor e as empresas comecem a recontratar ao menos uma parte dos demitidos. O cenário é de apreensão em todo o setor, alerta Sandro Fagundes, membro do conselho fiscal da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Calçado e do Vestuário do Rio Grande do Sul.
“Onde ainda não houve demissões, já ocorreu redução de jornadas e salários. Mas isso vale por 90 dias, no máximo. O problema é como ficará depois deste prazo”, antecipa Fagundes.

No Brasil, 12% dos funcionários do setor já foram dispensados

A crise calçadista no Rio Grande do Sul reflete a situação do setor em todo o País. A falta de demanda do varejo doméstico aliada à queda nas exportações, em função do alastramento da pandemia da Covid-19, foram responsáveis, entre o final de março até o dia 19 de maio, pelo desligamento de 32,8 mil trabalhadores no setor, mais de 12% do total empregado na atividade (269 mil pessoas, em dezembro de 2019).

O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, ressalta que o fato de o varejo físico estar fechado, ou com restrições, na maior parte do País, é o principal motivo para o quadro. “O setor já está prevendo uma queda de até 30% na produção de calçados, o que significa mais de 260 milhões de calçados que não serão produzidos esse ano. Voltaremos ao patamar de 16 anos atrás”, lamenta, ressaltando que a entidade defende o retorno gradual, e seguro, às atividades do comércio.

Segundo o dirigente, como o mercado doméstico responde por mais de 85% das vendas do setor, o impacto é devastador para a atividade. “Com o varejo fechado não existem novos pedidos e a indústria não tem o que produzir. O resultado é esse quadro, de colapso econômico, que vem acompanhado da sua faceta mais cruel, que é o desemprego”, conclui.

Além da queda no mercado doméstico, que foi de quase 40% em março, no comparativo com o mesmo mês do ano passado, o revés nas exportações piorou o quadro. O dado mais recente aponta que, em abril foram embarcados 4,84 milhões de pares por US$ 30,3 milhões, quedas de 40% em volume e de 60,8% em dólares na relação com mesmo mês do ano passado. Em 2020, conforme a Abicalçados, os embarques devem cair entre 22,4% e 30,6%, ante 2019, fechando entre 89 milhões e 80 milhões de pares vendidos no exterior, pior resultado desde 1983.