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relações internacionais

- Publicada em 04 de Maio de 2020 às 03:00

Estado avalia impacto da saída argentina do Mercosul

Setor automotivo é um dos principais nas negociações entre os países

Setor automotivo é um dos principais nas negociações entre os países


/PORTO DO RIO GRANDE/DIVULGAÇÃO/JC
É cedo para falar se haverá impacto nas relações comerciais do Rio Grande do Sul com a Argentina a partir da decisão do país vizinho de ficar de fora das negociações em andamento no Mercosul. A análise é um consenso entre especialistas, que destacam a importância da parceria do fluxo comercial entre os países do bloco com o Brasil . Há também o entendimento de que o ideal seja resgatar a Argentina para a mesa de negociações, uma vez que qualquer acordo firmado sem a sua assinatura é inviável.
É cedo para falar se haverá impacto nas relações comerciais do Rio Grande do Sul com a Argentina a partir da decisão do país vizinho de ficar de fora das negociações em andamento no Mercosul. A análise é um consenso entre especialistas, que destacam a importância da parceria do fluxo comercial entre os países do bloco com o Brasil . Há também o entendimento de que o ideal seja resgatar a Argentina para a mesa de negociações, uma vez que qualquer acordo firmado sem a sua assinatura é inviável.
Com a declaração, feita na sexta-feira passada, de se retiraria de todos os acordos em negociação no Mercosul - à exceção dos já fechados com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre-Comércio (EFTA) -, o governo argentino torna mais evidente as diferenças ideológicas do atual presidente. "A eleição de Alberto Fernández como sucessor de Mauricio Macri já foi um sinal de que o Mercosul poderia não ter mais o apoio argentino nas negociações dos Tratados de Livre Comércio (TLC), uma vez que estes e o livre mercado fazem parte da agenda liberal, com a qual Fernández não compactua por diferenças ideológicas", avalia o doutor em Ciências Sociais, Francisco Américo Cassano.
Para explicar a situação, o secretário de Relações Econômicas Internacionais da Argentina, Jorge Neme, destacou, em reunião do bloco por videoconferência, que o país "sofreu, nos últimos anos, com políticas neoliberais responsáveis pela perda de uma parte importante do sistema produtivo e industrial, e pelo crescimento na pobreza e no desemprego".
Como o governo argentino adotou a medida para atender a prioridades de sua política econômica interna, agravada pela pandemia da Covid-19, o economista Andrés Ferrari Haines opina que a dúvida que fica é saber se haverá uma busca por diálogo entre os países do bloco ou a saída de um dos integrantes da União Aduaneira. "Aí, sim, podemos pensar em impactos não só para o Estado, como para o Brasil", pondera.
Ao abandonar as negociações para TLCs, a Casa Rosada destacou a "insistência" dos parceiros em promover o avanço de tratados com Coreia do Sul, Canadá, Índia, Líbano e Singapura. O texto assinala que o governo de Alberto Fernández protegeu as empresas locais e os mais pobres, uma prioridade diante da pandemia de coronavírus.
Na análise do professor de Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul André Reis da Silva, ao contrário do que vem sinalizando, o governo brasileiro "deveria investir no reforço do regionalismo, porque pode ser um dos elementos de ajuda para a recuperação econômica e um escudo protetivo para os próximos meses", em vista da crise mundial vinculada à pandemia. "O que se aponta é a rediscussão das cadeias globais de valores, que se tornariam mais chegadas no decorrer dos próximos três anos, com boa parte do comércio das cadeias industriais procurando locais vizinhos às suas plantas", argumenta Silva.
"O Mercosul, mesmo com seus problemas, é bom comercialmente por ser o principal bloco para nossas exportações de manufaturados", observa o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry. "Muitas pequenas e médias empresas gaúchas mantêm sua estratégia de internacionalização regionalmente, e o bloco resulta na melhor opção", complementa.
Petry ressalta que a parceria comercial entre Brasil e Argentina "é extremamente relevante, especialmente na cadeia automotiva". "É fundamental que essa decisão não afete outros acordos em andamento, como o automobilístico, prorrogado até junho de 2022, e que representa cerca de 50% do comércio entre os dois países", observa.

Brasil deve agilizar acordos com o país vizinho

O fato de a Argentina questionar suas políticas comerciais exige que o Brasil - e também o Rio Grande do Sul - tenha agilidade para negociar acordos em andamento e até mesmo iniciar novas tratativas. A opinião é do presidente da Fiergs, Gilberto Petry, ao argumentar que, no momento, o País investe para ampliar sua inserção global.
Segundo a Fiergs, a Argentina foi o quarto principal destino das vendas externas gaúchas, totalizando 5,07% das exportações de 2019. No ano passado, 9,2% das exportações gaúchas foram para o Mercosul, sendo que 55% desse montante foi destinado à Argentina. "Se considerarmos a qualidade da pauta exportada e importada, poderia se dizer que a Argentina é o principal parceiro comercial do Estado", enfatiza.