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Agronegócios

- Publicada em 27 de Abril de 2020 às 03:00

Pinhão deve ficar mais caro no próximo inverno

Preço por quilo pode chegar a R$ 18,00 em alguns locais do Estado

Preço por quilo pode chegar a R$ 18,00 em alguns locais do Estado


FERNANDO DIAS/SEAPDRS/DIVULGAÇÃO/JC
Seja cozido, tostado na chapa ou mesmo "sapecado" em uma fogueira, o pinhão é uma tradicional iguaria na região Sul do Brasil na época de outono e inverno. No entanto, quem quiser apreciar a semente da araucária neste ano terá que desembolsar mais. Com uma queda forte na safra, produtores e comerciantes enfrentam dificuldades para atender à demanda, e os preços já começaram a subir.
Seja cozido, tostado na chapa ou mesmo "sapecado" em uma fogueira, o pinhão é uma tradicional iguaria na região Sul do Brasil na época de outono e inverno. No entanto, quem quiser apreciar a semente da araucária neste ano terá que desembolsar mais. Com uma queda forte na safra, produtores e comerciantes enfrentam dificuldades para atender à demanda, e os preços já começaram a subir.
A média histórica de produção, por safra no Rio Grande do Sul, gira em torno de 900 toneladas de pinhão, de acordo com dados levantados pela Emater. Os últimos números oficiais, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são de 2018, quando os pinheirais gaúchos produziram 1.016 toneladas de sementes. No entanto, em 2019, a colheita foi em torno de 40% menor do que a safra do ano anterior. Para 2020, a expectativa é ainda pior.
Segundo a Emater, a colheita nas principais regiões produtoras - que começou oficialmente no Estado no dia 15 de abril - registra uma quebra que varia de 20% a 60% com relação ao ano passado, dependendo do município. "Essa redução foi influenciada por condições climáticas desfavoráveis, em especial, o clima seco no período de desenvolvimento do pinhão", explica a engenheira florestal Adelaide Juvena Kegler Ramos, assessora técnica da Emater em manejo de recursos naturais. Além disso, segundo Adelaide, os invernos menos rigorosos dos últimos anos também afetaram a safra, tendo em vista que a araucária precisa de frio durante o ciclo de dois anos de desenvolvimento das pinhas.
Os efeitos já têm sido sentidos pelos vendedores. Segundo o atacadista Ênio João Giordani, que é distribuidor de pinhão na Ceasa de Porto Alegre, está sendo necessário buscar o produto no Paraná, devido à escassez no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. "O que está salvando é o pinhão paranaense, mas mesmo lá a semente é de menor qualidade e está menor do que o normal por causa da seca. Aqui no Estado, o que a gente tem é recorde negativo de oferta", explica. Com 30 mil quilos de pinhão em estoque, acredita que com a chegada do frio o consumo deve disparar, pressionando ainda mais os preços. "Agora estou vendendo a R$ 9,00 o quilo, mas com o frio o pessoal compra mais e inflaciona."
No maior município produtor de pinhão do Estado, São Francisco de Paula, onde foram colhidas 70 toneladas em 2019, os efeitos da redução já são sentidos. "Na semana em que começou a colheita, o pinhão era vendido na nossa feira agrícola a R$ 8,00 o quilo. Agora já está R$ 10,00", destaca a chefe do Escritório Municipal da Emater, Sandra Loreni Almeida de Moraes Silva. De acordo com a Emater, os preços de comercialização no Estado poderão chegar até a R$ 18,00 o quilo, dependendo da região. Em supermercados de Porto Alegre, o pinhão já está sendo oferecido com preços em torno de R$ 17,00 o quilo.
Em São Francisco de Paula, segundo Sandra, 110 famílias realizam a colheita do pinhão. Para muitas delas, a atividade é uma parte importante de sua renda anual. "Muitos dos que trabalham na safra vivem em situação de vulnerabilidade social. Eles não possuem terras e fazem a colheita em propriedade de terceiros, pois muitos produtores têm araucárias mas não fazem uso como fonte de renda", explica.
Uma exceção no município é Vitor Moisés Gil, criador de gado leiteiro e produtor de queijo serrano. Em sua propriedade de 180 hectares, 60% é ocupada por mata nativa, onde costuma realizar anualmente a colheita do pinhão. Mas Gil está pessimista para a safra deste ano. "A produção vem caindo de uns anos para cá. Em 2018 colhi entre 4 e 5 mil quilos de pinhão. Ano passado já diminuiu para 1,5 mil a 2 mil. Agora, se eu colher de 500 a 800 quilos estará muito bom", destaca.
Essa redução forçou Gil a mudar a forma como comercializava o produto. "Antes eu vendia para um distribuidor, que comprava meu pinhão e revendia para mercados e Ceasa. Ano passado já não tive como oferecer para ele, só vendi para particulares. E agora até produtores de pinhão de municípios aqui de perto vieram comprar de mim para o consumo próprio por que não tinham nem para eles", afirma o produtor. Além disso, deixou de garantir encomendas. "Não adianta chegar aqui e encomendar 100 quilos de pinhão que não tenho como entregar", destaca.
Com a oferta reduzida, Gil também já aumentou os preços. Os primeiros 50 quilos colhidos foram vendidos a R$ 7,00 o quilo. "Quando vi que na Ceasa de Porto Alegre estavam vendendo pinhão do Paraná a R$ 9,00 ou R$ 10,00 o quilo, tive que aumentar. Agora vendo a R$ 10,00, direto na minha propriedade".
 

Vendedores têm dificuldades para conseguir o produto

Tendas de Fountoura Xavier estão repassando custos maiores para os clientes

Tendas de Fountoura Xavier estão repassando custos maiores para os clientes


Maria Izabel Battisti/Divulgação/JC
A colheita e venda do pinhão também é uma atividade tradicional em Fontoura Xavier, no Alto da Serra do Botucaraí. À beira da BR-386 estão instaladas 17 Tendas do Pinhão, cabanas que vendem, além da semente, artesanato e produtos coloniais. "Nessa época, de abril a agosto, costuma melhorar muito nossas vendas, pois as pessoas param para comprar pinhão e já aproveitam e levam outras mercadorias", afirma Maria Izabel Battisti, presidente da Associação dos Tendeiros de Fontoura Xavier.
No entanto,os comerciantes estão com dificuldade de conseguir o produto para oferecer aos clientes. "Ano passado cada tendeiro vendeu de 2 mil a 3 mil quilos. Agora, talvez não consiga nem 500 quilos por tenda", afirma Maria Izabel. "Pinheiros que produziam 30 quilos agora não tem conseguem um ou dois quilos, às vezes nem isso", lamenta.
Mesmo com redução de vendas gerais nas tendas devido ao tráfego menor nas estradas, causado pelas medidas para restringir o coronavírus (Covid-19), a escassez do produto tem pressionado o valor cobrado pelo pinhão, que já alcança de R$ 10,00 a R$ 12,00 o quilo. "Sabemos que está caro, mas está difícil conseguir, e somos forçados a repassar o custo maior para os clientes", explica a comerciante.
 

Rio Grande do Sul produz menos pinhão do que Minas Gerais

No Estado, apenas 362 mil hectares são cobertos por matas de araucária

No Estado, apenas 362 mil hectares são cobertos por matas de araucária


FERNANDO DIAS/SEAPDRS/DIVULGAÇÃO/JC
Apesar de ser um alimento tradicional no Rio Grande do Sul, a colheita gaúcha de pinhão é a mais baixa entre os estados brasileiros com áreas florestais relevantes com a presença de araucárias (excetuando São Paulo, que apresenta uma produção comercial praticamente irrelevante).
Ao longo dos anos, o Rio Grande do Sul vem se mantendo em terceiro lugar no ranking de produção, atrás de Paraná e Santa Catarina (que se alternam na primeira e segunda posição) e de Minas Gerais, onde a árvore está presente no Sul, especialmente na Serra da Mantiqueira.
Segundo os últimos dados oficiais, de 2018, da Pesquisa de Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS), do IBGE, a produção gaúcha, de 1.016 toneladas, representou 10,7% da colheita nacional de pinhão naquele ano (9.462 toneladas). Já Santa Catarina colaborou com 38,3% do total (3.621 toneladas), o Paraná com 34,7% (3.283 toneladas) e Minas Gerais com 15,9% (1.535 toneladas).
arte jc/divulgação/jc
De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), a araucária é considerada uma espécie criticamente em perigo. Da área da floresta original, espalhada entre Brasil, Argentina e Paraguai e estimada em 200 mil km2, 97% foi destruída no último século.
No Rio Grande do Sul, de acordo com o Inventário Florestal Nacional (IFN) de 2018, 4,04 milhões de hectares (15% da área do Estado) são cobertos por floresta naturais. Desse total, apenas 362 mil hectares (1,35% do território gaúcho) são de matas de araucária.
Segundo a IUCN, os pinheiros sobrevivem cada vez mais confinados em pequenos bolsões florestais ou como árvores isoladas em lavouras e pastagens, com plantas produtoras de sementes se tornando escassas.