Em uma sequência de problemas também enfrentados por outros setores devido ao coronavírus, e com o agravante de ser um produto fresco e com coleta diária, em alguns casos, o leite deve ter seu preço elevado em breve. Uma pequena alta, de 1,42%, no valor pago ao produtor já foi registrada em março em todo o país, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP).
No Rio Grande do Sul, porém, o movimento seguiu caminho oposto ao menos até mês passado. De acordo com o Cepea, o preço pago pelas indústrias ao produtor gaúcho caiu. Passou de, em media, R$ 1,32 em fevereiro para R$ 1,30 em março. Queda, portanto, de 1,15%, e com valores abaixo da média nacional e do pago, por exemplo, aos produtores da vizinha Santa Catarina, que remunerou com quase R$ 1,42 o litro em março ante R$ 1,40 um mês antes.
A alta nas gôndolas dos supermercados do Rio Grande do Sul, segundo levantamento da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), foi registrada entre fevereiro e março. O preço médio do litro de leite longa vida no Estado passou de R$ 2,68 para R$ 2,71 _ reajuste de 1,11%. As divergências em torno do preço do leite entre o produtor, a indústria e varejo já teria inclusive causado polêmicas e divergências, nesta semana, entre representantes do comércio e do setor industrial.
"Houve reajuste pela indústria nas duas últimas semanas. O que as indústrias vendiam em 30 dias em março, normalmente, venderam em 15 dias neste ano. E agora em abril começa tradicionalmente uma entressafra do leite, mas neste ano ocorreu antes,
com a estiagem", diz o presidente da Agas, Antônio Longo.
Divergências sobre a origem do aumento de preços ao consumidor, que já ocorre normalmente, neste caso se acirra por que os valores pagos ao produtor não estão acompanhando o mesmo movimento. De acordo com o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat), o valor inferior pago aos produtores gaúchos seria reflexo principalmente de dois fatores: frete e destinação do produto.
Darlan Palharini, secretário-executivo do sindicato, justifica que as indústrias do Estado têm custo maior de frente para levar a produção ao principal mercado consumidor, São Paulo, custo extra de até R$ 0,07 a mais a cada 20 litros.
“Além disso, Santa Catarina tem 60% da produção voltado para o queijo, quem tem maior valor agregado. No Rio Grande do Sul, gira em torno de 15%. Além disso, o setor trabalhou boa parte de 2019 com preços até abaixo do custo, no caso do Leite UHT, e agora se recompôs um pouco”, defende Darlan.
No varejo, diz Darlan, alta não é maior porque muitos comerciantes optam por trabalhar com margens mínimas no leite, ou até a preço de custo, para atrair os clientes. O produto, assegura o executivo, tem elevada variação de preço no comércio e precisa de atenção do consumidor na pesquisa que faz sobre os valores oferecidos.
“Eu mesmo já encontrei o litro a menos de R$ 3 em uma rede, a pouco mais disto em outra e até por R$ 4,5 em um mercado de bairro. A variação é muito grande, e sempre houve essas divergência sobre onde está sendo praticada a alta, se na indústria ou no varejo, ou em ambos”, opina Palharini.
E com a alta já registrada nos valores do milho usado na alimentação animal, por exemplo, devido a perdas na estiagem, e com custos maiores na indústria com novos processos de segurança contra o coronavírus, o valor ainda pode ter reajustes para cima nos próximos dias.
“Iogurte e requeijão tiveram produção e venda reduzidos, e são produtos de maior valor agregado. Boa parte era vendido para restaurantes, food services e outros negócios, muitos deles paralisados. Com isso, as margens da indústria ficam retraídas”, argumenta Darlan.