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Para o empresário Paulo Vellinho, que, à época, presidia a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Collor despontava como uma figura nos moldes dos ex-presidentes Getúlio Vargas (PTB), Jânio Quadros (PDC) e João Goulart (PTB), e o atual ocupante do cargo, Jair Bolsonaro (sem partido), como alguém que motivava uma esperança de mudança com o rompimento com o status quo. "O discurso dele me animava, me empolgava, porque parecia que ele seria um presidente que conseguiria mudar o País. O recado dele era tudo o que eu queria ouvir", conta.
Na condição de presidente da Abinee, Vellinho se reuniu com o então candidato Collor para sugerir que ele fizesse uma campanha sem depender do poder econômico. Segundo Vellinho, ele pensava que Collor deveria usar seu discurso, que era de mudança, para conclamar a sociedade a votar nele contribuindo com o que pudesse. "Ele disse que gostou, mas que não havia mais tempo físico para implantar", conta. Contudo, Vellinho afirma que o plano saiu muito caro, porque ninguém estava preparado para ficar sem capital. "Para mim, foi um desencanto", lamenta. "Cheguei à conclusão que o poder econômico era um bando de apátridas que só visavam ao poder."
Para o professor Simão Silber, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), o período entre o fim do governo Sarney e o começo do governo Collor era um momento de pânico, no qual o País caminhava, em sua avaliação, para a hiperinflação. "A inflação estava 2,5% ao dia, e a taxa de juros no overnight em 4% ao dia, isso agora é a taxa ao ano", relembra. Ele define o plano como "um ato de desespero, que acabou sendo feito porque o País estava na beira de uma guerra civil por causa da inflação alta".
Como muitos setores não tinham mais capital de giro e era necessário repassar dinheiro para prefeituras e estados para realizar serviços públicos, esse recurso aos poucos foi voltando à circulação, relembra o professor Silber. "Foi um trauma monumental, que acabou não resultando em nada." Para o professor, a iniciativa não tinha como dar certo por ser draconiana demais. "Se não tiver dinheiro e crédito, a economia para, trava", diz.
Luiz Carlos Mandelli, ex-presidente da Fiergs, conta que houve uma diminuição drástica do consumo que não representou uma queda inflacionária imediata. "No segundo mês já não funcionou. As exceções começaram a aparecer, então o efeito da medida não foi o que se esperava." Para o empresário, a decepção maior ocorreu com a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello. "Ela, em que pese ser uma economista competente, não tinha estatura para o ministério, porque não conhecia os detalhes da economia privada", afirma Mandelli. Silber também acredita que a ministra não tinha domínio o suficiente para exercer o cargo. "Ela tinha uma formação em história e teve um caminho muito tortuoso até o ministério", explica o professor.
Mandelli também afirma que houve um distanciamento não só da Fiergs como da classe empresarial brasileira nos desdobramentos do governo, uma vez que crescia o noticiário envolvendo o tesoureiro da campanha de Collor, Paulo César "PC" Farias. Farias foi peça importante no escândalo que acabou derrubando Collor em 1992 e foi encontrado morto, quatro anos depois, com sua então namorada, Suzana Marcolino.
Entretanto, mesmo com o afastamento e o eventual apoio ao impeachment, que foi encaminhado pelo presidente da Câmara dos Deputados, o recém-falecido deputado gaúcho Ibsen Pinheiro (MDB), Mandelli acreditava que Collor tinha uma proposta de modernização do País no governo, fora ter proporcionado uma abertura econômica. "A maioria do empresariado entendeu que a abertura ia incentivar a competitividade", conta. Além da abertura, Silber aponta que o plano conseguiu fazer avanços na área de reforma administrativa e em acelerar os programas de privatização, mas que o legado não é duradouro em comparação com o do sucessor de Collor, Itamar Franco (1930-2011), que foi o Plano Real, que conseguiu encerrar a hiperinflação.