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Economia

- Publicada em 09 de Março de 2020 às 03:00

Especialistas questionam recorte do PIB

Nota oficial diz que Bolsonaro adotou modelo que dá espaço à iniciativa privada

Nota oficial diz que Bolsonaro adotou modelo que dá espaço à iniciativa privada


Marcelo Camargo/Agência Brasil/JC
A Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República apresentou, em suas redes sociais, um recorte do PIB (Produto Interno Bruto) que não é usado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A presidência afirma que o PIB privado cresceu 2,75%, enquanto o PIB público recuou 2,25%. A estratégia é questionada por especialistas. A publicação, que cita o Ministério da Economia como fonte, afirma que, no modelo adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Estado deixa de ser protagonista e dá espaço à iniciativa privada.
A Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República apresentou, em suas redes sociais, um recorte do PIB (Produto Interno Bruto) que não é usado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A presidência afirma que o PIB privado cresceu 2,75%, enquanto o PIB público recuou 2,25%. A estratégia é questionada por especialistas. A publicação, que cita o Ministério da Economia como fonte, afirma que, no modelo adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Estado deixa de ser protagonista e dá espaço à iniciativa privada.
Na semana passada, o IBGE divulgou o resultado do PIB do ano passado, que teve alta de 1,1%, menor do que o projetado pelo mercado e pelo governo, e que consolidou 2019 como o terceiro ano seguido de fraco crescimento da economia. A publicação da Secom afirma que o resultado "fica abaixo do índice de mentiras de quem torce contra o Brasil" e que o recuo do PIB público é "bom para o Brasil".
De acordo com a professora de Economia da USP (Universidade de São Paulo) Laura Carvalho, a conta feita pelo governo não é reconhecida pelo IBGE e não é feita por outros órgãos estatísticos no mundo. "Isso fere os princípios básicos do conceito de PIB, que exige que se trate a economia como um todo", disse. 
Para ela, a conta é ideológica e traz problemas metodológicos. Essa separação cria distorções, segundo ela, porque, muitas vezes, bens produzidos pelo governo são consumidos pelas famílias. Produtos de empresas também são usados pelo governo, como na compra de medicamentos pelo SUS, por exemplo.
Outro problema, para a pesquisadora, estaria no fato de o cálculo do governo incluir investimentos de estatais na conta do setor privado. A professora também questiona o argumento do governo de que o crescimento privado está substituindo o setor público. "Não é que houve uma alocação melhor de recursos. O governo está com menos recursos e investe menos. Isso não tem de ser celebrado", afirmou.
O cálculo também foi criticado pelo economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-secretário de Política Econômica Manoel Carlos Pires. Para ele, a divisão entre PIB público e privado não faz sentido. "Quando o governo usa recursos para investir, de maneira geral, quem produz o bem de capital ou faz a construção é o setor privado, que é contratado para produzir esse tipo de bem ou de serviço. Por essa razão, essa abordagem está errada. Não existe PIB do governo", afirmou em artigo que analisa o estudo da Secretaria de Política Econômica (SPE).
O economista e professor da Unb (Universidade de Brasília) Roberto Ellery, que chegou a colaborar com a equipe econômica de Bolsonaro, também é crítico do modelo. Em artigo, ele afirma não ser novidade que o consumo do governo cresça menos do que o consumo das famílias e do investimento. O economista afirma que, dos últimos 23 anos, 15 registraram crescimento menor do consumo do governo em comparação com o consumo das famílias.
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