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Agronegócios

- Publicada em 03 de Março de 2020 às 10:35

Perdas com estiagem já somam R$ 5 bilhões no milho e na soja no Rio Grande do Sul

Cálculo leva em conta apenas os prejuízos com a comercialização que deixa de ser feita

Cálculo leva em conta apenas os prejuízos com a comercialização que deixa de ser feita


Prefeitura de Vale Verde/Divulgação/JC
Atualizada às 21h20min.
Atualizada às 21h20min.
A estiagem, que segue avançando no Estado e que, em breve, pode se configurar em seca, causou, até o momento, a perda direta e irrecuperável de R$ 4,8 bilhões apenas com os danos já confirmados nas lavouras de milho e soja.
O prejuízo para o Rio Grande do Sul como um todo, porém, é muito maior. Isso porque o cálculo feito pela Emater, que divulgou, nesta terça-feira, na Expodireto, a nova estimativa da safra 2019/2020, leva em conta 1,2 milhão de toneladas perdidas no milho e 3,2 milhões de toneladas na soja que deixarão de ser comercializados pelo produtor.
Segundo o levantamento feito a campo até o dia 28 de fevereiro pelos técnicos da Emater, a quebra na soja alcançou 16% das lavouras semeadas. Assim, das 19,7 milhões de toneladas previstas no início do plantio para a colheita de 2020, deverão ser colhidas 16,5 milhões de toneladas. Número que ainda poderá ser revisto para baixo, alertou o secretário da Agricultura, Covatti Filho. "Não há perspectiva de chuva para os próximos 10 ou 15 dias, justamente com a soja em fase de enchimento", lamentou Covatti.
No milho em grão, comercializado no mercado, a retração registrada é de 5,95 milhões de toneladas para 4,7 milhões - uma perda de 21%. No caso do milho silagem, utilizado na alimentação animal, os números são ainda piores, explica Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater: estavam previstas 12,5 milhões de toneladas - agora, serão 9,9 milhões (uma redução de 2,5 milhões de toneladas a menos para ração animal). "Ou seja, ainda se soma ao dano a necessidade que o produtor terá de comprar fora do Estado o insumo para alimentação de animais na propriedade", alerta Rugeri.
Para amenizar os prejuízos, o governo do Estado anunciou que irá liberar, nos próximos dias,
R$ 4,5 milhões para o programa Troca-Troca Forrageiras - subsídio para aquisição de novas cultivares. A esse valor, de acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), serão acrescidos outros R$ 2 milhões vindos da União.
"O programa é importante para que o produtor - especialmente aquele que trabalha com leite, por exemplo - possa comprar semente para pastagem. Cada produtor pode utilizar até R$ 300,00, limite que estamos tentando elevar para R$ 500,00, com subsídio de 30%", explica Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS.
Com a estiagem, ao contrário da produção crescente das últimas três safras, que encerraram com saldo positivo, os resultados da colheita de verão 2019/2020 devem finalizar com uma produção de 28,7 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, com Valor Bruto de Produção (VBP) de
R$ 32,72 bilhões.
Na safra 2018/2019, o resultado de todos os plantios de verão foi de 31,5 milhões de toneladas entre os principais grãos (soja, milho, arroz e feijão), com VBP de quase R$ 31 bilhões. A retração do valor só não será maior graças à alta do dólar, que valoriza especialmente o preço da soja, explica Rugeri.
Ontem à tarde, integrantes da Câmara Setorial da Soja decidiram solicitar à Emater uma atualização dos dados referentes à estiagem na soja. Segundo análises dos integrantes, a quebra na oleaginosa já estaria em 30% e pode alcançar 40% caso não chova nos próximos dias.

Soja deve ter incremento de preço e demanda, diz especialista

Mendonça de Barros trouxe perspectivas positivas para os produtores, durante o Fórum Nacional da Soja

Mendonça de Barros trouxe perspectivas positivas para os produtores, durante o Fórum Nacional da Soja


ALEXANDRO AULER/JC
Em meio às muitas preocupações atuais em torno da estiagem e das perdas nas lavouras gaúchas, um cenário de otimismo preponderou no 31º Fórum Nacional da Soja, realizado durante a programação da Expodireto, em Não-Me-Toque, nesta terça-feira (3). Principal palestrante do evento, Alexandre Mendonça de Barros, engenheiro agrônomo e doutor em Economia Aplicada, falou para um auditório lotado e sedento por boas notícias.
A apresentação não foi planejada com um enfoque positivo para agradar ao público. Barros mostrou, a todo momento, embasamento para cada ponto defendido a favor da soja brasileira durante a palestra Perspectivas da Economia Agrícola no Brasil e no Mundo. Integrante do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), professor da Fundação Dom Cabral e sócio da MB Agro Consultoria, o especialista aposta que a cotação da oleaginosa poderá, entre 2020 e 2021, alcançar um patamar de até US$ 12, ante os atuais cerca de US$ 9. Com a projeção do dólar igualmente elevada, acima dos R$ 4, os ganhos para o produtor são uma possibilidade bastante concreta.
A lista de fatores que devem levar ao incremento incluem a recomposição do plantel suíno chinês nos próximos anos- reduzido à metade para conter a peste suína africana- e até mesmo o atual fantasma global, o coronavírus, que poderá ao longo dos próximos meses beneficiar as exportações de alimentos, avalia Barros. Inclusive, como forma de combater a doença, explica ele, já que o corpo bem nutrido é parte fundamental para a manutenção da saúde e a segurança alimentar é uma prioridade chinesa. "No momento há, sim, um represamento do consumo e contêineres abarrotados de carne nos portos, mas creio que a partir de maio a situação se normalize e estimule as importações de alimentos. Não consigo ver fragilidade na demanda por proteína e soja”, explica o executivo.
Barros, obviamente, não ignora o caos gerado atualmente pela doença nos mercados mundo afora, mas avalia que poderá ser parte da política chinesa passar a importar mais alimentos. E, neste sentido, diz, o Rio Grande do Sul poderá ser um dos grandes beneficiados, com embarques de grãos, carnes e leite, por exemplo. Há quem tema que o recente acordo com os Estados Unidos, que prevê prioridade de compra da soja norte-americana, venha a afetar a demanda pela soja brasileira. Barros, porém, descarta essa possibilidade. “Se os Estados Unidos exportarem mais soja para China, terão que importar do Brasil para abastecer seu mercado interno, que tem consumo gigante, assim como a imensa produção de proteína animal demandando o grão”, opina Barros.