Apesar da reciclagem vir ganhando força no Brasil nos últimos anos, muitos rejeitos acabam não tendo novos aproveitamentos. Pensando em ampliar as possibilidades de reutilização de materiais, a cooperativa BIO 8, uma startup de São Leopoldo, trabalha com o que chama de tecnologia para valorização de resíduos, aproveitando produtos descartáveis, que não têm mais valor comercial e que, inicialmente, seriam destinados aos aterros sanitários. Podem ser utilizados insumos como poliéster, serragem, plásticos que normalmente não seriam reciclados, borracha, entre outros.
O diretor de Relacionamento da BIO 8, Luciano Suminski, enfatiza que itens que já possuem retorno financeiro garantido, como latinhas de alumínio, não são o foco da cooperativa. O interesse está em reaproveitar algo que nenhuma outra empresa consegue. "Trabalhamos com a transformação de resíduos que, hoje, vão para aterros sanitários, que representam custos para as empresas e ônus ambiental para a sociedade como um todo", reitera.
Conforme o dirigente, apesar da vigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei nº 12.305/12 -, apenas 3% dos rejeitos do Brasil são reciclados. Dos que são direcionados para reciclagem, 60% são considerados sem valor comercial e, portanto, descartados. Um caso em que a cooperativa atuou foi a fabricação de móveis, como mesas e bancos do Canal Café - estabelecimento que fica próximo ao Tecnopuc -, para os quais poliéster é misturado com BOPP (material usado em saquinhos laminados de salgadinhos, por exemplo).
A BIO 8, juntamente com a AVM Engenharia, de Rio Grande, são as duas startups gaúchas que estão entre as 18 empresas selecionadas no programa Aceleradora 100 , da Ambev. As companhias concorrem a um prêmio de R$ 100 mil e à oportunidade de apresentar seus projetos a investidores na sede da ONU, em Nova York. O grupo rio-grandino possui experiências no uso de garrafas de vidro na construção de casas.
Com a Ambev, Suminski diz que a BIO 8 está analisando a possibilidade de utilizar rejeitos plásticos da cervejaria para a produção de outro material e uma opção estudada é a fabricação de paletes. O dirigente salienta que uma vantagem dessa espécie de "madeira plástica" que seria utilizada como matéria-prima seria resistência, impermeabilidade e imunidade ao ataque de cupins.
Suminski comenta que a filosofia da cooperativa é tratar a questão da sustentabilidade ambiental, mas com reflexo econômico saudável para as empresas. Ele recorda que já foram feitos diversos testes de misturas. Um caso curioso foi a utilização de plásticos que envolviam alfajores, com restos de chocolate, que faziam com que a matéria-prima produzida saísse com cheiro do doce. Suminski informa que, até dezembro do ano passado, a cooperativa havia contabilizado mais de mil tipos de misturas experimentadas.
A tecnologia do equipamento que faz essa mistura foi patenteada pela BIO 8. "Não concorremos com outros elementos da cadeia de reciclagem, criamos uma alternativa para o descarte definitivo que é o aterro sanitário", frisa o dirigente.