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gestão

- Publicada em 02 de Fevereiro de 2020 às 20:42

Líderes mulheres destacam a força feminina nas organizações

Entre 2017 e 2018, a participação de CEOs femininas na Fortune 500 caiu em 25%

Entre 2017 e 2018, a participação de CEOs femininas na Fortune 500 caiu em 25%


CLAITON DORNELLES/LUIZAPRADO/FREDE VIEIRA//DIVULGAÇÃO/ARQUIVO/JC
O mundo vive uma era de aceleração das mudanças, que traz desafios imensos para as empresas e para a sociedade. Um deles é como fazer com que esse cenário de novas tecnologias e modelos de negócios traga também novas oportunidades de resolver problemas antigos, como aumentar a diversidade das empresas.
O mundo vive uma era de aceleração das mudanças, que traz desafios imensos para as empresas e para a sociedade. Um deles é como fazer com que esse cenário de novas tecnologias e modelos de negócios traga também novas oportunidades de resolver problemas antigos, como aumentar a diversidade das empresas.
Entre 2017 e 2018, a participação de CEOs femininas na Fortune 500 caiu em 25% - as mulheres representaram apenas 5% do total. Como incluir, nos principais cargos de gestão das corporações, mais mulheres? Como as organizações devem livrar suas forças de trabalho dos preconceitos inconscientes e interromper o viés, criando um ambiente mais propício para a formação de líderes mulheres?
Quatro líderes vencedoras de diferentes gerações e de áreas diversas como política, indústria, tecnologia e criatividade debateram esse tema durante o Dito Efeito, evento idealizado pelo Pacto Alegre e a empresa uMov.me.

Yeda Crusius, economista

Yeda foi ministra do Planejamento, deputada federal e governadora do Rio Grande do Sul

Yeda foi ministra do Planejamento, deputada federal e governadora do Rio Grande do Sul


CLAITON DORNELLES /JC

A primeira mulher

Como me incomodava essa questão de ser a primeira professora mulher, a única mulher da turma de Economia, uma das primeiras a ser diretora da Faculdade de Ciências Econômicas da Ufrgs. Quando eu ouvia isso, pensava: tem alguma coisa de errada no mundo. E então fui a primeira deputada eleita na história do Rio Grande do Sul, em 1994. E a primeira a ser governadora do Estado. Foi uma surpresa perceber que o Estado que era visto como o mais machista, tinha eleito uma mulher governadora antes de muitos outros. Porém, porque somos tão poucas? Se eu consegui alcançar isso graças a uma questão pessoal, familiar ou regional, ok, mas, quero que outras vivam essas experiências.

A importância de ser intencional

Em 2018 conquistamos o direito de ter campanhas financiadas com 30% dos fundos partidários, para os 30% das vagas para mulheres. Foi fundamental que tivéssemos naquele ano todas as presidências das funções essenciais da Justiça ocupadas por mulheres, como Tribunal de Contas, Superior Tribunal Federal, Ministério Público Federal etc. O resultado foi que dobramos o número de deputadas federais do PSDB, e provamos que não podemos viver com um sinhozinho que diz quanto podemos ganhar. Quem faz isso é a presidente do movimento de mulheres. Isso foi uma tremenda mudança. Precisamos ter condições objetivas para que as mulheres com capacidade de liderança tenham oportunidade de liderar. E que elas queiram o poder para transformar. Mas, é preciso ter lei para isso.

Qual o seu sexo?

Quando eu fiz concurso para ser professora ou quando me inscrevi para concorrer às eleições, não perguntaram meu sexo. Claro que vivi situações desafiadoras por ser mulher na política, mas, no mundo empresarial a competição é mais brutal. E ela traz junto o machismo intimidador, pois s homens não querem perder o espaço. Isso só vai mudar se número de mulheres em cargos de comando aumentar. 

Greta Paz, CEO da Eyxo

Greta foi reconhecida pela Forbes como uma das jovens de maior destaque no Brasil

Greta foi reconhecida pela Forbes como uma das jovens de maior destaque no Brasil


LUIZA PRADO/JC

As referências

Venho de uma família de empreendedores e com uma liderança feminina muito forte. Cresci vendo a minha mãe falar de negócios, como executiva de uma multinacional. Era a minha bolha, e sempre pareceu natural eu poder ser uma mulher forte e empreendedora. Foi um impulso para eu abrir meu negócio, e quando fui para o mercado de trabalho entendi qual era a realidade. Ao participar de grandes concorrências onde eu era a jovem e praticamente única mulher, fui entendendo que o mundo não era minha casa. As mulheres precisam se tornar protagonistas.

Sonhos limitados

Imagina que, quando você nasce, junta as mãos e pensa em uma figura masculina, quando vai para o colégio, estuda a história do nosso país e vê figuras masculinas. Se vai nas multinacionais ou abre revista de negócios, lá estão as figuras masculinas. A mulher sonha de forma diferente do homem porque muitas vezes ela, simplesmente, não enxerga que é possível ocupar um espaço. Aí nossos sonhos passam a ser limitados. Por isso é tão importante mostrar exemplos de mulheres ocupando espaços e tendo lugar de fala.

Virginia Decker, diretora na thyssenkrupp

Virginia é diretora de compras e gestora de negócios Elevator Technology para o Brasil e América Latina

Virginia é diretora de compras e gestora de negócios Elevator Technology para o Brasil e América Latina


THYSSENKRUPP/DIVULGAÇÃO/JC

Modificações visuais para facilitar inserção

Quando comecei a trabalhar na área de produção, em 1983, eu e duas colegas nos vestíamos com camisetão e botinas. Naquele contexto, naquela época, a gente queria se inserir e fizemos modificações até visuais para isso. Colocar batom, jamais. Mas, com o tempo, vamos vencendo isso, até porque, competência e resultado vem em primeiro lugar.

Homens no debate

Os homens estão no comando da maioria das instituições. Se queremos fazer mudanças em que a liderança das mulheres seja mais valorizada, eles precisarão fazer parte do debate. Para ser possível, toda a empresa precisa se envolver, acreditar e valorizar a presença feminina. Da mesma forma, não adianta as empresas só colocarem metas de terem mais mulheres líderes se não tiverem um plano estratégico para atingir isso.

Maternidade

As mulheres antes tinham mais filhos, e quando saiam faziam falta nas empresas, até porque os trabalhos eram mais manuais. Tem esse histórico. Mas, isso precisa mudar. Recentemente eu fiz uma promoção de uma mulher grávida, e fiquei feliz que ninguém questionou. Sinal de que as empresas estão entendendo isso.

Nelice Heck, gerente-geral na ThoughtWorks

Nelice é atua no escritório de Porto Alegre e é responsável pela abertura da operação da empresa no Chile

Nelice é atua no escritório de Porto Alegre e é responsável pela abertura da operação da empresa no Chile


FREDY VIEIRA/DIVULGAÇÃO/JC

Mais mulheres na tecnologia

Se não temos mais mulheres na tecnologia, não é porque elas não são boas em matemática ou porque não sabem desenvolver. É porque tem situações estruturantes e estruturais na nossa sociedade que impedem que elas entrem nessas áreas e continuem. Na década de 1960, era padrão as mulheres serem programadoras. Mas, o grande ponto de interesse na época nessa área de tecnologia eram as máquinas (hardware) e não os códigos. Na medida que os softwares foram tomando poder e os investimentos nessa área aumentaram, inverteu. Quem tem o poder financeiro hoje em dia? Quem detém os meios de produção? Em sua maioria, os homens. Temos que falar sobre diversidade, questionar profundamente essas questões e agir intencionalmente para mudar.

Os estereótipos

Tecnologia é sobre pessoas, sobre o que a gente pensa e sobre os estereótipos que são construídos. Ao longo da minha história como tecnologista, sempre tive situações em que precisei me impor. Às vezes, clientes ou diretores de outras empresas se reportavam a colegas meus, homens, para saber sobre a operação, e aí eles precisavam dizer que eu era a gerente. Quando os homens tiverem um olhar mais acurado para perceber as micro agressões que acontecem contra as mulheres, eles podem atuar como agentes de mudanças. Assim, se um homem faz uma piadinha e o outro, ao invés de rir, questiona, já é pequena coisa que pode ajudar a mudar aqueles padrões mentais construídos ao longo dos anos.

Tecnologia inclui e exclui

A McKinsey tem um estudo que mostra a importância de termos equipes e líderes diversos, pois isso aumenta a lucratividade das empresas. Mas também tem o lado da transformação social de que precisamos fazer isso porque é justo. Se temos mais de 50% da população mundial formada por mulheres e os produtos que construímos são feitos por homens, qual capacidade de realmente conseguir atender todas as pessoas? A tecnologia tem poder grande de inclusão, mas também de exclusão. As oportunidades estão aí para todos, mas nem todos têm as mesmas chances de alcançar. A linha de partida é diferente para várias pessoas.