Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Meio ambiente

- Publicada em 27 de Janeiro de 2020 às 20:24

Catadores denunciam desvio de resíduos em Porto Alegre

Materiais descartados em Porto Alegre acabam não atingindo o seu destino final adequado

Materiais descartados em Porto Alegre acabam não atingindo o seu destino final adequado


MARCELO G. RIBEIRO/arquivo/JC
O que pode ser visto como lixo por alguns, como o caso de latas vazias de refrigerantes e cervejas, é algo de valor na cadeia da reciclagem. E, tendo mercado, um produto é cobiçado. Dentro desse contexto, muitos materiais descartados em Porto Alegre que deveriam chegar em alguma das 16 unidades de triagem da capital gaúcha acabam não atingindo o seu destino final adequado.
O que pode ser visto como lixo por alguns, como o caso de latas vazias de refrigerantes e cervejas, é algo de valor na cadeia da reciclagem. E, tendo mercado, um produto é cobiçado. Dentro desse contexto, muitos materiais descartados em Porto Alegre que deveriam chegar em alguma das 16 unidades de triagem da capital gaúcha acabam não atingindo o seu destino final adequado.
O coordenador do Fórum de Catadores de Porto Alegre e integrante do movimento nacional dos catadores Daniel Mesquita atesta que estão sendo retirados resíduos mais nobres antes deles alcançarem as unidades de triagem. Ele comenta que há um grande problema com a coleta seletiva, tanto por parte da prestadora de serviços terceirizada (a Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre - Cootravipa), como pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Há denúncias de desvios de materiais de maior valor agregado, como alumínio e cobre, praticados por colaboradores da Cootravipa e clandestinos.
Mesquita reitera que a tarefa da Cootravipa é recolher o resíduo que tem possibilidade de ser reciclado e levar para as unidades de triagem. O ganho com a venda do material reciclável é fundamental para a continuidade da operação desses espaços, pois a remuneração da prefeitura para essa atividade é menor do que para o restante da cadeia. As unidades de triagem em Porto Alegre geram em torno de 600 postos de trabalho e dividem um pouco mais de R$ 1 milhão por ano para separar todos os resíduos do município. "A prefeitura desqualifica o trabalha do catador, o catador trabalha de graça", reclama Mesquita. Ele ressalta que o contrato da Cootravipa, por exemplo, é da ordem de R$ 10,5 milhões ao ano.
A assistente social e participante das associações ambientais Anjos da Ecologia e Reciclando pela Vida, Simone Pinheiro, também afirma que há garis abrindo os sacos de lixo e retirando os materiais com maior valor agregado. "Isso não pode, o que estiver dentro do caminhão tem que ser destinado às unidades de triagem e isso, às vezes, não ocorre", frisa. Além dessa reclamação, Simone cita problemas de horários nas coletas, sendo que quando o caminhão da Cootravipa passa, o material já foi recolhido de maneira irregular por outras pessoas. "Essa é uma prática que já está enraizada", lamenta. Ela reforça que a situação prejudica o catador que atua na triagem, diminuindo a receita desses espaços.
Simone acrescenta que as reclamações são feitas para o DMLU, mas nem sempre as investigações são muito intensas. Há alguns dias, o diretor-geral do DMLU, René Machado de Souza, informa que o departamento recebeu a denúncia formal de desvio de materiais por trabalhadores da Cootravipa, baseada em um vídeo gravado por celular. Depois de analisar as imagens, a prestadora de serviço argumentou que realmente o caminhão parou no local da denúncia, porém teria feito isso para reorganizar uma carga de vidro que estaria mal acondicionada.
O pessoal do DMLU compareceu ao local em que foi feita a gravação e não observou resquícios de vidro que pudesse ter eventualmente caído do caminhão. No entanto, segundo Souza, a distância em que o vídeo fora gravado não permite evidenciar exatamente o que estava acontecendo. "Ficamos em um limbo", argumenta. Souza revela que a Cootravipa já recebeu do DMLU, em outras duas ocasiões, multas por desvio do resíduo. De acordo com o diretor, a cooperativa informou que as equipes que estavam envolvidas nessa prática foram afastadas.
Sobre a acusação feita contra a Cootravipa, a presidente da cooperativa, Imanjara Marques de Paula, enfatiza que o relato não procede porque, para que os coletores pudessem segregar, teriam que parar o caminhão para esconder o material em algum lugar. "Acontece que todos os caminhões são equipados com GPS, portanto, todos os pontos de paradas são monitorados", afirma.
Ela salienta que durante os quase cinco anos de contrato com a prefeitura foram raros os casos devidamente comprovados e acrescenta que qualquer sócio que cometa uma irregularidade oriunda de comportamento inadequado na execução dos serviços é submetido a penalidades estatutárias que podem, dependendo da gravidade do caso, gerar o desligamento da sociedade cooperativa.

Antigos carroceiros continuam recolhendo lixo, agora, em veículos automotores

Circulação de carroças nas ruas está proibida desde 2016

Circulação de carroças nas ruas está proibida desde 2016


/ANTONIO PAZ/ARQUIVO/JC
Sobre as dificuldades na coleta seletiva, o diretor-geral do DMLU, René Machado de Souza, admite que existem clandestinos recolhendo resíduos. Ele argumenta que muitos carroceiros, com a proibição do uso das carroças em Porto Alegre desde 2016, acabaram migrando para veículos automotores sucateados ou até alguns caminhões para pegar esse material. "Mas estamos fazendo uma fiscalização, com a EPTC e a Brigada Militar, para coibir esse tipo de coleta", afirma. No entanto, para o resultado dessa atividade ser mais efetivo, o diretor do DMLU incentiva a denúncia com fotos ou filmagens por parte da população, para identificar as placas desses veículos e autuar os infratores.
Quanto à desigualdade de valores pagos para o recolhimento do lixo e a sua triagem, Souza argumenta que se tratam de serviços muito diferentes. Ele reforça que a complexidade da operação da frota de caminhões da Cootravipa, circulando pela cidade e recolhendo os resíduos em diversos endereços e levando para as unidades de triagem, tem um custo muito alto. Para o dirigente, as ações não podem ser comparadas.
Atualmente, o DMLU recolhe nas residências cerca de 1.150 toneladas de resíduos diariamente. Desse total, 56 toneladas são de recicláveis recolhidos pela coleta seletiva (dos quais cerca de 70% são efetivamente recicladas). As quase 1.100 toneladas restantes são de resíduos orgânicos e rejeito da coleta domiciliar. Somam-se aos orgânicos e rejeito, os resíduos públicos e as cargas recebidas na Estação de Transbordo, em que se chega a quase 1.800 toneladas ao dia de material enviado para o aterro sanitário.
Estima-se que 256 toneladas com potencial reciclável são descartadas, indevidamente, junto com os orgânicos e rejeito e, com isso, acabam sendo enviadas para o aterro sanitário de Minas do Leão. O custo total para enviar esses resíduos para o aterro é de, aproximadamente, R$ 730 mil por mês, o que equivale a R$ 8,8 milhões por ano, valor que poderia ser investido em outras melhorias para a cidade se a maioria da população separasse os recicláveis e os encaminhassem à coleta seletiva do DMLU.