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relações internacionais

- Publicada em 10 de Outubro de 2019 às 21:15

Incerteza cerca apoio dos EUA ao Brasil na OCDE

Bolsonaro obteve aval do presidente americano durante encontro em março

Bolsonaro obteve aval do presidente americano durante encontro em março


BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/JC
O governo dos Estados Unidos deu respaldo às candidaturas de Argentina e da Romênia para uma vaga na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em uma carta enviada ao órgão. No documento, não há nenhum apoio à candidatura do Brasil - o país não é sequer citado -, mesmo após o governo americano ter anunciado apoio à candidatura brasileira.
O governo dos Estados Unidos deu respaldo às candidaturas de Argentina e da Romênia para uma vaga na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em uma carta enviada ao órgão. No documento, não há nenhum apoio à candidatura do Brasil - o país não é sequer citado -, mesmo após o governo americano ter anunciado apoio à candidatura brasileira.
O presidente dos EUA, Donald Trump, havia sinalizado apoio ao Brasil após o presidente Jair Bolsonaro abrir mão de benefícios na Organização Mundial do Comércio (OMC) dados a países em desenvolvimento. O conteúdo da carta - datada de 28 de agosto - foi divulgado pela agência Bloomberg. Integrantes do governo procurados pela reportagem declaram que a indicação da Argentina não é novidade para eles.
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Há 40 dias, dizem pessoas ligadas à equipe econômica, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi informado por um representante do governo americano de que a indicação do país vizinho ocorreria em breve. Mesmo assim, a carta não foi vista com bons olhos, já que um apoio formal dos americanos viria apenas em um segundo momento.
Ainda na quinta-feira, no fim da tarde, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que mantém o apoio à entrada do Brasil na OCDE, mas não estabeleceu um prazo para que isso aconteça e ponderou que a expansão da entidade deve ser feita em "ritmo controlado".
O posicionamento pouco assertivo dos EUA, porém, frustrou a cúpula do governo de Jair Bolsonaro. Do lado brasileiro, a expectativa era de que os americanos indicassem de forma objetiva que apoiariam o ingresso do Brasil no clube dos ricos ainda neste ano, comprometendo-se com uma fórmula para operacionalizar o processo.
A entrada na OCDE pode levar alguns anos. E o governo Trump é contra a ampliação do número de países-membro na organização. A carta se insere em um xadrez político maior, que inclui a oposição dos EUA à gestão de Angel Gurría, secretário-geral da OCDE.
O governo americano não compartilha a visão de Gurría para as regras da organização, pela avaliação de que os rumos pretendidos preconizam uma influência excessiva da Europa sobre a OCDE - americanos e europeus divergem, por exemplo, em questões de tecnologia, regulação e meio ambiente.
Uma pessoa a par do assunto afirmou que, enquanto os EUA miram a sucessão de Gurría - que deverá ocorrer em 2020 -, a perspectiva é que não irão se manifestar formalmente sobre qualquer mudança mais no desenho para adesão de novos membros.
Além de Argentina e Romênia - que deram entrada no pedido para ingressar no clube dos países ricos antes do Brasil -, a Bulgária também está na disputa. Com o ingresso de mais dois países europeus no grupo, norte-americanos avaliam que uma OCDE mais "europeizada" poderia ser uma barreira aos seus interesses.
O timing da carta ainda tem referência ao resultado das eleições primárias na Argentina. No início de agosto, o mercado argentino sofreu forte abalo na esteira da esmagadora vitória do candidato de oposição Alberto Fernández nas eleições primárias, afetando severamente as chances de reeleição do presidente Mauricio Macri. A citação à Argentina no documento poderia beneficiar o presidente argentino, defensor do livre mercado e tido como aliado dos EUA, em sua disputa pela reeleição.
No documento, os americanos teriam favorecido o critério de cronologia, dando apoio aos argentinos, que começaram o processo de adesão primeiro e que já tinham respaldo de Trump há mais tempo.
A solicitação formal do Brasil para se juntar à OCDE foi feita em maio de 2017, no governo de Michel Temer, representando um esforço para fortalecer os laços com as nações desenvolvidas do Ocidente, depois que governos anteriores priorizaram as relações com países em desenvolvimento.
A OCDE aconselha seus 36 membros e é considerada uma influenciadora-chave na arquitetura econômica mundial. Entre os emergentes que fazem parte do grupo estão países como Turquia, México e Chile.
Em março deste ano, o presidente Trump afirmou publicamente que endossaria a campanha brasileira para o ingresso na OCDE. Ao ser questionado por jornalistas durante uma visita de Bolsonaro à Casa Branca, em Washington, ele respondeu: "Estou apoiando o Brasil".
Uma das medidas efetivamente adotadas pelo governo brasileiro foi elevar para 750 milhões de litros, ante 600 milhões anteriormente, a cota para importações anuais de etanol sem tarifa. A medida vigorará por 12 meses e foi comemorada por Trump.

Governo federal vai insistir no processo de candidatura à organização econômica

O secretário de Política Externa Comercial e Econômica, Norberto Moretti, ligado ao Ministério das Relações Exteriores, disse que o governo brasileiro se mantém firme na tentativa de fazer o Brasil ser aceito como membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
"O processo não é simples, não é meramente técnico, é também político, mas não há nenhuma dúvida de que o governo se mantém firme na decisão de continuar no processo de aproximação", informou nesta quinta-feira, durante participação no Fórum de Investimentos Brasil 2019.
Em sua apresentação no evento, Moretti quis deixar claro que a entrada na OCDE vai além da política comercial, pois a organização se ocupa de uma ampla gama de temas. "É por meio de uma convergência regulatória crescente que vamos inserir o Brasil na economia mundial", informou.
Já o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), aliado do governo, pedirá uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, o chanceler Ernesto Araújo, para entender a posição norte-americana.
Trad se disse surpreso, afirmando que contava com o apoio. "Vamos procurar ver qual o motivo, saber a fundo o que está acontecendo para tomar as medidas necessárias. Ao que me consta, os Estados Unidos eram nosso maior padrinho e incentivador na questão do ingresso na OCDE", relatou ele.