Um dos avanços mais comemorados no século 21 pela Medicina, o sequenciamento do genoma humano, começa a se popularizar. Um dos maiores grupos de diagnóstico do Brasil, o grupo Fleury, dono dos laboratórios Weinmann e Serdil, no Rio Grande do Sul, aposta que o uso da tecnologia para testes e direcionamento de tratamentos de acordo com cada paciente vai ter um crescimento exponencial. Na rede gaúcha, a demanda triplicou nos últimos três anos, com taxa de 50% ao ano.
O mercado gaúcho, reforça a diretora executiva de Negócios do grupo Fleury, a médica cardiologista Jeane Tsutsui, é um dos que apresentam maior expansão na operação nacional. Um dos fatores que ajudam a impulsionar o acesso é o preço. Jeane lembra que quando a técnica foi dominada o valor era de US$ 100 milhões.
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Hoje um teste simples para mapear mutações pode custar a partir de R$ 600,00. O BRCA 1 e 2, usado para investigar a chance de uma mulher ter câncer de mama, que ganhou notoriedade quando a atriz Angelina Jolie fez -, pode ser feito por R$ 1.690,00 na rede Fleury. Já o Oncotype DX, solicitado para avaliar o tipo de tratamento nos casos de mulheres que já tem diagnóstico de câncer de mama, custa R$ 15 mil. A expectativa é que os valores recuem com maior acesso.
Uma facilidade, quando há indicação do médico e pela baixa cobertura ainda de planos de saúde privados, é que todos os testes podem ser pagos em até dez parcelas. "Os laboratórios Fleury investem desde 2015 na aquisição de sequenciadores de próxima geração, além de contratar bioinformatas e montar um time de P&D para desenvolver testes", diz Jeane.
Em 2019, são cerca de 300 exames no portfólio do grupo. As unidades gaúchas fazem muitos dos testes. Em Porto Alegre, o grupo investiu R$ 5,3 milhões em uma unidade, que estreou no começo do ano, para acelerar a produção de resultados e que também atua com a plataforma Fleury Genômica.
A plataforma foi lançada em 2017 e também tem uma frente de contratação por meio de ambiente digital. "Assim, conseguimos disponibilizar testes para todo o Brasil. Quem está em um local que não tem a rede pode enviar amostras on-line", explica a diretora executiva. Atualmente, o Fleury tem unidades físicas de atendimento em oito estados.
"Basta fazer o upload (subir para o servidor do grupo) a receita médica, verificamos se é um teste que pode ser feito com envio de amostra pelos correios e mandamos o kit para a casa da pessoa coletar o material", descreve a médica. Alguns testes podem ser feitos com saliva. "Toda a qualidade é garantida."
Entre os testes genômicos, os tipos voltados à oncologia dominam e por uma razão. Jeane cita que há hoje um forte desenvolvimento de drogas que conseguem ser aplicadas de acordo com a interação com cada tumor. "Ao conhecer as alterações genômicas, pode-se indicar um ou outro tratamento e obter maior chance de resposta com determinado medicamento. É o que se chama de medicina de precisão ou personalizada", explica a diretora.
O Oncotype DX, por exemplo, gera um score de risco de recorrência do câncer de mama, medindo a agressividade do tumor e a chance de voltar. "Com base nessa informação, avalia-se se a paciente precisa fazer quimioterapia ou hormonioterapia. Antes, os protocolos convencionais dariam quimioterapia para todo mundo", contrasta a diretora, lembrando que o estudo indicando a segurança do teste foi publicado em uma das principais revistas de pesquisa médica no mundo, a New England, e foi baseado no acompanhamento de mais de 10 mil mulheres por um longo período.
O Fleury também validou a aplicação do teste em um estudo em parceria com o Hospital Pérola Byington, em São Paulo, apontando a queda de quase 70% na indicação de quimioterapia para um grupo de mais de 100 mulheres em estágio inicial do câncer de mama. Jeane explica que a recomendação clínica seria pelo tratamento. O caminho seguido foi de hormonioterapia e radioterapia. Outro efeito da mudança na orientação é a economia, com redução de R$ 420 mil na conta do hospital.
Junto a operadoras de saúde, o grupo busca convencer sobre os benefícios da inclusão dos testes genômicos na cobertura do plano. Alguns exames já são reconhecidos por organismos de especialidades médicas e passam a ser incluídos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). "A questão é como aumentar o acesso a essas tecnologias. Se houver maior incorporação, vai gerar maior demanda."