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Conjuntura

- Publicada em 16 de Junho de 2019 às 21:57

Levy pede demissão da presidência do Bndes

Ex-ministro não abriu 'caixa-preta' do banco, promessa de Bolsonaro

Ex-ministro não abriu 'caixa-preta' do banco, promessa de Bolsonaro


ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL/JC
Joaquim Levy pediu demissão da presidência do Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) neste domingo (16), sete meses após aceitar o convite feito por Paulo Guedes. É a primeira baixa da equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro.
Joaquim Levy pediu demissão da presidência do Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) neste domingo (16), sete meses após aceitar o convite feito por Paulo Guedes. É a primeira baixa da equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro.
Desde que assumiu, o economista anunciou reestruturação na instituição com reduções e mudanças de cargos, mas não conseguiu "abrir a caixa-preta" do Bndes, um dos principais pontos prometidos pelo então candidato do PSL durante a eleição na área de economia - ele costuma apontar problemas em empréstimo do Bndes para países como Cuba e Venezuela. Levy sempre sofreu resistência de Bolsonaro por ter atuado como ministro de Dilma Rousseff (PT) e secretário de Sérgio Cabral (MDB) no Rio de Janeiro.
Ao longo da campanha, a promessa de "abrir a caixa-preta" do banco gerou diversos memes e mensagens virais no Whatsapp. Uma delas dizia que "se o povo brasileiro acha que o 'petrolão' foi o maior escândalo de todos os tempos no País, esperem até ver o que fizeram no Bndes". Outras acusavam supostas obras financiadas pela instituição no exterior.
Em seu Twitter, Bolsonaro também tratou do tema algumas vezes. Em janeiro, após divulgar os 11 países que mais utilizaram recursos do banco e as razões para os empréstimos, afirmou: "Ainda vamos bem mais a fundo". Pouco antes, havia dito que iria "revelar ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos". Em novembro, Bolsonaro havia mostrado confiança e prometeu abrir a caixa-preta do Bndesna primeira semana de governo "Se não abrir a caixa-preta, ele (Joaquim Levy) está fora", disse, na ocasião.
Entre 2015 e 2018, o banco já havia devolvido R$ 309 bilhões ao Tesouro. Em junho do ano passado, a instituição acertou a reestruturação da dívida, antecipando o prazo final em 20 anos, passando para 2040, com um cronograma anual de devoluções de R$ 25 bilhões, em média. O atual governo, porém, queria a devolução de R$ 126 bilhões do Bndes à União em 2019.
Na última terça-feira (11), o banco havia anunciado que aprovou a reformulação da estrutura de áreas chave. Segundo nota divulgada pelo Bndes, o objetivo era permitir que a instituição respondesse de maneira mais ágil aos desafios do desenvolvimento econômico e social do Brasil e ainda às oportunidades criadas com a liberalização da economia do país.
O então presidente da instituição esperava facilitar a atuação do banco em áreas de infraestrutura de governos federal, estaduais e municipais e proporcionar mais agilidade ao financiamento de pequenas e médias empresas. A reformulação almejava a venda de ativos públicos e a transferência desses serviços ao setor privado, inclusive no caso do saneamento.
No comunicado, Joaquim Levy também informou a criação de uma nova diretoria para buscar simplificar processos na gestão da carteira de participação do sistema Bndes. A área ainda seria responsável por fomentar os mercados de capitais no país e apoio às áreas de atendimento ao cliente. O departamento industrial foi outro afetado e passou a ser dividido em duas áreas, que ofereceriam a carteira do banco aos clientes e outra. Já o de comércio exterior foi reduzido.
Mesmo com a reestruturação, Levy pretendia não causar impacto nos gastos da instituição. De acordo com o Bndes, os custos adicionais foram compensados com a redução de cargos e departamentos do banco. Além disso, foram promovidas mudanças e rodízios nas posições dos superintendentes.
Durante a reformulação, o advogado Marcos Barbosa Pinto ocuparia, a convite de Levy, a diretoria de mercado de capitais do banco de fomento. O fato incomodou Bolsonaro pois Pinto atuou em gestão petista.
Joaquim Levy também atuou em governos do PT. Por exemplo, chefiou o Ministério da Fazenda no segundo mandato de Dilma, quando brigou para diminuir o rombo das contas públicas, que ultrapassaram a marca dos R$ 100 milhões entre 2015 e 2018. Ainda foi secretário do Tesouro Nacional no início de Lula como presidente do País, em 2003. Na ocasião, conteve gastos públicos e foi chamado de "mãos de tesoura".
Antes, atuou no governo Fernando Henrique Cardoso como secretário-adjunto de política econômica do Ministério da Fazenda e economista-chefe do Ministério do Planejamento. Ele ainda ocupou o cargo de secretário da Fazenda do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral.

Crítica à nomeação de Marcos Pinto como diretor do banco forçou a decisão

O estopim que levou o presidente do Bndes, Joaquim Levy, a deixar o cargo, foi a ameaça de sua demissão feita no sábado pelo presidente Jair Bolsonaro, causada pela divergência sobre a escolha de Marcos Barbosa Pinto para a diretoria da área de Mercado de Capitais do BNDES, responsável pelos investimentos da BndesPar, braço de participações acionárias do banco de fomento, que administra carteira superior a R$ 100 bilhões. O presidente exigiu que Levy desistisse de nomear Marcos Pinto.
"Levy o nomeou (Marcos Pinto) para uma função no BNDES. Já estou por aqui com o Levy. Falei para ele: demita esse cara na segunda-feira ou eu demito você sem passar pelo Paulo Guedes (ministro da Economia)", afirmou Bolsonaro, neste sábado, ao sair do Palácio da Alvorada. "Um governo tem de ser assim. Quando coloca gente suspeita em cargos importantes e essa pessoa, como o Levy, já vem há algum tempo não sendo leal ao que foi combinado e ao que ele conhece a meu respeito. Ele está com a cabeça a prêmio já tem algum tempo."
Marcos Pinto foi chefe de gabinete de Demian Fiocca, na presidência do BNDES, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois, trabalhou na Gávea Investimentos, gestora de recursos fundada pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, e foi diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Dentro do banco, era considerado um executivo de perfil técnico. O nome dele havia sido aprovado pelo Conselho de Administração do BNDES, mas ele não foi formalmente nomeado nem chegou a assumir o cargo. Ele seria contratado para tocar o programa de vendas de participações em empresas da BNDESPar, cuja velocidade vinha sendo considerada lenta pelo mercado. Segundo fontes, os principais empecilhos eram o tamanho da carteira do braço de participações e a reestruturação da própria BNDESPar, que demorou a ser desenhada. Por isso, a nomeação era vista pela diretoria como um sinal de que, finalmente, as vendas avançariam.

Salim Mattar, Solange Vieira e Carlos da Costa são os nomes mais cotados para o cargo

Integrantes da equipe econômica enfrentam dificuldades para encontrar um nome para assumir a presidência do BNDES no lugar de Joaquim Levy, que entregou sua carta de demissão na manhã deste domingo. Entre os nomes mais cotados estão o de Solange Vieira, atual superintendente da Susep; Salim Mattar, secretário de Privatizações; e Carlos da Costa, secretário de Produtividade e Emprego.
O nome de Solange agradaria ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Para fontes, porém, como funcionária de carreira do BNDES poderia ser difícil a tarefa de tocar os planos do governo de reduzir o papel do banco de fomento. Segundo interlocutores, ela não deve aceitar.
Integrantes da equipe sondaram Mattar, embora seu perfil seja visto como mais adequado para comandar o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), ligado diretamente à presidência da República. Mattar tem indicado a interlocutores que o fato de o PPI ficar fora do projeto de privatizações que vem tocando é um entrave para a venda de ativos. Outro nome cotado para o cargo é de Carlos da Costa, secretário de Produtividade. O nome dele também é bem-visto por Paulo Guedes e ele já foi diretor do BNDES.
O nome de Solange ganhou força para substituir Levy porque inicialmente o governo procura uma solução interna para o caso. A avaliação é que o banco virou um "posto de sacrifício", em razão da imagem que a instituição tem para o presidente Jair Bolsonaro. Por isso, avaliam os integrantes, seria mais difícil conseguir trazer alguém de fora.