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Infraestrutura

- Publicada em 16 de Junho de 2019 às 21:53

Biomassa é subutilizada no Rio Grande do Sul

Cavacos e outras sobras da exploração da madeira são possíveis fontes

Cavacos e outras sobras da exploração da madeira são possíveis fontes


/JONATHAN HECKLER/arquivo/JC
Mesmo tendo uma tradição histórica no setor do agronegócio, os gaúchos ainda não atingiram plenamente o seu potencial para outra atividade econômica ligada a esse segmento: a produção de energia elétrica. As usinas a biomassa, que queimam resíduos orgânicos para gerar eletricidade, são poucas no Estado e estão concentradas no uso da casca de arroz e de resíduos florestais como combustíveis. No entanto, os empreendedores que atuam nesse setor apontam que há um enorme potencial a ser aproveitado nessa área.
Mesmo tendo uma tradição histórica no setor do agronegócio, os gaúchos ainda não atingiram plenamente o seu potencial para outra atividade econômica ligada a esse segmento: a produção de energia elétrica. As usinas a biomassa, que queimam resíduos orgânicos para gerar eletricidade, são poucas no Estado e estão concentradas no uso da casca de arroz e de resíduos florestais como combustíveis. No entanto, os empreendedores que atuam nesse setor apontam que há um enorme potencial a ser aproveitado nessa área.
Conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), hoje são cinco térmicas gaúchas que operam com resíduos florestais, somando 23,5 MW de capacidade, e nove usinas no Estado que trabalham com casca do arroz atingindo 46,6 MW. Essas potências somadas não significam 2% da demanda média de energia elétrica do Rio Grande do Sul. O sócio-diretor da Assessoria Empresarial Faque (que trabalha com projetos no segmento de energia) Fabio Quevedo salienta que o Rio Grande do Sul possui um potencial enorme e pulverizado para a geração de energia à base de biomassa.
Quanto à questão florestal, há polos nas regiões Sul, Litoral, Central e na Serra. Para a produção de energia através da casca de arroz, Quevedo cita as área da Fronteira, Sul e Centro como vocacionadas. "O mercado tem uma demanda totalmente reprimida", afirma o sócio-diretor da Assessoria Empresarial Faque. Quevedo estima que apenas a zona da Serra comportaria pelo menos mais cinco usinas de biomassa, de 10 MW cada uma de capacidade, assim como a Metade Sul do Estado.
Uma das vantagens da geração a base de biomassa é o fato de ser descentralizada e, normalmente, estar mais próxima ao centro de cargas, evitando perdas maiores no deslocamento de energia pelas linhas de transmissão. Mesmo com o potencial constatado, Quevedo adverte que projetos de biomassa com escalas maiores tendem a ter mais dificuldades para serem concretizados, principalmente devido aos custos logísticos. Apesar dessa observação, uma iniciativa de grande porte deve começar sua construção muito em breve em Cambará do Sul. Em dezembro de 2017, o projeto termelétrico Cambará comercializou energia em leilão promovido pelo governo federal, comprometendo-se a entregar essa geração até janeiro de 2023. A estimativa atual é que a usina deverá consumir em torno de 500 mil toneladas ao ano de madeira.
O diretor executivo da Omega Engenharia (empresa envolvida com o empreendimento termelétrico), Carlos Eduardo Trois de Miranda, informa que a intenção é começar neste segundo semestre as obras físicas do empreendimento. Ele comenta que serão vários os fornecedores da região que abastecerão a térmica com combustível. Entre esses fornecedores estarão reflorestadores, madeireiras, além de fornecimento próprio. A ideia é aproveitar sobras de serrarias, cavacos, serragem, madeira fina e grossa etc.
Miranda informa que a licença de instalação do projeto foi obtida neste ano e agora o foco está em conquistar o licenciamento da linha de transmissão que ligará a usina até a subestação localizada em São Francisco de Paula. O investimento, somando-se a termelétrica e a linha de transmissão, é estimado hoje em cerca de R$ 300 milhões. O executivo prefere não dar detalhes, mas adianta que já estão sendo estudados planos para desenvolver outro projeto semelhante na região da Serra ou até mesmo em outros locais do Estado.

Creral planeja novo projeto com casca de arroz

Termelétrica São Sepé tem capacidade instalada para fornecer 8 MW

Termelétrica São Sepé tem capacidade instalada para fornecer 8 MW


/CRERAL/DIVULGAÇÃO/JC
Depois de desenvolver a usina São Sepé, que começou a operar comercialmente em março deste ano no município de mesmo nome, a cooperativa Creral já trabalha em um novo empreendimento a partir da casca de arroz: uma termelétrica de 5 MW, que será construída em Capivari do Sul. Atualmente, esse complexo encontra-se na fase do processo de licenciamento ambiental. O investimento estimado é de R$ 30 milhões a R$ 35 milhões e o consumo seria de aproximadamente 40 mil toneladas de casca de arroz por ano. 
O presidente da Creral, Alderi do Prado, adianta que a cooperativa deve repetir a estratégia adotada na implantação da térmica São Sepé e se associar a outros investidores para tirar o projeto de Capivari do Sul do papel. Se tudo transcorrer bem, o dirigente acredita que a usina poderá gerar energia a partir de 2021. Ainda está sendo avaliada a forma de comercialização da eletricidade, entre as possibilidades estão a disputa em leilões ou a venda no mercado livre (ambiente formado por grandes consumidores que podem escolher de quem comprar a energia).
Prado lembra que uma usina dessa natureza também significa uma destinação adequada para um passivo ambiental que é a casca de arroz. O presidente da Creral defende que há espaço para mais empreendimentos como esse se desenvolverem no Estado.
"Ainda tem bastante casca de arroz não sendo processada, não sendo utilizada, e madeira também", frisa. No caso da usina São Sepé, o empreendimento tem capacidade instalada de 8 MW e gera 56 milhões de kWh ao ano (o suficiente para abastecer uma cidade com em torno de 30 mil residências).
A casca de arroz é fornecida por empresas de oito municípios da região de São Sepé. Por ano, as arrozeiras entregam cerca de 70 mil toneladas para gerar energia e a cinza resultante da queima é utilizada na produção de cal mista. O investimento na usina São Sepé foi de cerca de R$ 60 milhões.

Florestas são uma alternativa para utilização dos combustíveis fósseis

Devido aos impactos ambientais proporcionados, o mundo busca hoje opções para a substituição dos combustíveis fósseis na geração de energia. Dentro dessa lógica, o presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Diogo Carlos Leuck, ressalta que a energia vinda da floresta tem um apelo ambiental tão importante quanto o uso da casca de arroz, por exemplo. Particularmente para o Rio Grande do Sul, o dirigente diz que o cenário é muito positivo, pois o Estado tem uma aptidão fantástica para a silvicultura.
Leuck explica que o conceito de florestas energéticas se trata justamente da destinação de árvores para a produção de eletricidade. Uma árvore que tem características propícias para isso é a acácia-negra, devido ao seu poder calorífero. Contudo, o presidente da Ageflor admite que o custo de geração com a base florestal é maior do que através de outras fontes, como a eólica. Para criar um ambiente que possibilite o fortalecimento da ideia de florestas energéticas, Leuck comenta que os ministérios de Minas e Energia e da Agricultura estão analisando a hipótese da realização de leilões específicos para esse segmento. Segundo o presidente da Ageflor, a vantagem do governo em viabilizar uma geração um pouco mais cara como essa é a segurança quanto ao fornecimento de energia e a contribuição com o meio ambiente, pela absorção do CO2 durante o crescimento das árvores.