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Economia

- Publicada em 06 de Junho de 2019 às 20:05

Neymar: cinco erros do jogador ao falar da acusação de estupro nas redes sociais

'Escolha do canal e do vídeo me pareceu adequada, mas o equívoco está no conteúdo', diz Rosângela

'Escolha do canal e do vídeo me pareceu adequada, mas o equívoco está no conteúdo', diz Rosângela


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Henrique Riffel
Após ser acusado de estupro pela modelo Najila Trindade e sucessivas ações equivocadas que levaram à perda de patrocínio da Gillette e revisão de outros três – Mastercard, Nike e Red Bull – em função do episódio, o jogador de futebol Neymar mergulhou num autêntico inferno astral. Para completar a lista de danos, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) oficializou, nesta quinta-feira (6), o corte do camisa 10 da seleção para a Copa América, que começa dia 14 no Brasil.
Após ser acusado de estupro pela modelo Najila Trindade e sucessivas ações equivocadas que levaram à perda de patrocínio da Gillette e revisão de outros três – Mastercard, Nike e Red Bull – em função do episódio, o jogador de futebol Neymar mergulhou num autêntico inferno astral. Para completar a lista de danos, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) oficializou, nesta quinta-feira (6), o corte do camisa 10 da seleção para a Copa América, que começa dia 14 no Brasil.
A desastrosa vida extracampo expôs o ídolo esportivo nacional ao tribunal das redes sociais. Neste campo, pode estar um dos principais erros de Neymar e de quem o assessora, provoca a sócia da Engaje, consultora e professora em Estratégias de Prevenção e Gestão de Crises da ESPM-Sul, a jornalista Rosângela Florczak. Especialista em gestão de crises, Rosângela apontou cinco erros na condução da primeira aparição do atleta, em vídeo no seu perfil no Instagram.    
Fracassos dentro das quatro linhas do futebol, com eliminação nas Copas do Mundo de 2014 e 2018, Ligas dos Campeões, perda de títulos na França, desentendimentos com companheiros de Paris Saint-Germain e sucessivas lesões, reforçam que "não é fácil ser o Neymar", como já se referira, dirigentes da CBF.
Erros recorrentes estão afetando a carreira do jogador que ganhou fama pelo talento no futebol desde cedo, quando defendia o Santos. Insistir nos equívocos e potencializar a própria crise indica a má estratégia feita pela NR Sports, empresa montada pelos pais do jogador para gerenciar sua carreira. A especialista conversou com o Jornal do Comércio sobre as razões que podem explicar falhas na comunicação do jogador durante a gestão dos sucessivos conflitos.
Jornal do Comércio – Não é a primeira vez que uma celebridade do esporte está envolvida em acusações com viés sexual ou violento, há algum componente que diferencie a situação do Neymar?
Rosângela Florczak – Assim como as marcas e empresas, todas as celebridades precisam ter uma atenção especial com as suas ações. Elas estão sempre sujeitas a esta visibilidade intensiva sobre os erros que cometem ao longo da vida. No esporte já vimos alguns casos muito mal resolvidos, como: Mike Tyson, que foi acusado de estupro e marcou o início do final da carreira dele; os dois nadadores americanos (Ryan Lochte, James Feigen) nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, onde houve perda dos patrocínios. O diferencial no caso do Neymar é o ambiente midiático muito controverso e intensificado pelas polêmicas e polarizações.
JC – O tribunal imaginário das redes sociais muda a forma de lidar com estas situações? O jogador fez certo ao falar primeiro com os seus seguidores?
Florczak – Se ele seguiu as orientações das assessorias, a gente não consegue saber. Os posicionamentos do pai do Neymar, Neymar dos Santos, como gestor da carreira do filho, dão a impressão de que prevaleceu o entendimento do pai e não necessariamente o dos assessores. A decisão de falar no Instagram não é ruim, porque, se ele se comunica positivamente nesse canal, precisa prestar contas para o seu público. A escolha do canal e do vídeo me pareceu adequada, mas o equívoco está no conteúdo.
JC – Em artigo, a senhora aponta cinco erros na ação na rede social. Quais são eles?
Florczak – O primeiro deles foi que o vídeo é longo e confuso. Sete minutos é muito tempo na prestação de contas. A comunicação nas situações de crise precisa ser clara, objetiva e curta. A pessoa pode voltar a falar em outros momentos e trazer novas informações. Mas, para a primeira manifestação, o vídeo é extremamente longo. As pessoas acabam cansando por repetição de informação. O segundo erro foi a escolha por se vitimizar. Oriento meus clientes que humanizem em vez de se vitimizar. O terceiro erro foi não ter pedido desculpas aos seus seguidores por estar envolvido nas acusações. O quarto tropeço foi ele não negar as acusações de forma contundente e firme. Por fim, o quinto e erro mais grave foi disseminar conteúdo de conotação sexual de uma outra pessoa sem autorização (mulher que o acusou), porque isso gera um crime.
JC – Em um cenário ideal, o que ele deveria ter feito? 
Florczak – Há um tempo ideal para fazer o vídeo. Existe um caso de uma companhia aérea que se defendeu de uma acusação em que o vídeo dura exatamente 59 segundos. O gestor daquela situação de crise conseguiu dar uma mensagem consistente, concisa e convincente. Se fosse de um minuto e meio ou dois minutos, já estaria de bom tamanho, além de uma narrativa melhor elaborada. A assessoria quis passar a ideia de que o vídeo era espontâneo. Sabemos que não foi.
JC – Enquanto ocorria o jogo do Brasil contra o Catar, em Brasília, um vídeo do encontro entre o Neymar e Najila veio a público. Pelo timing da exposição em momentos cruciais, há a impressão que ela possa ter sido assessorada para lançar no momento certo?
Florczak – É muito difícil dar essa resposta. Parece que ela dá passos bem consistentes nessa estratégia. Achei inteligente ela disponibilizar só 20 segundos do vídeo, em vez de todo o conteúdo. Colaborar com os órgãos que investigam é sempre visto com bons olhos. Acho que o Neymar deveria ter feito o mesmo no vídeo dele, com as menções aos registros que ele tem no celular dele e dizer que entregaria para a polícia. A gestão da crise tem um elemento muito importante que é o timing. Responder rápido para esclarecer os fatos. Se a pessoa não estiver preparada antes, a chance de agir de forma equivocada é muito grande.
JC – Como deve ser a conduta com fãs e patrocinadores diante do abalo à imagem e reputação?
Florczak – Ele (Neymar) vai precisar de uma estratégia muito arrojada no pós-crise. Não adianta colocar ele numa organização não-governamental (ONG) ou trabalho social e dizer que ele é bonzinho. Ele precisa convocar uma entrevista coletiva e falar a verdade, mesmo que isso seja admitir a situação de violência. Precisamos sair desta ideia de que as celebridades são perfeitas. Pelo jeito como o pai dele conduz o caso de forma conservadora, provavelmente isso trará repercussões financeiras importantes para a carreira dele.
JC – A família ajuda ou é melhor não misturar os negócios neste caso?
Florczak – Se a família buscasse assessoria profissional e ouvisse as recomendações, talvez fosse diferente. Mas não é o caso. Não há problema de um familiar liderar a comunicação, desde que ele seja profissional.
JC – Quais as semelhanças entre o caso Neymar e crises de imagem corporativa?
Florczak – Tem toda a proximidade. Enxergo a pessoa pública, seja ela um político, um atleta ou celebridade, que precisa ter um processo de gestão de crise, assim como tem uma gestão contábil, por exemplo. Precisa-se montar um processo de gestão de eventos críticos, até porque nem tudo é crise. Entretanto, eventos de risco acontecem todos os dias para essas pessoas, assim como nas organizações.
JC – O fato de o Neymar fazer parte da Seleção Brasileira, caberia à CBF uma melhor condução do caso, uma vez que ela é afetada também pela quebra de confiança?
Florczak – Acho que a CBF teve um problema de conflito entre os porta-vozes. O presidente falou uma coisa e o vice outra, e isso é ruim para a organização. Certamente, eles têm um plano de prevenção de crise que provavelmente foi acionado. O problema grave foi mais de um representante institucional se manifestando e com opiniões distintas.
JC – No jogo entre Brasil e Catar, o presidente da República, Jair Bolsonaro, foi ao estádio Mané Garrincha abraçar Neymar. Este gesto pode afetar a imagem do presidente e do jogador, uma vez que o executivo tem um passado controverso sobre opinião a respeito da violência contra as mulheres?
Florczak – Não aconselharia o presidente a ir ao estádio, se fosse assessora dele. Para o Bolsonaro, isso não muda tanto, mas para o Neymar isso passa a ser associado como alguém que compartilha das opiniões bastante questionadas.
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