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Turismo

- Publicada em 14 de Abril de 2019 às 21:36

Roteiros valorizam história e cultura negra

Passeio pelo Quilombo da Fazenda refaz o percurso da população afrodescendente

Passeio pelo Quilombo da Fazenda refaz o percurso da população afrodescendente


/SOL BARBOSA/CULTURA E TURISMO/DIVULGAÇÃO/JC
Anexado ao Parque Nacional da Serra do Mar, em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo, o Quilombo da Fazenda integra um dos novos roteiros sugeridos pela Diáspora Black, plataforma brasileira presente em 18 países e com valor de mercado avaliado em R$ 5 milhões. A startup já conta com dois anos de mercado, e nasceu como rede de hospedagem compartilhada, baseada em uma política sem preconceitos de qualquer natureza. Recentemente, a empresa aderiu a venda de roteiros turísticos com foco na valorização da cultura negra.
Anexado ao Parque Nacional da Serra do Mar, em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo, o Quilombo da Fazenda integra um dos novos roteiros sugeridos pela Diáspora Black, plataforma brasileira presente em 18 países e com valor de mercado avaliado em R$ 5 milhões. A startup já conta com dois anos de mercado, e nasceu como rede de hospedagem compartilhada, baseada em uma política sem preconceitos de qualquer natureza. Recentemente, a empresa aderiu a venda de roteiros turísticos com foco na valorização da cultura negra.
Reconhecido pela Unesco desde 2005, o passeio em Ubatuba possibilita ao visitante refazer o percurso histórico de afirmação da população afrodescendente. Além de visitar a comunidade da fazenda, o turista conhece cachoeiras e paisagens naturais, e vivencia o cotidiano, a gastronomia e as manifestações culturais do quilombo. A porta de entrada para o local é uma roda d'água, herança do antigo engenho de álcool e açúcar do século XIX. Adaptado ao longo dos anos, o espaço abriga, hoje, a casa comunitária para a produção de farinha, uma das principais atividades econômicas, assim como o artesanato confeccionado em fibras e cipós locais.
Para oferecer experiências como esta, a plataforma é parceira da Rota da Liberdade, circuito turístico desenvolvido na região do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira, que mapeia os passos dos negros africanos e seus descendentes na construção da cultura desses locais. "Mais do que consumo de viagens, trabalhamos com o turismo de impacto, que fomenta a geração de renda, valoriza o saber da comunidade e constrói pontes entre a nossa tradição cultural e as pessoas que buscam experiências transformadoras", explica o CEO da Diáspora Black, Carlos Humberto Silva.
"A Diáspora Black é nosso canal de comercialização", explica a proprietária da operadora Sol Barbosa Cultura e Turismo, Solange Cristina Barbosa, criadora e coordenadora da Rota da Liberdade, procurada principalmente por visitantes internacionais e pela população negra que tem interesse em conhecer mais das origens de sua história. Ubatuba também tem outra comunidade quilombola, na Praia de Caçandoca. "Os turistas se hospedam ali mesmo e vivenciam o dia a dia do quilombo, participam de roda de conversa e apreciam gastronomia afro-brasileira."
Desenvolvida para conectar hóspedes e anfitriões preocupados em não reproduzir estereótipos racistas e preconceituosos, a plataforma funciona no mesmo modelo de um Airbnb, mas para pessoas que querem conhecer melhor a cultura negra no Brasil. Idealizador do projeto, Silva comenta que a ideia nasceu depois que ele constatou que não conseguia receber hóspedes no Airbnb pelo fato de ser afrodescendente. Geógrafo de formação, ele é acostumado a viajar e conta que não raras vezes foi constrangido em recepções de hotéis e outros lugares turísticos, que deveriam incentivar o retorno dos visitantes, ao invés de discriminá-los. "Minha vivência pessoal não é um caso isolado, esta é uma dor coletiva: dados mostram que a população negra (formada por, pelo menos, 50% do povo brasileiro e que contribui com R$ 1,7 trilhão para o PIB nacional) tem 16% mais dificuldades que qualquer outra para acessar habitações em plataformas compartilhadas, tanto como anfitrião, quanto como viajante."

Adesão de anfitriões no Rio Grande do Sul ainda é desafio

Considerado um mercado importante para a plataforma, o Rio Grande do Sul ainda conta com número baixo de anfitriões cadastrados. De acordo com o cofundador da Diáspora Black, Carlos Humberto da Silva Filho, Porto Alegre está em sétimo lugar entre as capitais mais visitadas pelos usuários do site, perdendo para as regiões Sudeste e Nordeste. "Pessoas que compartilham suas casas, desprovidas de preconceitos, e empresas interessadas em fechar parceria com a Diáspora Black são muito bem-vindas, basta entrar em contato", convida Silva Filho.
No Brasil, a startup está presente em 70 cidades e conta com mais de 4 mil usuários cadastrados, sendo que 20% é de anfitriões. Na Diáspora Black, o cliente pode encontrar vagas não somente em residências, mas também em hotéis, hostels e pousadas. Quem deseja oferecer a casa, passa por checagem da plataforma. Em São Paulo, uma das empresas que aderiu à parceria com a plataforma de hospedagem sem preconceito foi o Hostel Aurea. O proprietário, Denys Botelho, recebe hóspedes do Brasil e do exterior, e optou pela plataforma para "ressaltar que o espaço tem entre seus diferenciais a boa convivência, onde todos são recebidos da melhor maneira possível".
A parceria começou em junho do ano passado. Até agora, chegaram até o hostel cerca de 12 visitantes vinculados à plataforma. "É um aprendizado a cada dia: troca-se muita informação e muita cultura de todos os lados", comenta.
"Me senti super bem acolhido", comenta o músico gaúcho Udi Fagundes, de 40 anos, que esteve recentemente hospedado no apartamento de três mulheres no bairro Santa Cecília, em São Paulo.