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Fórum da Liberdade

- Publicada em 09 de Abril de 2019 às 21:45

Evento debate rumos do liberalismo no Brasil

Liberdade econômica é considerada tema secundário, afirmou Fonseca

Liberdade econômica é considerada tema secundário, afirmou Fonseca


/MARCO QUINTANA/JC
Em dois painéis realizados ontem no Fórum da Liberdade, o público foi instigado a refletir sobre o que é ser liberal, realmente, e sobre os rumos do liberalismo no Brasil. A presença das redes sociais nas eleições de 2018 e os conceitos repetidos durante a campanha foram colocados em xeque por diferentes painelistas, com direito a vaias e reprimendas ao público.
Em dois painéis realizados ontem no Fórum da Liberdade, o público foi instigado a refletir sobre o que é ser liberal, realmente, e sobre os rumos do liberalismo no Brasil. A presença das redes sociais nas eleições de 2018 e os conceitos repetidos durante a campanha foram colocados em xeque por diferentes painelistas, com direito a vaias e reprimendas ao público.
Durante o painel Ideias em Rede, Mudanças no Mundo, o cientista político Demétrio Magnoli alertou para os benefícios e os riscos das plataformas digitais e das redes sociais como espaço de debate de ideias, como se fossem antigas praças onde o tema político e a troca de ideias era o centro das atenções. Nas redes sociais, alertou, porém, que é preciso ficar atento às "bolhas da internet".
"Essas bolhas são as crenças pessoais, as mentiras, as opiniões que se convertem em falsas notícias e que são capazes de eleger presidentes", alertou Magnoli, vaiado por parte do público - predominantemente formado por eleitores de Jair Bolsonaro - e aplaudido por uma parcela menor.
A vaia, lembrou a mediadora do debate, não condizia com o foco do fórum - a liberdade, não apenas na economia, mas de ideias. O puxão de orelha na parcela da plateia menos tolerante a ideias contrárias parece ter surtido efeito.
Logo depois de Magnoli, a crítica da cientista política guatemalteca Gloria Álvares ao uso das redes por líderes radicais parece ter sido melhor compreendida pelo público. Gloria criticou a utilização dessa ferramenta como substituto ao mundo real, nos projetos e nas propostas de governo. "Certamente Hitler teria Twitter se já existisse naquela época", alertou Gloria.
No segundo painel, chamado A liberdade vai mudar o Brasil?, o economista e filósofo Joel Pinheiro da Fonseca lembrou do que considera os primeiros passos do liberalismo brasileiro nas redes sociais, nos idos de 2000, pelo Orkut, até os dias de hoje. Falou das mudanças da forma como as privatizações passaram a ser vistas desde então - de tabu a angariadora de votos - e lembrou que, no Brasil, o liberalismo econômico é tema, na verdade, secundário. "Não foi o projeto econômico que elegeu Bolsonaro, foram outras propostas", avaliou Fonseca.
O economista também destacou as distorções surgidas a partir da vitória de Bolsonaro e que contrariam os preceitos de liberdade. Fez críticas tanto à esquerda quanto à direita no quesito tolerar diferentes opiniões. "Hoje, para ser considerado comunista, basta discordar do liberalismo e, com isso, já quer destruir a sociedade e a família. Se passou a demonizar quem não concorda conosco, o que não é democrático, valor fundamental dos liberais. Mas o contrário também ocorre: há quem diga que, se você é liberal, é a favor da riqueza só para uns e da pobreza dos outros", destacou Fonseca.
Ao finalizar o painel, Hélio Beltrão, empresário e CEO do Mises Brasil, lembrou que a sobrevivência do liberalismo no Brasil vai depender de apoio econômico a entidades que estudam e defendem a teoria, mas também de uma mudança de posturas. "Não basta ser anticomunista. É fácil destruir as coisas, o difícil é construir. Não se pode defender o direito de propriedade tomando a propriedade dos outros. Alistamento militar obrigatório é escravidão, e também não podemos concordar com isso", exemplificou o empresário.

'Coletividade imbecil' acredita em salvação por militares, diz Olavo de Carvalho

Em videoconferência, filósofo criticou os intelectuais de esquerda

Em videoconferência, filósofo criticou os intelectuais de esquerda


/LUIZA PRADO/JC
Quatorze anos após sua última apresentação no Fórum da Liberdade, o filósofo e escritor Olavo de Carvalho voltou a participar do evento nesta terça-feira. Em uma entrevista de uma hora feita por videoconferência, criticou os "intelectuais esquerdistas acadêmicos", aos quais atribui uma "humilhação intelectual horrível, tanto acadêmica quanto midiática", acrescentando que a "incapacidade de pensar levou a esquerda da glória ao fundo do poço", o que, para ele, estaria exemplificado na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
Ao abordar o governo de Jair Bolsonaro, de quem é um dos gurus, Carvalho apontou razões pelas quais os militares teriam permitido - ao não "cercar totalmente os comunistas" durante a ditadura militar no Brasil - a abertura para "a entrada do pensamento de esquerda". Segundo ele, há, no País, um pensamento equivocado a respeito do Exército. "A direita acha que as Forças Armadas nos libertaram do comunismo. Os militares jamais foram os monstros e jamais foram os libertadores", afirmou. O palestrante também disse que há uma "coletividade imbecil" que acredita na "salvação do País" pelos militares, o que, em sua opinião, depende das pessoas, e não de um regime.
Olavo de Carvalho disse que a base do pensamento militar, hoje, no Brasil, segue a doutrina positivista, desenvolvida por Augusto Comte, sem ter o conhecimento profundo do que isso significa. "Hoje, os militares repetem as ideias positivistas, as atitudes positivistas, sem sequer saber a escola que dá o nome. Temos que parar de dar ouvidos para esses que acham que eles libertaram o País, nada devemos aos militares nesse aspecto", afirmou.
Para o escritor, os militares teriam permitido que os comunistas se manifestassem nas universidades e na mídia, criando precedentes para a criação de "uma universidade a cada esquina", o que, para ele, criaria um grupo de "analfabetos funcionais colocados na praça com seus diplominhas, dos quais metade são completamente incapazes", criticou. "Imaginem os danos que trazem para onde atuam, isso tudo pago com o dinheiro do povo brasileiro", completou.
Ainda no âmbito da educação, Carvalho afirmou que o regime educacional brasileiro corrompeu uma base de direita, abrindo espaço para governos tucanos e petistas. Questionado sobre seu passado como militante comunista, Carvalho afirma que a "reação moral a condutas" que percebeu na época foram o fator determinante para seu afastamento. 
O escritor também afirmou que o problema atual da cultura brasileira é o controle hegemônico da esquerda, definido por ele como "censura". Carvalho diz acreditar que a "doutrinação" dentro das universidades exclui a opinião adversária. Por fim, declarou: "não venham os palhaços comunistas dizer que há liberdade, eles estão destruindo o jornalismo brasileiro e suas bases".

Painel destaca importância de agregar valor e conectar pessoas no empreendedorismo

Cobertura do Fórum da Liberdade, painel Empreendendo a Liberdade.
Na foto: Henrique Viana, Dominique Oliver e Diogo Costa.

Cobertura do Fórum da Liberdade, painel Empreendendo a Liberdade. Na foto: Henrique Viana, Dominique Oliver e Diogo Costa.


/LUIZA PRADO/JC
Empreender e agregar valor foram os principais temas do painel 'Empreendendo a Liberdade', realizado ontem no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre. O painel contou com a presença do cofundador e CEO da Brasil Paralelo, Henrique Viana; do CEO da Amaro, Dominique Oliver; e do diretor executivo da Escola de Administração Pública (Enap), Diogo Costa.
Viana explicou que a Brasil Paralelo - empresa de mídia independente - surgiu da identificação de "necessidade de informação", buscando "explicar a História para as pessoas". Com apenas 10 pessoas na equipe inicial, a empresa lançou-se na produção de documentários em um segmento que julgava ser pouco explorado, voltado ao ativismo político de direita. Até hoje, inclusive, a Brasil Paralelo não conta com profissionais formados na área audiovisual. "Somos uma empresa de fazer documentário sem ninguém do cinema ou do jornalismo", orgulha-se o empreendedor.
Atualmente, a Brasil Paralelo tem no currículo a realização de cinco séries documentais, que unem arte, storytelling (narrativa voltada para a contação de histórias) e conteúdo didático. O lançamento dos vídeos é gratuito, com cobrança de conteúdos pagos. Para Viana, é necessário para o empreendimento que o público "perceba valor" no produto. Hoje, a  plataforma de conteúdo tem mais de 30 mil assinantes.
Já o empreendedor suíço Dominique Oliver contou que veio em Brasil em razão de um estudo de mercados emergentes. Aqui, fundou a Amaro, rede de vestuário voltada ao público feminino. A empresa vende moda de uma maneira diferente, chegando ao cliente principalmente por plataforma digital, mas criando lojas físicas inteligentes batizadas de Guide Shops - lojas sem estoque, apenas para os clientes provarem as roupas e, depois, receberem-nas em casa.
"As pessoas não querem mais roupas, querem emoções", afirma Oliver. Segundo ele, um único produto pode ter até 150 atributos. Outra medida importante, define, é o uso de marketing e memes para "conectar as pessoas". Desde 2012, ano de fundação da Amaro, já atingiu mais de 350 mil clientes e mais de 500 mil seguidores no Instagram.
Diogo Costa, diretor-executivo da Escola Nacional de Administração Pública, finalizou o painel destacando que as dificuldades de empreender no país não impedem o brasileiro de abrir seu negócio próprio. "Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil está em 109º lugar na facilidade de fazer negócios e em 144º lugar quando trata-se de abrir uma empresa. Apesar dos número negativos, o brasileiro não deixa de empreender, seja por necessidade ou oportunidade", avaliou o palestrante.
Para Costa, é preciso valorizar o crescimento no número de empreendedores no Brasil, que já atinge mais de 50 milhões. "É preciso estimular um ambiente competitivo e que foque em gestão qualificada", finalizou.

Brasil precisa melhorar ambiente de negócios

Burocracia elevada, falta de infraestrutura e um sistema de educação precário são fatores apontados para que o Brasil perdesse competitividade em relação às outras nações. Para que um novo ciclo de desenvolvimento seja retomado é necessário aprimorar o ambiente de negócios do País. Essas foram algumas das considerações feitas no painel "Construindo o Brasil de Amanhã", realizado no Fórum da Liberdade, encerrado ontem na Pucrs, em Porto Alegre.
O secretário especial de desburocratização, gestão e governo digital no Ministério da Economia, Paulo Uebel, ressalta que o País viu o aparelho do Estado crescendo, aumentando a tributação, mas ocorrendo muitos desvios de recursos direta ou indiretamente. "Hoje, infelizmente, o Brasil é um dos piores lugares do mundo em termos de ambiente de negócios", reforça. Uebel argumenta que a máquina estatal tem uma relação direta nessa questão.
As consequências diretas, de acordo com o secretário, foram a diminuição da competitividade e um terreno fértil para a corrupção. Os reflexos indiretos foram mais de 12 milhões de desempregados, educação precária e insegurança generalizada no País. Para reverter esse quadro, defende Uebel, além das reformas estruturais, como a da previdência e a tributária, será necessário implementar um programa de desestatização para redefinir o tamanho do Estado. A meta também é reduzir os cargos dentro do governo e investir na transformação digital, diminuindo a burocracia.
Uebel citou como um exemplo negativo de Estado burocrático, intervencionista e socialista a Venezuela. Conforme o secretário, o desrespeito à liberdade criou "essa coisa assustadora". No Brasil, Uebel classifica que o maior "basta" foi dado nas últimas eleições com a vitória de Jair Bolsonaro, que ninguém acreditava que iria ganhar e tem como objetivo a redução do aparelho estatal e o combate ao crime organizado.
O economista e CEO do Instituto Insper, Marcos Lisboa, falando sobre os desafios da economia brasileira, salientou que, a longo prazo, os crescimentos econômicos medíocres cobram um preço grande para o País. Lisboa destaca que em cerca de duas décadas o Brasil cresceu um pouco mais de 18%, sendo que o crescimento do PIB vem decaindo desde 2011. "O Brasil é um país pobre", sentencia o executivo. O dirigente acrescenta que a renda média do trabalhador no Brasil corresponde a cerca de 25% da renda de um trabalhador norte-americano.
Para Lisboa, o melhor panorama não se trata de uma questão simples entre Estado versus mercado, mas gostaria de ver no Brasil a implantação de uma agenda liberal para estimular o crescimento. O economista adverte que o controle excessivo e mudanças nas regras do jogo estão relacionados com países que crescem pouco.
O CEO do Grupo Iguatemi, Carlos Jereissati Filho, por sua vez, enfatiza que lideranças públicas de boa qualidade no Brasil não caem do céu e precisam ser apoiadas. O empresário destaca que as situações dos estados são delicadas, com mais de 80% das receitas comprometidas com as folhas dos funcionários. Durante o Fórum da Liberdade, Jereissati Filho também apresentou o programa Juntos, da organização Comunitas.
A motivação da iniciativa é estimular parcerias que melhorem a gestão pública, resultando no desenvolvimento local e aprimoramento dos serviços públicos. Fazem parte da rede do programa as cidades de Pelotas, São Paulo, Salvador, Campinas, Petrolina, Caruaru, Curitiba, Juiz de Fora, Paraty, Santos e Teresina. Recentemente, alguns governos estaduais passaram a integrar o Juntos, são eles: Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Pará.