Nova subestação da Ufrgs acaba com queda de luz no campus do Vale

Capacidade instalada suporta crescimento de 20 a 30 anos na demanda da universidade

Por Patrícia Comunello

Nova subestação recebeu um investimento de quase R$ 20 milhões
Quem tem aula no campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), no bairro Agronomia, zona leste de Porto Alegre, sabe que a energia cai nas horas em que mais se precisa dela: nos calores insuportáveis da Capital e temporais. Mas para quem vai começar o ano letivo, uma boa notícia. Apagões agora só se houver alguma queda em linha de transmissão vinda de grandes hidrelétricas ou um blecaute geral.
O campus estreia nesta semana, justamente quando começa o primeiro semestre letivo, sua nova subestação de energia, que recebeu investimento de quase R$ 20 milhões, tem tensão de 69 kV e fez parte do programa Ufrgs Sustentável, voltado à alternativa de redução de uso e de modalidade de fontes de energia. Na passagem de quarta-feira (13) para quinta-feira (14), o campus será ligado à nova estrutura, que já está energizada, com rebaixamento da tensão para 13,8 kV para abastecer a comunidade interna.
"A Ufrgs vai ter uma rede só para ela. Hoje compartilhamos o consumo com outros usuários. Se tiver qualquer problema ou se o consumo aumenta, já era (a luz)", diz o superintendente de Infraestrutura da universidade, Edy Isaías Junior. "A partir de agora a estabilidade será muito maior", assegura Isaías Junior. Outra vantagem do investimento é que a capacidade instalada será de 20 MVA (megavolt ampere), que é de quase três vezes a necessidade normal do campus, que tem sido, em média, de 6 MVA, mas que em dias de pico, chega a 9 MVA, contrasta o titular da Superintendência de Infraestrutura (Suinfra). 
"Vamos ter folga de energia dando condição para a universidade fazer suas expansões por 20 a 30 anos, que incluem novos laboratórios, como a unidade de produção de kits para testes do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Medicamentos (CPDIM), e unidade da engenharia", ressalta Isaías Junior. Muitas das necessidades estavam aguardando maior suporte há uma década, observa ele.
Quando ocorre consumo acima do contratado, há outro efeito colateral indesejado, que é o aumento da conta de luz. A CEEE-D, que é a distribuidora, multa a Ufrgs por consumir mais que o contratado, que são 5,1 MVA. Outro detalhe: independentemente de ter aulas ou não, o campus tem uma demanda permanente de 2 MVA, devido aos laboratórios com equipamentos que nunca podem ser desligados, como ultrafreezers que operam a 80 graus centígrados negativos. "Temos toda a pesquisa da Antártica armazenada aqui", ilustra o superintendente.
Por essa razão também, a instituição de ensino precisa manter 40 grupos de geradores a óleo diesel para suprir a energia quando falta. "Cada vez que cai a energia, é uma continha de R$ 25 mil (com diesel)", alarma-se o gestor. E tem ainda o contrato de manutenção corretiva e preventiva dos geradores, de R$ 40 mil por mês.
Com a subestação, espera-se reduzir essa despesa, além da própria conta com a distribuidora, pois a Ufrgs mudará o status de usuário, ao receber energia bruta e transformá-la. A universidade vai comprar no atacado.
Somente no campus do Vale, que representa 50% da despesa total de R$ 2,5 milhões por mês do estabelecimento federal de ensino, a queda será de 20% no primeiro ano. Depois, a redução pode chegar 40% em toda a Ufrgs, pois a instituição poderá negociar contrato de fornecimento no mercado aberto de energia, que valerá para todo o consumo. "Só com a economia em toda a universidade vamos abater o investimento na subestação em quatro anos", comemora o gestor.

Parte da linha de transmissão teve de ser enterrada e passa sob o Dilúvio

O aporte para construir a nova subestação foi bancado com um terço de recursos próprios e dois terços pela União. O projeto e a execução levaram cerca de três anos, entre 2015 e fim de 2018. A contratação foi feita por meio do Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) e quem venceu foi o consórcio liderado pela Tecnova Energia e integrado ainda pela Comtrafo, Drilling, Montenge e SPM. A inauguração oficial ocorreu em fevereiro.
A instalação da subestação teve peculiaridades devido à localização do campus, que impôs exigências para licenciamento ambiental na prefeitura da Capital. Para poder puxar a linha de transmissão de três quilômetros, desde a Subestação Porto Alegre 6 (PAL 6) da CEEE até o campus, parte da ligação de cabos teve de ser subterrânea (um quilômetro) e os outros dois quilômetros aéreos.
"Perfuramos até um metro para enterrar os cabos de 69kV, que incluiu um trecho sob o Arroio Dilúvio", descreve Isaias Junior, citando que a tecnologia é de uma empresa italiana (a Prysmian), que tem know how e aporta confiabilidade isolamento necessários. O custo da linha subterrânea representou um terço do valor da obra.
Dentro do programa Ufrgs Sustentável, a instituição deve diversificar as fontes de energia. Estudos já ocorrem para implantar geração fotovoltaica usando telhados como coletoresda Casa de Estudante, no Centro, e em áreas de estacionamento, adianta Isaías Junior. "Ao gerar, vamos aliviar ainda mais a nova conta de luz." Nos meses de janeiro e fevereiro, a Ufrgs reduziu o horário de funcionamento para gastar menos com energia.