A ideia de formar um complexo carboquímico na região do Baixo Jacuí do Estado proporcionará outras atividades paralelas, além da extração do próprio carvão. A exploração da mina Guaíba, (que apesar do nome encontra-se entre Eldorado do Sul e Charqueadas), da Copelmi, também poderá atender, conforme os dirigentes da empresa, à toda demanda de areia e cascalho do Rio Grande do Sul.
A mina possui jazidas que chegam a 166 milhões de toneladas de carvão, 422 milhões de metros cúbicos de areia e 200 milhões de metros cúbicos de cascalho. O diretor de novos negócios da Copelmi, Roberto Faria, adianta que o planejamento prevê tratar com empreendedores que já atuam com areia e cascalho para gerar receita com esses subprodutos da finalidade principal da mina que é a mineração do carvão. O aproveitamento dos recursos que hoje se encontram em Eldorado do Sul poderia ser uma alternativa para a extração de areia feita no rio Jacuí.
No dia 14 de março, o processo de licenciamento ambiental prévio de lavra de carvão da mina Guaíba foi submetido a uma audiência pública em Charqueadas. Apesar de algumas entidades ambientais terem tentando suspender o evento através de medidas judiciais, o gerente de sustentabilidade corporativa da Copelmi, Cristiano Weber, considerou como tranquilo o encontro. Conforme o dirigente, os questionamentos foram mais em torno da questão social (pois cerca de 200 famílias precisarão ser realocadas para o empreendimento seguir adiante), do que propriamente sobre o tema ambiental.
Em um momento que há um grande receio quanto a iniciativas de mineração devido à tragédia que houve em Brumadinho (MG), Faria ressalta que o novo projeto da Copelmi não prevê a construção de barragem. Ao invés de uma barragem para rejeitos, a iniciativa da empresa gaúcha prevê o uso de uma solução conhecida como filtro-prensa, que possibilita que a água volte a ser usada no processo de beneficiamento do carvão e o resíduo sólido retorne para a mina. A operação da mina deverá gerar 1.154 empregos diretos e cerca de 5 mil indiretos.
Weber calcula que seja possível obter a licença ambiental prévia em 2019 e o licenciamento de instalação no ano seguinte. Após esse marco, a preparação da mina levaria mais três anos, ou seja, a geração de gás a partir do carvão poderia começar em 2023. O investimento no projeto da Copelmi, que se soma a uma planta com capacidade para 2 milhões de metros cúbicos diários de gás natural sintético (GNS), é estimado em torno de US$ 1,3 bilhão. Contudo, a perspectiva é que com a atração de outras companhias que utilizarão o gás, como indústrias de fertilizantes, o aporte no complexo carboquímico como um todo passe dos US$ 4 bilhões. Os derivados da carboquímica vão desde o gás sintético como substituto do gás natural até a sequência de produtos do gás de síntese como, por exemplo, metano, diesel, amônia, ureia, lubrificantes, nafta, plásticos etc.
A Copelmi conta como parceiras a norte-americana Air Products e a chinesa Zhejiang Energy Group, que serão investidoras e operadoras da planta carboquímica. Além de superar a questão ambiental e da atração de investidores, a companhia gaúcha precisará encontrar mercado para o gás do carvão. Faria ressalta que estudos do governo federal apontam que entre 2020 e 2023, quando o gás do carvão deverá começar a ser fornecido, o País estará importando cerca de 55% do seu consumo de gás. O empresário reforça que o insumo oriundo do mineral gaúcho seria uma excelente opção para substituir o combustível que vem do exterior. Para discutir a carboquímica, a Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) realizará no dia 14 de maio um seminário internacional no hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre.
Se a carboquímica ainda é um projeto, o que já é uma realidade para a Copelmi é o abastecimento de carvão para a usina Pampa Sul, do grupo Engie, que está em fase de comissionamento (teste), em Candiota, e que deve entrar em operação comercial nos próximos meses. A companhia de mineração fornecerá para a térmica cerca de 2,8 milhões de toneladas de carvão ao ano, oriundo da mina Seival, também localizada em Candiota.
Quanto a outros planos, o diretor de novos negócios da Copelmi, Roberto Faria, não nega que a Copelmi é uma natural interessada na privatização da Companhia Riograndense de Mineração (CRM). No entanto, o executivo argumenta que é preciso ter mais detalhes quanto ao modelo de desestatização e cronograma que serão adotados pelo governo gaúcho para se ter uma posição mais definitiva sobre o assunto.