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Economia

- Publicada em 27 de Janeiro de 2019 às 01:00

Desastre afeta mais a imagem do que as finanças da Vale, dizem analistas

Reflexos da tragédia no mercado só aparecerão nesta segunda-feira com a volta da bolsa

Reflexos da tragédia no mercado só aparecerão nesta segunda-feira com a volta da bolsa


/DOUGLAS MAGNO/AFP/JC
O rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), já causou danos financeiros à mineradora, mas o impacto mais profundo se dará na imagem da companhia, tanto para a atração de investimentos quanto de bons profissionais no mercado, avaliam analistas.
O rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), já causou danos financeiros à mineradora, mas o impacto mais profundo se dará na imagem da companhia, tanto para a atração de investimentos quanto de bons profissionais no mercado, avaliam analistas.
A tragédia deixará um alerta sobre a real situação em que se encontram as barragens da Vale em geral e a necessidade de investir em tecnologias, além de questionamentos sobre a qualidade da gestão de riscos realizada pela companhia, estimam especialistas.
Do ponto de vista do reconhecimento internacional, há potencial para contaminar todo o mercado de mineração no Brasil, pelo fato de ter acontecido pouco mais de três anos após o desastre de Mariana (MG). Para Pedro Galdi, analista da Mirae Corretora, a pressão internacional vai forçar o governo a rever a legislação, o que poderá desencadear custos com avanços tecnológicos para todo o setor.
"O risco para a mineração se torna maior. Isso vai levar as empresas a mudar tecnologia. Hoje, há tecnologia a seco, não precisa fazer barragem. As empresas vão ter que gastar dinheiro. Vai precisar estudar como fazer isso, e são gastos importantes. Não é só a Vale que tem barragem."
André Perfeito, economista da Necton, diz que o grau de envolvimento do governo para aperfeiçoar os sistemas de controle será observado pelo mercado nos próximos meses e terá influência direta sobre o valor das ações da Vale. Na sexta-feira (25), em reação às primeiras notícias da tragédia, os ADRs (recibos de papéis de ações) da Vale negociados em Nova Iorque fecharam em queda de 8%. Por causa do feriado, a Bolsa de São Paulo não operou, e os primeiros reflexos do mercado à queda da barragem só aparecerão no Brasil nesta segunda).
"A rigor vai ter uma queda logo de início, mas a continuidade ou não desse tombo terá muito a ver com a perspectiva de quanto o governo vai querer resolver esse problema ou não", afirma Perfeito. A agência de classificação de risco S&P anunciou no sábado (26) que poderá rebaixar a nota da Vale em vários degraus em razão das implicações financeiras decorrentes do desastre.
Até agora, a empresa já recebeu três pedidos de bloqueio de valores de suas contas. Neste domingo (27), a Justiça de Minas Gerais determinou o bloqueio de mais R$ 5 bilhões da Vale para garantir auxílio às vítimas. No sábado, o Ministério Público solicitou outros R$ 5 bilhões para reparar danos ambientais. No mesmo dia, a Advocacia-Geral de Minas Gerais entrou com pedido de R$ 1 bilhão para socorrer as vítimas, levando o total a R$ 11 bilhões bloqueados.
O Ibama já aplicou multa de R$ 250 milhões, mas, na prática, são cifras que os analistas não consideram dramáticas para uma empresa cujo valor de mercado alcança quase R$ 300 bilhões. "Não é número que machuca a companhia de modo intenso, mas vem como um soco no estômago", diz Raphael Figueredo, da Eleven Financial.
Do ponto de vista de produção e caixa, o impacto também é menor, calcula Galdi. "A mina de Feijão pouco representa na produção da empresa. Não vai afetar a produção. Em caixa, a empresa está bem definida. Conseguiu um patamar satisfatório de dívida."
Procurada, a Vale informou entender que os bloqueios judiciais não são necessários, uma vez que não se eximirá de suas obrigações de atendimento emergencial da população e reparações devidas. A empresa não se pronunciou sobre impactos financeiros das medidas.
O desafio para a empresa agora será reconstruir sua imagem, segundo César Caselani, professor de finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas). "Ficou escancarada uma negligência, uma total falta de controle, processos ruins. Não é seguro ser funcionário da Vale. Qual é a confiabilidade de uma declaração da Vale de que as barragens estão seguras depois desses dois eventos?", questiona o professor.
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