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conjuntura internacional

- Publicada em 20 de Novembro de 2018 às 01:00

Carlos Ghosn é preso no Japão por fraude

Executivo teria declarado às autoridade uma renda inferior à real

Executivo teria declarado às autoridade uma renda inferior à real


/GEOFF ROBINS/AFP/JC
O presidente do conselho de administração da Nissan, Carlos Ghosn, foi preso ontem por supostas violações financeiras no Japão. Admirado por salvar a montadora japonesa da falência, Ghosn também é executivo-chefe da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Ele é suspeito de sonegação, ao declarar às autoridades uma renda inferior à real.
O presidente do conselho de administração da Nissan, Carlos Ghosn, foi preso ontem por supostas violações financeiras no Japão. Admirado por salvar a montadora japonesa da falência, Ghosn também é executivo-chefe da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Ele é suspeito de sonegação, ao declarar às autoridades uma renda inferior à real.
O anúncio pegou o mercado e executivos do setor de surpresa. O superpoderoso Ghosn era considerado um ícone de sucesso no mundo dos negócios.
O presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, irá propôr ao conselho de administração da empresa a remoção de Ghosn, em reunião que está marcada para esta quinta-feira (22). A companhia confirmou que Ghosn ocultou sua renda do fisco "durante anos". "Além disso, várias outras práticas ilícitas foram descobertas, como o uso de bens da empresa com fins pessoais", afirmou a empresa.
Ghosn e outro diretor da empresa, Greg Kelly, são alvo de uma investigação interna há meses, segundo nota divulgada pela Nissan, que informa que já está em colaboração com os procuradores.
Segundo a Bloomberg, essas investigações mostraram que, por vários anos, ambos informaram à Bolsa de Tóquio ter recebido um valor menor que o efetivamente recebido em compensações financeiras. Além disso, Ghosn adotou outras práticas ilícitas, como o uso de bens da empresa para fins pessoais, disse a Nissan.
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que vai trabalhar para preservar a estabilidade da aliança entre Renault e Nissan e que ainda era cedo para comentar as acusações. "Como um acionista, o governo francês vai continuar extremamente vigilante quanto à estabilidaqde da aliança", afirmou. O governo detém 15% do capital da Renault.
O conselho de administração da Renault afirmou estar ciente das informações divulgadas pela Nissane, e disse que está "aguardando informações específicas" por parte do executivo, de acordo com um comunicado.
A confederação sindical CFE-CGC do grupo Renault se disse "preocupada" com o futuro da montadora após a prisão de Ghosn e pediu para a direção geral da empresa "certificar-se de que não haja quebra na cadeia de gestão". "O CFE-CGC solicita oficialmente que sejam tomadas todas as medidas dentro do grupo para preservar os interesses do grupo Renault e da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi", disse Bruno Azière, delegado do sindicato.
Segundo a mídia japonesa, Ghosn teria declarado uma renda ¤ 38 milhões menor do que a real. A prática teria começado em 2011 e teria durado mais de cinco anos. Esses desvios de conduta fizeram a Procuradoria de Tóquio deter Ghosn sob suspeita de violação da Lei de Instrumentos Financeiros e Cambiais. Ele concordou em prestar depoimento voluntariamente.
O salário do executivo é objeto de controvérsia há alguns anos. Ele chegou a ganhar mais de ¤ 15 milhões pelo acúmulo de funções na Nissan e na Renault, mas o valor diminuiu em 2017, quando Ghosn deixou de ser o executivo-chefe da montadora japonesa.
Em junho passado, ao ser reconduzido ao posto de número 1 da empresa francesa, ele aceitou um corte de 30% em seu salário -uma demanda de acionistas- e a nomeação de um número 2, Thierry Bolloré.

Empresário era considerado como responsável por salvar a montadora

Nascido no Brasil, em Porto Velho (RO), descendente de libaneses e cidadão francês, Carlos Ghosn, 64 anos, iniciou sua carreira na Michelin na França, onde trabalhou por 16 anos, e se transferiu para a Renault. Ele chegou a Tóquio em 1999 para recolocar a Nissan nos trilhos, no momento em que a empresa acabava de se unir à francesa Renault. Ele foi nomeado presidente-executivo dois anos depois.
Com cerca de US$ 20 bilhões em dívidas, a Nissan precisou de um tratamento de choque na época. Houve demissões, encerramento de parcerias e fechamento de linhas de produção pouco produtivas. Apelidado de "cost killer" ("cortador de gastos"), ele transformou um grupo à beira da falência em uma empresa lucrativa com volume anual de negócios da ordem de quase 100 bilhões de euros. Isso lhe valeu grande admiração no Japão. Após o plano de recuperação, a companhia registrou lucros recordes.
Em 2005, o executivo passou a presidir também a Renault, sendo a primeira pessoa a liderar duas montadoras simultaneamente. A partir de 2008, Ghosn passou a acumular a liderança do conselho de administração da Nissan.
Em abril de 2017, passou o bastão para seu herdeiro, Hiroto Saikawa, ainda permanecendo à frente do conselho de administração. Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi Motors, que ele levou para o topo da indústria automobilística mundial. No mesmo ano, a empresa havia investido na Mitsubishi, após a companhia ser afetada por escândalo sobre falsificação de dados sobre emissão de poluentes.
A parceria Renault-Nissan-Mitsubishi é, hoje, uma construção de equilíbrios complexos, constituída de distintas empresas ligadas por participações cruzadas não majoritárias. A Renault detém 43% da Nissan, que possui 15% do grupo do diamante, enquanto a Nissan possui 34% de seu compatriota Mitsubishi Motors. Rumores de fusão vazaram recentemente.
As acusações contra Carlos Ghosn, que construiu essa aliança sozinho, acumulando funções como nenhum outro executivo desse nível até então, são um duro golpe no trio franco-japonês que reivindica o título de primeiro conglomerado automobilístico mundial. No ano passado, foram 10,6 milhões de carros vendidos, superando os concorrentes Toyota, ou Volkswagen.