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conjuntura

- Publicada em 29 de Outubro de 2018 às 01:00

Incertezas econômicas cercam gestão Bolsonaro

Atenção do presidente eleito a reformas, em especial a Previdência, é ponto unânime entre especialistas

Atenção do presidente eleito a reformas, em especial a Previdência, é ponto unânime entre especialistas


WILSON DIAS/WILSON DIAS/ABR/JC
Utilizando como termômetro as recentes e constantes altas da bolsa de valores, quando pesquisas apontavam as maiores vantagens do então candidato Jair Bolsonaro (PSL) sobre o seu rival Fernando Haddad (PT), ficou claro que o mercado financeiro fez uma escolha pelo agora presidente eleito. No entanto, passado esse tempo de namoro, a dúvida é se a partir de janeiro, durante uma relação mais longa, esse otimismo irá perdurar. Para muitos economistas, essa perspectiva positiva dependerá do cumprimento das sinalizações dadas durante a campanha, como a realização de reformas e privatizações.
Utilizando como termômetro as recentes e constantes altas da bolsa de valores, quando pesquisas apontavam as maiores vantagens do então candidato Jair Bolsonaro (PSL) sobre o seu rival Fernando Haddad (PT), ficou claro que o mercado financeiro fez uma escolha pelo agora presidente eleito. No entanto, passado esse tempo de namoro, a dúvida é se a partir de janeiro, durante uma relação mais longa, esse otimismo irá perdurar. Para muitos economistas, essa perspectiva positiva dependerá do cumprimento das sinalizações dadas durante a campanha, como a realização de reformas e privatizações.
O ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul e economista Aod Cunha adianta que algo que será preciso esperar para ser respondido é a receptividade da sociedade quanto às reformas. "Infelizmente, por várias razões, o debate eleitoral se desviou em discutir temas relevantes para o futuro do País, como a reforma da Previdência, então isso não foi amadurecido", lamenta o economista. Aod considera que o atual cenário internacional, onde será inserida a administração Bolsonaro, será menos favorável em termos de liquidez e expansão contínua de crescimento econômico do que nos últimos anos. "E isso é importante, porque o próximo governo terá que dar sinais mais fortes de compromisso com reformas e ajustes fiscais", aponta.
Quanto ao panorama doméstico, o economista chama a atenção que, se não forem tomadas medidas firmes, o Brasil terá, futuramente, uma dívida pública insolúvel. Aod classifica a reforma da Previdência como o grande debate macroeconômico do novo governo. O ex-secretário da Fazenda no governo Yeda Crusius pensa que essa reforma deveria ser tratada ainda em 2019. "Se não houver um sinal de encaminhamento de uma boa reforma da Previdência, a macroeconomia nacional e o governo Bolsonaro serão afetados muito duramente. A trajetória do déficit não permite mais o adiamento desse problema", alerta.
O professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Simão Davi Silber comenta que a visão de quem acompanha a economia brasileira, particularmente o mercado financeiro, está com uma expectativa muito favorável, porque o dólar e o risco-Brasil estão caindo e os preços das ações, subindo. Na sexta-feira, às vésperas da definição das eleições, a bolsa brasileira cresceu quase 2%, sendo que o cenário externo era de perdas. O Ibovespa fechou a 85.719 pontos, puxado pelo desempenho de estatais como a Petrobras, que teve as ações subindo quase 5%, e do Banco do Brasil e da Eletrobras, que evoluíram em torno de 6%. O dólar recuou mais de 1%, rumo ao menor patamar de fechamento desde maio, ficando em R$ 3,655.
Silber concorda que a reforma que será a mais sensível será a da Previdência, devido a interesses já estabelecidos em aposentadorias de maior porte e no setor público. Sobre o que pode ser feito para atenuar o problema da dívida pública, o professor sugere uma mistura de crescimento econômico com controle da expansão dos gastos públicos. "Concessões na área de infraestrutura são fundamentais para a recuperação do crescimento", defende. Sobre como o mercado vê o nome do economista Paulo Guedes para a pasta da Fazenda, Silber diz que as reações até agora são extremamente favoráveis, por ser uma vertente pró-mercado, contrária à estatização. Porém, o professor da USP ressalta que como Guedes será ministro, não o presidente eleito pelas urnas, o poder dele será limitado.

Perspectiva é de crescimento de PIB de 2% a 2,5% em 2019

Para o próximo ano, já sob a gestão de Jair Bolsonaro, a estimativa é de que o PIB brasileiro cresça entre 2% e 2,5%. A projeção é compartilhada entre o professor de Economia da Pucrs Adalmir Marquetti e o economista-chefe da DMI Group, Daniel Xavier.
Marquetti acredita que é possível que Bolsonaro siga os passos dados pela gestão de Michel Temer, inclusive no que considera mais retrocessos quanto às leis trabalhistas. "Acho que, mantida essa linha de aprofundamento do governo Temer, não vamos ver um crescimento significativo, teremos um incremento de 2% ou um pouco mais ao ano", projeta. Contudo, o professor enfatiza que há muita incerteza quanto ao caminho que a nova administração adotará. Uma questão que ainda precisa ser respondida, segundo ele, é qual será o papel dos militares no governo de Bolsonaro.
Por exemplo, se o segmento militar tiver uma maior relevância, Marquetti indaga se será permitido que a prospecção de petróleo seja internacionalizada. "Talvez serão privatizadas algumas áreas que não envolvem assuntos mais próximos à segurança nacional", pondera.
Marquetti adverte que muitas vezes ações que são boas para o mercado, não são salutares para o Brasil. "O mercado financeiro pensa no curto prazo, a construção de um País se faz a médio e longo prazo", sustenta o professor.
Já o economista-chefe da DMI Group afirma que, pelos indícios dados por Bolsonaro, a direção da economia deverá ser construtiva, no sentido de tratar os problemas apresentados, principalmente, a questão fiscal. Além disso, Xavier frisa as propostas de privatizações do presidente eleito e a redução do endividamento do setor público, que oscila em cerca de 80% do PIB. Outro ponto positivo indicado é a independência do Banco Central, com mandatos em tempos diferentes para a diretoria da autarquia e o presidente da República. Sob a gestão de Bolsonaro e com a continuidade das reformas, Xavier trabalha com um PIB de 2,5% para 2019. Se fosse eleito Fernando Haddad, vislumbrava um PIB mais perto do zero para o próximo ano.
 

Trânsito no Congresso é considerado como essencial

Como um presidente não pode governar sozinho, o cientista político e professor do Insper Fernando Schüler aponta como primeiro desafio do novo governo a criação de uma base sólida no Congresso. Um fator que deve ajudar Jair Bolsonaro nesse quesito é o fortalecimento de seu partido, o PSL. Tendo elegido somente um parlamentar federal nas eleições de 2014, a sigla deu um salto na campanha deste ano e mandará para Brasília 52 deputados e quatro senadores.
Schüler ressalta que Bolsonaro foi eleito com uma retórica antissistema, crítica do sistema de coalizões tradicional. "Só que terá que governar com uma coalizão partidária, boa parte das agendas de reformas que o País precisa fazer demanda maioria qualificada no Congresso", argumenta. Outro ponto que precisará ser enfrentado, segundo o cientista político, é o ajuste estrutural do setor público. "Durante o segundo o turno, o Paulo Guedes se manteve quieto e o Jair Bolsonaro foi moderando, foi flexibilizando uma série de posições", comenta Schüler.
O professor do Insper recorda que houve uma articulação para bloquear, por enquanto, a votação da reforma da Previdência, que poderia acontecer até o final do ano. Além disso, Bolsonaro fez críticas ao projeto do governo de Michel Temer e também sinalizou um recuo na ideia de privatização do sistema Eletrobras, com a intenção de manter um "miolo" da estatal. "Essas sinalizações, jogam uma série de incertezas sobre qual será de fato a agenda econômica do governo", frisa.
O analista da Levante Investimentos Rafael Bevilacqua avalia que a economia brasileira encontra-se hoje em um momento de retomada e o que falta para País é realizar a reforma da Previdência e recuperar a confiança. "Nesse sentido, acho que o Bolsonaro vai conseguir indicar exatamente isso", aposta o economista. Bevilacqua frisa que o presidente eleito conseguiu montar uma equipe econômica ancorada no economista Paulo Guedes e em princípios liberais.
Para o integrante da Levante, Bolsonaro precisa aproveitar a renovação do Congresso para aprovar as reformas necessárias, o mais rapidamente possível. De acordo com o analista, Paulo Guedes é sem dúvida um bom nome para ser o novo ministro da Fazenda, por saber como funciona o mercado financeiro. Já o economista-Chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, diz que um processo eleitoral, que possui um caráter de renovação, tem um efeito positivo nos agentes econômicos quanto à resolução de pendências.
"Aumenta a confiança dos consumidores, dos empresários, dos investidores estrangeiros, o que tem impacto imediato no nível de atividade econômica", detalha. Contudo, Silveira adianta que será necessário aguardar pelo menos os 100 primeiros dias de governo para se ter uma percepção mais clara do que será realmente a gestão de Bolsonaro.