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Economia

- Publicada em 21 de Setembro de 2018 às 10:14

Descentralização na geração vai mudar setor de energia no Brasil, aponta diretor da EPE

Guerreiro diz que é preciso buscar novas fontes de energia devido ao estresse hídrico dos anos recentes

Guerreiro diz que é preciso buscar novas fontes de energia devido ao estresse hídrico dos anos recentes


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Patrícia Comunello
Residências ou pequenos estabelecimentos gerando a própria energia a partir de painéis fotovoltaicos ou outros equipamentos, como baterias. As novas possibilidades de geração e mesmo usos do recurso, como abastecer carros elétricos, vão provocar uma grande mudança no setor energético, aposta Amilcar Guerreiro, diretor de estudos elétricos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Guerreiro, que veio a Porto Alegre para um seminário do Sindicato dos Engenheiros do Estado (Senge-RS) que discutiu os desafios do setor elétrico, também falou sobre as crises hídricas que impõem a necessidade de diversificar fontes, o avanço da energia eólica, solar e de biomassa, e chamou a atenção para a importância das termelétricas movidas a carvão, mas que precisam ser modernizadas. "A Casa Civil da Presidência da República montou um grupo de trabalho para tratar disso, o que interessa muito ao Rio Grande do Sul e a Santa Catarina, que têm grandes reservas de carvão."           
Residências ou pequenos estabelecimentos gerando a própria energia a partir de painéis fotovoltaicos ou outros equipamentos, como baterias. As novas possibilidades de geração e mesmo usos do recurso, como abastecer carros elétricos, vão provocar uma grande mudança no setor energético, aposta Amilcar Guerreiro, diretor de estudos elétricos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Guerreiro, que veio a Porto Alegre para um seminário do Sindicato dos Engenheiros do Estado (Senge-RS) que discutiu os desafios do setor elétrico, também falou sobre as crises hídricas que impõem a necessidade de diversificar fontes, o avanço da energia eólica, solar e de biomassa, e chamou a atenção para a importância das termelétricas movidas a carvão, mas que precisam ser modernizadas. "A Casa Civil da Presidência da República montou um grupo de trabalho para tratar disso, o que interessa muito ao Rio Grande do Sul e a Santa Catarina, que têm grandes reservas de carvão."           
Jornal do Comércio - O consumidor se acostumou que a conta de luz não sobe quando é bandeira verde, e fica mais cara quando é vermelha. O usuário entende o que determina essa convenção?  
Amilcar Guerreiro - A realidade é que o sistema ficou bem mais transparente para o consumidor tentar entender, mas precisa mais comunicação. Há também muitos desafios pelas mudanças na geração de energia. Especialmente nos últimos anos, estamos vivendo um período seco, com uma diversidade hidrológica que, ousaria dizer que, se não é a pior, está muito próxima de ser a pior em 80 anos. O período crítico era 1952 a 1955, que combinou seca no Sul e Sudeste, o que se repetiu entre 2013 e 2017. Na operação hidrelétrica, é preciso observar outros fatores, como crescimento da população e outros usos da água que trazem mais condicionantes para o setor elétrico, como manter a vazão da água, devido ao uso para irrigação e para manter a salinização na foz do rio. No Sudeste, por exemplo, tem de manter o nível da água nas hidrovias, que são cada vez mais usadas para transporte agrícola.
JC - O que causa esse período mais crítico de disponibilidade de água em 80 anos?
Guerreiro - Muitos especialistas associam a mudanças no clima, mas há fatores mais micro, como a ocupação do solo, que afeta a oferta de recurso hídrico, além da proteção das cabeceiras dos rios. Isso tudo envolve desde a atividade urbana como a agricultura.
JC - Como isso afeta o abastecimento de energia?
Guerreiro - Para compensar o estresse hídrico, atualmente, faz-se maior uso de geração termelétrica. A alternativa de não fazer isso é ter desabastecimento, que é mais caro do que usar a energia mais cara. O Operador Nacional do Sistema (ONS) tem de verificar o menor impacto, mas sem recuperar os mananciais é normal que se busque outras fontes.
JC - Quais são as saídas para não depender de uma energia mais cara? Isso está sendo planejado?
Guerreiro - Tem de pensar em longo prazo, pois alguns projetos de rede de transmissão, que necessitam de licenciamento ambiental, têm levado muito tempo para serem implantados. Uma hidrelétrica leva quatro a cinco anos para ser construída, e a transmissão tem levado mais. Já projetos de geração eólica levam dois anos e de solar, um ano e meio, mas é preciso que o sistema esteja preparado para receber essa energia. No longo prazo, a diretriz é manter a participação de fontes renováveis na matriz, que sempre foi alta, devido ao peso da geração com água (hidrelétrica), mas isso significa manter a expansão forte de eólica, solar, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e biomassa. A proporção de renovável, sem contar a hidrelétrica, hoje é de 22% da matriz energética e deve chegar a 30% em 2027. A eólica é a que mais crescerá, considerando o que já foi contratado, mas os percentuais aumentam também para solar, biomassa e PCHs.
JC - O que isso exigirá do sistema?
Guerreiro - Somente a expansão de eólica e solar não consegue atender o sistema, então vamos continuar precisando de aumento de geração térmica de base e de capacidade de potência para conferir flexibilidade à gestão da oferta. Tudo vem junto. A gente estima que, nos próximos dez anos, será preciso uma capacidade extra de potência de 13 mil megawatts (MW), além do que já tem para atender a média de consumo. Isso é necessário porque a geração varia muito. Outro desafio importante é manter em operação recursos que já estão no sistema, como as termelétricas a gás ou carvão, como as que têm no Sul, mas que precisam melhorar a eficiência. Elas são fundamentais. A Casa Civil da Presidência da República montou um grupo de trabalho, a pedido do Ministério de Minas e Energia, para tratar disso, o que interessa muito ao Rio Grande do Sul e a Santa Catarina, que têm grandes reservas de carvão. Estão em jogo investimentos e a substituição dos equipamentos antigos por novos.
JC - A geração solar vai crescer mais entre pequenos consumidores?
Guerreiro - A solar tem dois mercados - o centralizado, que participa dos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e o distribuído, que é gerado pelas residências e estabelecimentos comerciais, a partir dos painéis instalados nos telhados. Se cair mais o preço, será bom, pois o que pesa na decisão do consumidor é o preço, e o grande limitador é a renda. Será preciso mais avanços para permitir que esse mercado deslanche, e isso está na agenda da agência reguladora. 
JC - Quanto essa nova geração de energia pressiona por mudanças no sistema, ainda muito concentrado nos grandes fabricantes?
Guerreiro - Estamos no limiar de uma grande mudança no setor elétrico por causa dessa descentralização. Mas para isso tem de ter cuidados técnicos na rede e cuidados regulatórios. Os fatores técnicos estão ligados a como funciona o setor de energia, que é uma indústria de rede, pois o comportamento de um consumidor perturba o fornecimento para outro. Se não tiver os equipamentos certos na rede, isso pode abalar o consumo de outro usuário. Quem tem de aportar isso é o distribuidor, que é o dono da rede. Os grandes fornecedores de equipamentos são os mesmos grupos globais há décadas. Com os novos usos, como geração residencial, vão aparecer oportunidades para pequenos fabricantes de geradores, de baterias etc.
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