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Energia

- Publicada em 09 de Setembro de 2018 às 22:03

Contratação de biometano fica para o próximo mês

Biocombustível é gerado a partir da decomposição de dejetos orgânicos

Biocombustível é gerado a partir da decomposição de dejetos orgânicos


/JOÃO MATTOS/arquivo/JC
Mais uma vez foi adiada a expectativa da realização da chamada pública da estatal Sulgás para a contratação de biometano (biogás purificado, feito a partir de matéria orgânica, como dejetos de animais ou resíduos de vegetais). O governo do Estado tinha a intenção de abrir essa concorrência em agosto, mas, atualmente, conforme informações da Secretaria estatual de Minas e Energia, a estimativa é que a compra ocorra até o começo de outubro.
Mais uma vez foi adiada a expectativa da realização da chamada pública da estatal Sulgás para a contratação de biometano (biogás purificado, feito a partir de matéria orgânica, como dejetos de animais ou resíduos de vegetais). O governo do Estado tinha a intenção de abrir essa concorrência em agosto, mas, atualmente, conforme informações da Secretaria estatual de Minas e Energia, a estimativa é que a compra ocorra até o começo de outubro.
Inicialmente, a perspectiva era de que a distribuidora lançasse a licitação em 2016 para adquirir 200 mil metros cúbicos ao dia de biometano. O volume a ser contratado agora deverá ser bem abaixo desse patamar. O produto pode ser aproveitado como combustível de veículos ou para a geração térmica ou elétrica, substituindo o gás natural de origem fóssil. Atualmente, a capacidade do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) para atender ao Estado é de aproximadamente 2,8 milhões de metros cúbicos de gás natural ao dia e o consumo dos gaúchos é de cerca de 2 milhões de metros cúbicos diários. Essa proximidade entre oferta e demanda de gás justificaria a necessidade de compra do biometano.
O engenheiro químico do departamento técnico da Secretaria estadual de Minas e Energia, Guilherme Priebe, recorda que a tecnologia para a produção do biogás e do biometano nasceu da necessidade do tratamento de resíduos.
No Estado, o foco tradicionalmente estava no aproveitamento de restos agrossilvopastoris, oriundos de atividades agrícolas, como rejeitos das produções de aves, dejetos de suínos, bagaço de frutas etc. Mais recentemente, resíduos urbanos, como esgotos, por exemplo, também estão sendo observados. "Toda matéria orgânica degradável biologicamente é passível de gerar gás", explica.
Priebe considera importante a chamada pública da Sulgás, pois até o momento o setor não desenvolveu seu pleno potencial. "Eu interpreto essa ação como um embrião da indústria de biogás no Estado", argumenta. O diretor de desenvolvimento tecnológico do Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (CIBiogás), Rafael Gonzalez, defende que é necessário criar políticas públicas para que se apoie o crescimento do biogás no País. A chamada pública da Sulgás é um instrumento importante, segundo o diretor do CIBiogás, para dar um sinal de garantia ao setor privado e investidores.
Para Gonzalez, o biogás representa segurança energética e ambiental, já que viabiliza uma destinação adequada para resíduos orgânicos poluidores. O Brasil tem potencial para produzir até 70 milhões de metros cúbicos diários de biometano, sendo que cerca de 5,4 milhões de metros cúbicos dessa capacidade são oriundos do Rio Grande do Sul.

Potencial brasileiro em torno da cana-de-açúcar desperta interesse

Subprodutos da cana podem ser usados como matéria-prima

Subprodutos da cana podem ser usados como matéria-prima


EMATER/EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
No Sul do País, o diretor de desenvolvimento tecnológico do CIBiogás, Rafael Gonzalez, vê muitas oportunidades no aproveitamento de sobras das culturas de suínos, aves e bovinos, assim como nos aterros sanitários, para a produção de biogás e biometano. No Brasil como um todo, o integrante do Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás enxerga grande potencial no setor sucroenergético, constituindo um complemento na produção de cana-de-açúcar e etanol.
Uma prova disso é a planta que a joint venture formada pela Raízen e pela Geo Energética está desenvolvendo no município paulista de Guariba. O complexo converterá torta de filtro (resíduo da indústria sucroenergética) em biogás. A operação terá como objetivo a geração de eletricidade utilizando a torta de filtro e a vinhaça (também subproduto da cana-de-açúcar) como matérias-primas.
A iniciativa conta ainda com a participação da Sebigas-Cótica (o primeiro um grupo italiano e a segunda uma empresa gaúcha, que se uniram para prospectar oportunidades no mercado brasileiro de biogás). Essas companhias são responsáveis, dentro do empreendimento, pela construção de parte da biodigestão de vinhaça.
O diretor executivo da Cótica Engenharia e Construções, Maurício Cótica, enfatiza que se trata da maior planta de biogás no Brasil e uma das maiores do mundo, com capacidade instalada de 21 MW (cerca de 0,5% da demanda média de energia elétrica do Rio Grande do Sul). Uma das medidas tomadas para viabilizar o projeto foi vender energia ao sistema elétrico interligado nacional, em leilão promovido pelo governo federal. O investimento na iniciativa é de aproximadamente R$ 170 milhões e o desenvolvimento deve levar em torno de dois anos.
Cótica chama a atenção para o elevado potencial desperdiçado para a geração de energia elétrica no País com o biogás. O dirigente afirma que somente com resíduos do setor sucroenergético seria possível superar a produção de uma usina como Itaipu.
O diretor comercial para América Latina da Sebigas do Brasil, Lorenzo Pianigiani, concorda que há um espaço muito grande a ser explorado no Brasil. O executivo destaca que está havendo uma mudança de foco nos projetos desenvolvidos nacionalmente. Antigamente, a preocupação principal era apenas dar um tratamento adequado aos resíduos gerados. Atualmente, a geração de energia é uma parte fundamental da equação.
No Rio Grande do Sul, Cótica confirma que os empreendedores aguardam ansiosos pela chamada pública a ser feita pela Sulgás. O diretor argumenta que o papel da política pública é destravar a nova tecnologia, dar um primeiro passo, semelhante ao que aconteceu com as outras fontes renováveis. Porém, destaca que não é necessário ter um subsídio permanente para esse mercado se desenvolver.