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Mercado de Capitais

- Publicada em 06 de Agosto de 2018 às 01:00

Desempenho do investidor fica em média 8% abaixo do Ibovespa

Especialistas recomendam conhecer as regras antes de se aventurar no mundo das ações

Especialistas recomendam conhecer as regras antes de se aventurar no mundo das ações


NELSON ALMEIDA/AFP/JC
A valorização de 8,88% da bolsa só em julho pode até encorajar alguns investidores a entrar de cabeça nesse mercado, sobretudo em tempos de juros baixos. Porém, se aventurar por conta própria pode nem sempre ser uma boa estratégia. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), as pessoas físicas que investem em ações obtêm, em média, retorno anual 8% abaixo do Ibovespa - índice termômetro do mercado acionário brasileiro.
A valorização de 8,88% da bolsa só em julho pode até encorajar alguns investidores a entrar de cabeça nesse mercado, sobretudo em tempos de juros baixos. Porém, se aventurar por conta própria pode nem sempre ser uma boa estratégia. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), as pessoas físicas que investem em ações obtêm, em média, retorno anual 8% abaixo do Ibovespa - índice termômetro do mercado acionário brasileiro.
Isso quer dizer que, em caso de uma alta de 10% no índice, o investidor comum teria, em média, valorização de 2% em seus ativos. Já se a bolsa recuasse 10%, a perda no bolso seria maior - da ordem de 18%.
O professor da FGV, Bruno Giovannetti, responsável pelo estudo, atribui essa diferença a duas razões: custos operacionais, como as taxas de corretagem cobradas pelas corretoras, e vieses comportamentais dos investidores.
O primeiro viés é o excesso de confiança. Segundo Giovannetti, pessoas tendem a acreditar que são melhores do que a média. Com isso, acham que suas ideias também são melhores e executam mais ordens de compra e venda que um profissional, correndo mais riscos e pagando mais taxas de corretagem. "Há também investidores que operam em busca de adrenalina, como se aquilo fosse um jogo. Eles também fazem mais operações do que o necessário", diz.
Quando um investidor comum compra uma ação e ela sobe, explica Giovannetti, ele tende a vendê-la rapidamente e garantir o lucro. Quando o preço cai, ele não a vende com a mesma velocidade, carregando a ação mesmo que seu prejuízo comece a se agravar. É o efeito de disposição: a dificuldade de realizar um prejuízo e assumir que a estratégia deu errado.
O engenheiro Nicholas Garcia, de 30 anos, teve uma experiência traumática no mercado acionário. "Eu tinha um perfil superagressivo e acreditava que sabia muito mais do que realmente sabia." Ele fez cursos introdutórios de mercado financeiro e passou a fazer operações na bolsa, assessorado por um especialista.
Garcia teve um período de ganhos e conseguiu uma renda mensal no mercado financeiro maior que seu salário à época, quase dobrando de patrimônio. No fim de 2014, uma estratégia arrojada sugerida pelo analista levou a um prejuízo de R$ 200 mil. Além disso, precisou negociar uma dívida de R$ 20 mil com a corretora.
Para Lucas Claro, analista da Ativa Investimentos, quem deseja começar na bolsa deve conhecer as regras do jogo e as ferramentas do mercado. Um recurso é o stop loss, espécie de trava contra eventuais perdas, interrompendo uma negociação que está dando prejuízo antes que a perda seja ainda maior.
O analista também afirma que é preciso autoconhecimento para entender quanto risco está disposto a correr. "Investir na bolsa precisando de dinheiro no curto prazo pode gerar um nível muito elevado de estresse."
Giovannetti cita como boas opções os ETFs (Exchange Traded Funds), fundos que replicam índices e têm cotas negociadas em bolsa. Assim, o investidor aloca seu capital em um ativo já diversificado a um custo mais baixo.

Os comportamentos principais

  • Viés da atenção: Pessoas físicas possuem menos tempo para analisar o mercado e tendem a comprar papéis que, por algum evento recente, chamaram sua atenção, como a publicação de uma notícia na mídia. Em ativos de pouca liquidez, um grande número de pessoas comprando pode gerar distorção no preço.
  • Viés Local: Investidores tendem a comprar o que conhecem. Por exemplo: um engenheiro civil, que entende do mercado de construção, tende a comprar papéis de empresas do setor. Com isso, aumenta o risco de não diversificar a carteira e de ter prejuízo caso o setor tenha alguma perda relevante.
  • Ilusão do preço nominal: Indivíduos tendem a comprar ações que têm preço nominal baixo. Há ações que custam R$ 4,00 e outras que custam R$ 40,00. As duas podem se valorizar 100%, mas os investidores tendem a achar que a ação mais barata tem mais potencial de valorização, o que é ilusório.
  • Viés de ação: Há uma tendência de comportamento que mostra que muitos investidores não conseguem deixar de agir, ainda que a melhor decisão racional seja não fazer nada em um determinado momento.
  • Efeito manada: Ocorre quando o investidor decide imitar a decisão de outro, supostamente mais bem informado, em vez de agir de acordo com sua estratégia. Isso pode levar à compra de um papel que já está valorizado, por exemplo.