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Indústria Naval

- Publicada em 05 de Agosto de 2018 às 22:57

Estaleiro da Wilson Sons segue só no papel

Pedra fundamental foi lançada pela então governadora Yeda Crusius durante cerimônia em 2010

Pedra fundamental foi lançada pela então governadora Yeda Crusius durante cerimônia em 2010


/ANTONIO PAZ/ARQUIVO/PALÁCIO PIRATINI/JC
Há 10 anos, no mês de agosto, diretores da empresa Wilson Sons apresentavam no Palácio Piratini projeto que previa a construção de um estaleiro no porto do Rio Grande. Depois desse encontro, em 2010, a então governadora Yeda Crusius chegou a descerrar a placa que marcava o investimento no empreendimento. No entanto, até hoje, as obras não se iniciaram e a área separada para o complexo segue sem uma destinação definida.
Há 10 anos, no mês de agosto, diretores da empresa Wilson Sons apresentavam no Palácio Piratini projeto que previa a construção de um estaleiro no porto do Rio Grande. Depois desse encontro, em 2010, a então governadora Yeda Crusius chegou a descerrar a placa que marcava o investimento no empreendimento. No entanto, até hoje, as obras não se iniciaram e a área separada para o complexo segue sem uma destinação definida.
Uma série de discussões legais atrapalhou a iniciativa. Uma das dificuldades relatadas pela Wilson Sons era a espera pela licença para uso da faixa de água, de atribuição da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). De acordo com a assessoria de imprensa da SPU, após um período de indefinições e mudanças no marco legal do setor portuário, a partir de agora, a análise da cessão da área será retomada tendo por base a nova legislação sobre o tema, especialmente nos termos da Portaria nº 7.145/2018.
O Ministério Público Federal também ajuizou ação civil pública alegando que haveria mau uso da área em questão, que seria a única adequada para receber um segundo terminal de contêineres. Com a implementação do estaleiro, o espaço seria perdido. Além disso, estaria havendo alteração no Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do porto, com favorecimento de empresas em detrimento de concorrência. O estado do Rio Grande do Sul recorreu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que decidiu, em um primeiro momento, liberar a instalação do empreendimento do grupo Wilson Sons. Porém, ainda há um recurso (apelação cível) pendente nesse tribunal sobre a matéria.
Questionada pela reportagem do Jornal do Comércio sobre se haveria um prazo para requisitar o terreno caso o empreendedor não fosse adiante com o projeto do estaleiro, a Superintendência do Porto do Rio Grande (Suprg) respondeu que "o porto não irá se manifestar sobre o assunto enquanto o mesmo estiver sub judice. A Suprg aguarda decisão judicial para depois disso se manifestar". Já o grupo Wilson Sons diz que "ainda aguarda decisão judicial referente ao imóvel para a liberação da instalação de um estaleiro. A cada ano, a Wilson Sons vem renovando o Termo de Compromisso junto ao Estado do Rio Grande do Sul, manifestando seu interesse na construção na área doada".
O governo gaúcho doou um terreno de aproximadamente 125 mil metros quadrados, localizado no Superporto, para a construção do complexo no qual se previa investimento de até US$ 140 milhões. Na ocasião do lançamento da pedra fundamental do estaleiro, o vice-presidente do grupo Wilson Sons, Arnaldo Calbucci, dizia que seriam gerados cerca de 600 postos de trabalho diretos, número que chegaria a 2 mil quando o estaleiro estivesse funcionando em plena capacidade. O projeto prevê ainda a instalação de um centro de treinamento para a capacitação de mão de obra local.
O objetivo do estaleiro é construir embarcações de apoio a exploração de petróleo e gás tipo PSV - Platform Supply Vessel - e AHTS - Anchor Handling Tug Supply -, rebocadores portuários e oceânicos. A estrutura compreende também um dique flutuante para lançamento dessas embarcações. A estimativa de capacidade de produção anual é de até oito embarcações de apoio a plataformas de petróleo, o que equivale ao consumo de 16 mil toneladas de aço no período.

Projeto foi idealizado em período de aquecimento do setor

Manteli torce por manutenção de  empreendimento no Estado

Manteli torce por manutenção de empreendimento no Estado


/CLAITON DORNELLES /JC
Quando o plano do estaleiro da Wilson Sons em Rio Grande foi divulgado, a economia nacional não tinha ainda sentido os efeitos da crise, a indústria naval estava sendo retomada no País e a Petrobras estava fazendo encomendas internas de plataformas de petróleo. Hoje, o PIB brasileiro retraiu, a construção naval estagnou e a Petrobras direcionou várias de suas demandas para o exterior.
O vice-coordenador do Fórum de Infraestrutura da Agenda 2020 e vice-presidente da Associação Brasileira de Logística (Abralog), Paulo Menzel, argumenta que antes do estaleiro da Wilson Sons começar a sair do papel, provavelmente terão que ser reativados os estaleiros que já se encontram em Rio Grande (como o da Ecovix), que hoje sofrem com a inércia. "Não vejo interesse de um investidor em um novo projeto, pelo menos neste momento", afirma. Menzel recorda que o projeto da Wilson Sons justamente previa trabalhar com embarcações complementares, ligadas ao setor da indústria naval.
O coordenador da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, defende que é preciso apoiar qualquer empreendimento que gere riqueza e empregos no Estado. No entanto, o dirigente ressalta que os órgãos públicos atuam de forma independente, o que atrapalha o desenvolvimento das ações dos investidores. "Aí um autoriza, mas o outro não e ninguém se entende", critica. Manteli reforça que torce para que a Wilson Sons não desista do complexo, contudo essa insegurança jurídica é algo que dificulta a iniciativa.
Uma fonte que acompanha o setor portuário comenta que o fato de simplesmente a Wilson Sons ter a área reservada para a implantação do estaleiro é uma vantagem para a empresa. Isso porque o terreno em questão, situado próximo ao Terminal de Contêineres (Tecon) Rio Grande (que é controlado pelo grupo), originalmente seria destinado justamente para a instalação de um segundo terminal de contêineres. Ou seja, sem área para que esse projeto se desenvolva, o Tecon Rio Grande, da Wilson Sons, não teria concorrência de outra empresa privada.
No mês passado, a Wilson Sons soltou um comunicado ao mercado informando que iniciou um processo formal envolvendo ativos de terminais de contêineres e de logística que pode incluir a alienação desses empreendimentos, bem como a atração de parceiros estratégicos. Apesar de não ter sido anunciado oficialmente quais os complexos estariam abrangidos nessa iniciativa, o Tecon Rio Grande é tido como um dos possíveis ativos envolvidos.