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Agronegócios

- Publicada em 01 de Julho de 2018 às 21:48

Produção de fertilizantes da Petrobras preocupa setor

Produto é usado como reforço na alimentação dos rebanhos bovinos

Produto é usado como reforço na alimentação dos rebanhos bovinos


/JOÃO MOURA/FOTOARENA/FOLHAPRESS/JC
A decisão da Petrobras de interromper as produções de suas unidades de fertilizantes localizadas em Sergipe (Fafen-SE, na cidade de Laranjeiras) e na Bahia (Fafen-BA, no polo petroquímico de Camaçari) tem gerado preocupação no agronegócio. Inicialmente, o processo, chamado de "hibernação" pela estatal, era para ocorrer no primeiro semestre deste ano, mas foi postergado para outubro. Quem mais sentirá os efeitos da posição da companhia serão os consumidores de ureia.
A decisão da Petrobras de interromper as produções de suas unidades de fertilizantes localizadas em Sergipe (Fafen-SE, na cidade de Laranjeiras) e na Bahia (Fafen-BA, no polo petroquímico de Camaçari) tem gerado preocupação no agronegócio. Inicialmente, o processo, chamado de "hibernação" pela estatal, era para ocorrer no primeiro semestre deste ano, mas foi postergado para outubro. Quem mais sentirá os efeitos da posição da companhia serão os consumidores de ureia.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram), Ademar Leal, detalha que, para o segmento da agricultura, o impacto será menor, pois cerca de 85% da ureia utilizada nessa atividade já é importada. Os reflexos mais intensos ficarão concentrados no setor da pecuária. O dirigente explica que as ureias utilizadas nas duas áreas são distintas. Leal esclarece que o insumo para a pecuária é empregado no pasto, como fonte de proteína, para reforço da alimentação animal.
Conforme o presidente da Asbram, cerca de 95% da ureia destinada à pecuária é produzida no Brasil pela Petrobras, sendo 5% do volume restante importado. Pela condição climática, a região que mais precisa desse reforço, segundo Leal, é a Centro-Oeste. No entanto, no Sul, também é usado o produto para não perder desempenho, como é o caso do rebanho leiteiro.
Leal informa que a Petrobras possui três unidades no País que produzem esse tipo de composto, além das duas localizadas no Nordeste, ainda há outra em Araucária, no Paraná. Porém o presidente da Asbram ressalta que a planta paranaense não tem capacidade para atender ao consumo de todo o Brasil. O dirigente adianta que essa última fábrica, ao que tudo indica, será colocada à venda. Já para as estruturas em Sergipe e na Bahia, devido às idades avançadas, Leal não acredita que a empresa conseguirá encontrar compradores. "Por isso estão tratando de colocá-las em hibernação, esse é o nome que eles deram, mas é fechamento", frisa.
A planta de Camaçari encontra-se dentro de um polo multissetorial (ali, também há a produção petroquímica, por exemplo) e está próxima a um porto, o que facilitaria encontrar uma solução para a sua continuidade. "Mas, para a de Laranjeiras dificilmente vai se achar uma saída, porque precisaria de um investimento muito elevado para recuperá-la", afirma o presidente da Asbram. Além disso, o dirigente recorda que a fonte de produção de ureia é o gás natural, que é fornecido pela Petrobras, ou seja, o possível comprador ainda ficaria na mão da estatal para o abastecimento dessa matéria-prima.
Em nota, a Petrobras diz que a decisão de hibernar as unidades está alinhada ao posicionamento estratégico da companhia de sair integralmente das atividades de produção de fertilizantes, conforme seu Plano de Negócios e Gestão 2018-2022. Em 2017, a Fafen-SE e a Fafen-BA apresentaram resultados negativos de cerca de R$ 600 milhões e R$ 200 milhões, respectivamente, e o cenário de longo prazo continua indicando reveses.
Sobre perspectivas, Leal vê um panorama complicado para o agronegócio em decorrência da posição da estatal, com aumento de custos e demora na entrega de matéria-prima. "É um problema seríssimo esse", critica. O dirigente estima que, nos produtos que utilizam ureia, haja um acréscimo no custo em torno de 15%, no mínimo. O consumo nacional de ureia pecuária é de 250 mil a 350 mil toneladas ao ano, e as importações de ureia são procedentes de diversos países, como Noruega, Finlândia e Rússia, nações que contam com reservas de gás natural.

Sobre a Fafen-BA:

A Fafen-BA iniciou suas atividades em 1971, com foco na produção de fertilizantes nitrogenados. Os principais produtos da fábrica são amônia, ureia, gás carbônico e Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32).
 

Sobre a Fafen-SE:

A Fafen-SE entrou em operação em 1982. A unidade tem como principais produtos ureia fertilizante, ureia para uso industrial, amônia, gás carbônico e sulfato de amônio (também usado como fertilizante).
 

Fabricação local aumenta segurança quanto ao abastecimento doméstico do insumo

Para o consultor em Tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Reginaldo Minaré, ter uma produção doméstica de fertilizantes é uma segurança para o País em caso de um desajuste internacional, como uma alta muito intensa do dólar ou problemas com o frete. O especialista concorda que a falta da fabricação local de ureia para o gado é até pior do que para a agricultura e reitera que o produto usado pela pecuária no Brasil é praticamente todo oriundo do mercado interno, com pouca importação.
"A transição desse cenário não é uma equação fácil", adverte. Minaré frisa que, em curto prazo, não haveria outra solução para substituir esse volume subtraído além da importação. O consultor salienta que o mercado nacional de fertilizantes é enorme. "A questão é por que não se consegue produzir isso no Brasil a um custo razoável?", indaga. O integrante da CNA lembra que, quando a Petrobras anunciou a intenção de interromper a operação nas unidades de Sergipe e na Bahia, a empresa esperava que algum investidor comprasse os ativos para manter a produção. Em nota, a Petrobras manifesta que está em avaliação a criação de comissões a serem formadas por representantes dos governos de Sergipe e da Bahia, das federações das indústrias dos dois estados e da companhia para que sejam encontradas alternativas à hibernação das plantas, desde que não haja prejuízos para a Petrobras.
O pesquisador em Nutrição Animal da Embrapa Gado de Corte Sergio Raposo de Medeiros ressalta que a ureia é a fonte mais barata de nitrogênio para a nutrição animal de ruminantes (bovinos, caprinos e ovinos). De acordo com o pesquisador, a ureia é particularmente interessante na suplementação de animais em pastagens na época de seca, pois corrige a deficiência de proteína e transforma perda de peso em manutenção de peso (quando usada apenas como sal com ureia) ou ganho de peso (quando a ureia faz parte de um proteinado ou de qualquer outro suplemento de maior consumo que também contenha ingredientes orgânicos, como farelo de soja, milho etc.).
O insumo é bastante usado para o gado confinado, seja de corte ou leite, misturado ao concentrado ou à dieta total. Medeiros calcula que cerca de 4 milhões a 6 milhões de bovinos de corte, em confinamento, recebem esse tipo de suplemento. "Em pastagem, não tenho a porcentagem de animais que receberiam suplementos com ureia, mas sabemos que é minoria", comenta. A maioria do rebanho de corte recebe apenas o sal mineral, e outra parte, sal branco (sal de cozinha) ou nem isso, diz o integrante da Embrapa.