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Comércio Exterior

- Publicada em 18 de Junho de 2018 às 01:00

Guerra entre Estados Unidos e China traz mais efeitos negativos ao Brasil, alertam analistas

A guerra comercial travada entre Estados Unidos e China terá mais efeitos negativos do que positivos para o Brasil, na avaliação de analistas. Além de o País ser frontalmente afetado pela restrição à siderurgia, o aumento da tensão internacional pode reduzir os preços das commodities, atingindo em cheio economias dependentes desses produtos, como a brasileira.
A guerra comercial travada entre Estados Unidos e China terá mais efeitos negativos do que positivos para o Brasil, na avaliação de analistas. Além de o País ser frontalmente afetado pela restrição à siderurgia, o aumento da tensão internacional pode reduzir os preços das commodities, atingindo em cheio economias dependentes desses produtos, como a brasileira.
O primeiro impacto, no Brasil, das barreiras levantadas pelo governo de Donald Trump se deu nas restrições à importação de aço e de alumínio. Essa decisão foi tomada sob o argumento de defesa nacional, e os países que exportam para os Estados Unidos tiveram de se submeter a cotas ou aplicação de taxações.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras de aço. No ano passado, o país foi o comprador de um terço das vendas ao exterior - quase cinco vezes mais que o segundo principal parceiro, a Alemanha. A maior parte dos embarques é de semiacabados, para a fabricação de laminados.
"A restrição veio na pior hora possível. O setor opera com 68% da capacidade, quando o normal é operar com 80%. O mercado interno ainda não reagiu, e as exportações ficaram mais relevantes", diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil. Ele estima queda de 10% no volume de aço exportado neste ano.
No início do mês, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) havia estimado um prejuízo de US$ 3 bilhões para as exportações de aço e de US$ 144 milhões para as de alumínio.
Em resposta ao protecionismo de Trump, a China ameaçou com tarifas sobre a soja norte-americana, o que poderia abrir espaço para outros produtores, principalmente do Brasil. "Pode ocorrer uma vantagem momentânea para a soja brasileira, mas que não se sustenta. O Brasil até tem potencial para produzir mais grãos, mas não da noite para o dia, e há barreiras que emperram as exportações, como a infraestrutura precária", diz Bartolomeu Braz Pereira, da Aprosoja Brasil. Ele diz que os embarques já foram afetados pelos 11 dias da greve dos caminhoneiros, que travou o escoamento de grãos.
"Nossa soja na fazenda é mais barata que outras, mas, quando ela vai para o caminhão, encarece. Não adianta culpar só fatores externos pela dificuldade de exportar, o que segura o País é a falta de competitividade", diz Welber Barral, ex-secretário do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
Para José Augusto de Castro, da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), o aumento da instabilidade no comércio exterior já pôde ser percebido na redução dos preços de commodities, como a soja e o petróleo, na última sexta-feira, o que atinge o Brasil. Ele também avalia que o País costuma perder janelas de oportunidade por não fazer o dever de casa.
O Brasil poderia negociar o fim da barreira antidumping imposta pela China ao frango e vender mais aos chineses, para suprir o que eles deixariam de comprar dos norte-americanos, exemplifica. "Mas demora: da criação ao embarque são 90 dias. E além da questão logística, sem reformas, como a tributária, a competitividade não se sustenta."

Presidente norte-americano ameaça a ordem comercial global

Trump é levado mais a sério na Coreia do Norte

Trump é levado mais a sério na Coreia do Norte


NICHOLAS KAMM/AFP/JC/
O impacto das medidas protecionistas adotadas pelo presidente Donald Trump vai além de guerras tarifárias com aliados e adversários e representam o desmonte da ordem comercial global baseada em regras que deu impulso à globalização, ao estabelecer procedimentos claros para a solução de disputas entre países e empresas.
O abandono desse sistema deve levar à redução de investimentos em setores exportadores, menor internacionalização de companhias e redução no ritmo de crescimento global, avaliam especialistas em comércio. Em seu lugar, deve surgir um ambiente fragmentado e imprevisível, no qual o capital se sentirá menos seguro para cruzar fronteiras.
O ataque à arquitetura erguida em torno da Organização Mundial do Comércio (OMC) faz parte da ofensiva mais ampla de Trump contra a ordem mundial liberal criada sob a liderança dos EUA depois da 2.ª Guerra, que teve momentos decisivos nos últimos oito dias.
No sábado retrasado, o presidente americano chocou aliados ao se recusar a assinar a declaração das democracias industrializadas reunidas no G-7 e ao se referir ao primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, como "fraco" e "desonesto". Quatro dias mais tarde, ele repetiu elogios ao ditador Kim Jong-un e afirmou que exercícios militares entre os EUA e a Coreia do Sul são uma "provocação", mesma linguagem adotada pela Coreia do Norte.
Na sexta-feira, impôs tarifas sobre US$ 50 bilhões de importações da China, decisão vista por analistas como a declaração oficial da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Antes, Trump já havia iniciado conflitos com quase todos os aliados americanos, ao impor tarifas à importação de aço e alumínio.
"O protecionismo não é o caminho que leva à riqueza e ao desenvolvimento econômico. Se fosse, o Brasil seria o país mais rico do mundo", ironizou Gary Hufbauer, especialista em comércio do Peterson Institute for International Economics. Segundo ele, as políticas de Trump isolaram os EUA e têm o potencial de fortalecer a liderança da China.
Hufbauer acredita que a guerra comercial iniciada por Trump colocará um freio no avanço da globalização. "Talvez não haja um retrocesso, mas nós veremos menos estímulos para empresas investirem em outros países", ressaltou. "Poderemos voltar a um sistema de comércio semelhante ao que tínhamos antes da 2.ª Guerra, sem uma instituição para solução de conflitos, o que não beneficia ninguém."
Ao impor tarifas sobre aço e alumínio, Trump lançou mão da justificativa de ameaça à segurança nacional, um mecanismo raramente utilizado que, segundo os EUA, está fora do âmbito da OMC. Ao retaliarem, os países atingidos também agiram de maneira unilateral.
"O governo Trump decidiu ignorar a OMC e os outros países fizeram o mesmo", declarou o advogado Pablo Bentes, diretor-gerente para Comércio Internacional e Investimentos do escritório Steptoe. Mas a ofensiva vai além. Bentes disse que os EUA decidiram "sufocar" o sistema de solução de disputas da instituição, ao barrar a nomeação de três juízes para o seu órgão de apelação. Hoje, ele opera com quatro membros, mas o número cairá para um em dezembro de 2019, o que inviabilizará seu funcionamento. Sem a chancela do órgão, decisões da OMC não são efetivadas.
As tarifas anunciadas na sexta-feira também foram parcialmente adotadas fora das regras da organização, ressaltou Bentes. Os EUA acusam os chineses de "roubo" de propriedade intelectual e inovação, em razão da exigência de que certas empresas americanas se associem a empresas chinesas e transfiram tecnologia se quiserem atuar no país.
O ataque à ordem internacional liberal promovido por Trump coloca em risco a arquitetura que deu relativa estabilidade ao mundo e permitiu a prosperidade dos últimos 70 anos, escreveu Robert Kagan, do Brookings Institution, em artigo publicado no Washington Post. "Os aliados dos Estados Unidos estão prestes a descobrir o que unilateralismo real significa e como se expressa a hegemonia real, porque a América de Trump não se importa", afirmou. "Ela não reconhece nenhum compromisso moral, político ou estratégico. Ela se sente livre para perseguir objetivos sem respeito ao efeito sobre aliados ou sobre o mundo. Ela não tem nenhum sentimento de responsabilidade com nada além dela mesma."